É inegável que atualmente estamos vivendo um cenário de forte alta na bolsa brasileira. Este bom momento se deve a inúmeros fatores, dentre os quais podemos citar:
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O otimismo na esfera político-econômica, por meio da expectativa de aprovação das reformas em andamento, uma vez que caso sejam aprovadas, trarão vários benefícios à nossa economia; e
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Baixa taxa de juros da economia (Selic), ainda com expectativa de novas reduções nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), o que leva à maior atratividade dos investimentos em renda variável, em detrimento da renda fixa. É importante notar que esta migração dos pequenos investidores para o mercado de ações foi responsável por levar o número de investidores na bolsa ao recorde histórico de mais de um milhão de CPFs ativos (e crescendo).
De fato, em momentos como este, ocorre escassez de oportunidades excelentes na bolsa, como sempre procuramos na Suno Research. Ainda assim, é possível encontrar boas janelas de entrada em vários papéis.
Diante da menor quantidade de boas oportunidades e da sensação de forte otimismo, muitas pessoas tendem a apostar contra o crescimento, por acreditarem que “já cresceu tanto que agora a única saída é cair”.
Assim, muitas pessoas podem apostar na queda de papéis por meio da estratégia de “Short Selling”.
No Short Selling, o indivíduo toma para si alguns papéis por meio de aluguel da ação, pagando uma taxa para o locador, sendo que a taxa varia de acordo com a volatilidade e a disponibilidade de papéis para locação no mercado.
Em seguida o locatário aguarda para vender as ações, mediante expectativa de que o preço do papel irá cair, de modo que ele possa recomprá-las e devolver ao antigo dono, ficando para si com o lucro oriundo da diferença dos preços.
Exemplificando de maneira didática: Victor está alugando 200 ações que estão em sua carteira, e que são cotadas a R$ 10,00 cada uma. Alberto, por sua vez, resolve “shortear” os papéis desta empresa, vendendo as 200 ações que alugou de Victor, deste modo, Alberto passa a ter R$ 2 mil em mãos. A cotação da ação cai para R$ 7,00, de modo que Alberto pode recomprar as 200 ações no mercado para devolver a Victor, gastando apenas R$ 1,4 mil, ficando com R$ 600,00 de lucro.
Este é o cenário ótimo do Short Selling. E se der errado? O que fazer caso a cotação da ação suba para R$ 15,00 ao invés de cair como Alberto esperava? De qualquer forma, ele terá que devolver as duzentas ações que pegou emprestado no mercado. Se o fizer neste patamar, ele terá de gastar R$ 3 mil, ficando num prejuízo de mil reais. E se a ação subir para R$ 20? E se for para R$ 50?
É importantíssimo ter a consciência de que os ganhos numa operação desse tipo são limitados, ao passo que as perdas são ilimitadas. Isto é, no exemplo de Alberto, ele poderia ter ganhado no máximo R$ 2 mil (caso não utilizasse alavancagem financeira), no caso muito improvável das ações chegarem a zero. Entretanto, como a valorização das ações não tem limite, o prejuízo de Alberto também não teria.
Para exemplificar com casos reais o perigo do Short Selling, podemos trazer à cena Bill Ackman, que abriu Short para apostar contra a Herbalife.
Ackman é um investidor americano bilionário, que fundou a Pershing Square (NYSE:SQ) – uma gestora de investimentos – em 2004 e, após vários investimentos com sucesso, decidiu apostar contra a Herbalife, acreditando que o modelo de negócios dela era pautado em pirâmide. Assim, se posicionou contra a Herbalife durante cinco anos, aceitando a derrota em 2018. A perda de Ackman nesta aposta é estimada em cerca de US$ 200 milhões.
Assim, acredito que fica evidente o quão arriscado é realizar uma operação desse tipo. Ressalto que o ponto de maior importância para o entendimento do investidor é que se trata de algo com potencial de ganhos limitados, em face a perdas ilimitadas. Aproveito para lembrar o que costumo pregar: foco no longo prazo, trabalhe com os juros compostos a seu favor e não seja ganancioso a ponto de querer retornos extraordinários em um curto espaço de tempo.