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Por que "Renda Fixa" é um nome ruim?

Publicado 25.09.2024, 15:01

Vamos imaginar o mercado de títulos de renda fixa como uma grande feira, onde você pode comprar diferentes frutas. Cada fruta tem um sabor e um preço, mas, assim como na feira, o preço pode mudar com o tempo, dependendo da oferta e da demanda. Agora, a pergunta mais comum que os investidores iniciantes fazem é: "Se é renda fixa, como o preço pode mudar?". Para entender essa questão, quero conversar com vocês sobre como funcionam os títulos públicos, usando alguns exemplos simples e práticos.

O que é um título de renda fixa?

Primeiro, é importante esclarecer: o nome "renda fixa" é ruim, pois induz o investidor ao erro. Ele não significa que o preço do título é fixo, mas sim que, no vencimento, o investidor sabe quanto vai receber, ou pelo menos uma parte disso. Um título de renda fixa é como se você estivesse comprando uma promessa. O governo, por exemplo, promete te pagar uma quantia específica no futuro, em troca de você emprestar dinheiro a ele hoje. Renda fixa, portanto, é dívida e existem três tipos principais, cada um com suas características específicas: prefixados, pós-fixados e híbridos.

Imagine que você comprou uma maçã por R$ 3,00, e o feirante prometeu que, daqui a um ano, você pode trocá-la por R$ 4,00. Isso é o que chamamos de título prefixado. Você já sabe exatamente quanto vai receber no final do prazo, e o valor não vai mudar. Se você segurar o título até o vencimento, seu retorno será garantido. No mundo financeiro, isso significa que você já sabe a taxa de juros no momento da compra, e ela não muda, independentemente do que aconteça na economia.

Agora imagine que, em vez de te prometer R$ 4,00, o feirante diz que vai pagar o valor equivalente ao preço de mercado das maçãs daqui a um ano. Se as maçãs estiverem caras, você ganha mais; se estiverem baratas, ganha menos. Esse é o título pós-fixado. O valor final depende de um índice, como a taxa Selic. Se a Selic subir, você ganha mais; se cair, você ganha menos. Não há garantias sobre o valor final, mas você está protegido contra grandes variações de preços.

Por fim, temos os títulos híbridos, como o Tesouro IPCA. Imagine que o feirante te diz: "Você vai receber R$ 3,50 garantidos, mas se o preço das maçãs aumentar por causa da inflação, eu vou pagar mais." Esse título combina uma parte fixa e outra que varia conforme a inflação (medida pelo IPCA). Ele é ideal para quem quer se proteger contra a perda de poder de compra, mas ao mesmo tempo não quer abrir mão de um ganho garantido.

Agora que entendemos os tipos de títulos, vamos falar dos riscos. Mesmo que o título seja de "renda fixa", o preço pode flutuar ao longo do tempo. E isso acontece por três grandes razões: risco de crédito, risco de liquidez e risco de mercado.

O risco de crédito é o risco de que o emissor (no caso dos títulos públicos, o governo) não honre a promessa de pagamento. É como se o feirante desaparecesse. No caso de títulos do governo brasileiro, esse risco é considerado muito baixo. Afinal, o governo tem a capacidade de imprimir mais dinheiro ou aumentar impostos para pagar suas dívidas. 

O risco de liquidez, por sua vez, está relacionado com a possibilidade de você precisar vender o título antes do vencimento. Imagine que você comprou a maçã, mas precisa do dinheiro antes de um ano. Se o mercado estiver fraco e ninguém quiser comprar a sua maçã, você pode ter que vendê-la por um preço menor do que pagou. Esse é o risco de liquidez. No caso dos títulos do Tesouro Direto, o governo se compromete a recomprar seus títulos, o que diminui muito esse risco. Mas em títulos privados, como debêntures, pode ser difícil encontrar compradores.

O maior risco, porém, é o risco de mercado. Aqui, entra uma relação que muitos acham contraintuitiva: quando a taxa de juros sobe, o preço dos títulos cai. Isso acontece porque os títulos antigos, que pagam uma taxa menor, se tornam menos atrativos em comparação aos novos, que pagam mais. Voltando à analogia da feira, é como se o feirante começasse a vender maçãs por R$ 2,00. A sua maçã, que você comprou por R$ 3,00, agora parece cara, e você teria que vendê-la com desconto para encontrar um comprador.

A relação entre preço e tempo

Um conceito fundamental em títulos de renda fixa é que o preço do título tende a se aproximar de seu valor final à medida que o vencimento se aproxima. Ou seja, mesmo que o preço caia no curto prazo por causa de uma alta de juros, com o passar do tempo ele vai subir, porque, no final, o governo tem que te pagar o valor prometido. Portanto, quanto mais tempo você segura o título, menos volátil ele se torna. Com esse entendimento, você pode chegar às seguintes conclusões:

  • Prefixados: São mais simples e garantem um retorno fixo, mas sofrem com a inflação e com a alta de juros.

  • Pós-fixados: Acompanham a taxa de juros e são mais seguros no curto prazo, mas podem ter pequenas variações de preço.

  • Híbridos: Protegem contra a inflação, mas têm flutuações maiores do que os pós-fixados.

Então, se você está pensando no curto prazo e quer segurança, os títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic, são a melhor escolha. Já se seu objetivo é a longo prazo e você quer proteger seu patrimônio da inflação, os títulos híbridos são mais indicados. Agora, se você prefere saber exatamente quanto vai ganhar, os prefixados podem ser uma boa escolha, mas você corre o risco de perder poder de compra se a inflação disparar.

O nome é ruim, mas qual seria melhor?

Em resumo, penso que um nome melhor seria “Renda Programada”, pois sugere que os retornos seriam programados (acordados), como no exemplo da feira, considerando que, como vimos, a renda fixa não é "fixa" quanto parece. Se você for paciente e entender os riscos, os títulos de renda “fixa” podem ser uma excelente ferramenta para diversificar seu portfólio.

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