Publicado originalmente em inglês em 19/9/2019
Os ataques às instalações da Aramco em Abqaiq e Khurais atraíram muita atenção dos mercados de petróleo nesta semana, principalmente porque comentaristas geopolíticos exageraram nas consequências estimadas, prevendo o pior cenário ou até mesmo incitando uma guerra. Os especialistas em segurança e geopolítica, que geralmente nada sabem sobre os mercados e a produção de petróleo, insistiam que os ataques afetariam o abastecimento mundial de petróleo e a economia global por vários meses. Eles estavam errados.
No entanto, vale a pena aprender com esse evento, já que ele ressalta a importância de ser preciso na linguagem da indústria petrolífera e de compreender o que alguns termos-chave significam para o mercado.
Capacidade vs. Produção
Ao discutir o prazo necessário para reparar as instalações de Abqaiq e Khurais, muitos analistas se confundiram ao usar os termos “capacidade” e “produção”. A Aramco possui a maior capacidade do mundo, estimada em 12 milhões de barris por dia (mbpd) neste momento. A capacidade se refere ao volume máximo de petróleo que uma empresa consegue bombear por dia se empregar os recursos necessários. Mesmo em circunstância normais, a Aramco precisaria de um prazo três meses para alcançar sua capacidade de 12 mbpd.
A produção se refere à quantidade de petróleo que a empresa está bombeando no momento. Antes dos ataques, a Aramco estava produzindo 9,8 mbpd. Sua cota na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) é de 10,3 mbpd. Após um dano tão sério como o ocorrido no fim de semana passado, é normal realizar primeiro os reparos para retomar parcialmente a produção e depois realizar reparos para voltar à produção total, podendo eventualmente atingir a plena capacidade.
A Aramco reduziu sua produção em 5.7 mbpd depois do ataque, porque toda a instalação de Abqaiq foi fechada e parte do campo de Khurais foi danificada. A empresa informou que metade dos 5,7 mbpd produzidos foi retomada na segunda-feira e esperava restaurar a produção de 9,8 mbpd até o fim de setembro. A retomada de 11 mbpd de capacidade deve ocorrer até lá e de 12 mbpd até novembro.
Produção vs. Fornecimento
O termo “produção” também é geralmente confundido com “fornecimento”, mas não se trata da mesma coisa. Ao contrário da produção (explicada acima), o fornecimento se refere ao petróleo disponibilizado ao mercado. Ocorre, no entanto, que as empresas às vezes produzem petróleo, mas simplesmente o deixam armazenado. De acordo com Amin Nasser, CEO da Aramco, a empresa possui 60 milhões de barris de petróleo em estoque, embora uma firma externa de dados de satélite tenha registrado que a Aramco deve ter até 73,1 milhões de barris de petróleo estocados na Arábia Saudita.
O petróleo estocado não se torna parte da oferta mundial. Além disso, uma parte desse petróleo sempre é usada para o abastecimento doméstico e, em muitos casos, como ocorre com a Aramco, o petróleo de uso doméstico não é vendido no mercado aberto.
O petróleo disponibilizado ao mercado aberto geralmente é o mais relevante por causa do seu valor real. A Aramco queria manter o fornecimento enquanto a produção estava parada depois dos ataques deste fim de semana. Orgulhando-se dos 99% de confiabilidade dos seus clientes, a companhia recorreu ao estoque e acionou outras linhas de produção para garantir que não deixaria de fazer as entregas a seus clientes. Assim, a oferta de petróleo ao mercado aberto não foi afetada em grande medida, apesar da queda nos números de produção.
Efeitos da Recomposição dos Estoques
Os especuladores geralmente dão mais atenção ao termo "produção". Em parte, isso se deve ao fato de que os números de produção são mais fáceis de obter do que os números de oferta. Por exemplo, a Opep fornece números de produção e também controla a produção dos países membros. Como os números de produção parecem cativar a maioria dos especuladores, é importante que os traders os acompanhem. É nesse ponto que os ataques podem pressionar um pouco para baixo os preços do Brent nos próximos meses.
Enquanto a Aramco realiza os reparos necessários, utiliza o estoque para abastecer seus clientes. Por vários meses antes desses ataques, a Aramco fazia retiradas de estoque de petróleo para atender a demanda dos clientes, enquanto mantinha a produção baixa para honrar os compromissos assumidos com a Opep.
A expectativa é que a Aramco produza mais petróleo, em um esforço de restabelecer seu estoque, um componente vital da estratégia da companhia. Precisamente por essa razão, a empresa recomporá seu estoque perdido o mais rápido possível. Se isso acontecer, os especuladores reagirão ao aumento de produção (mesmo que ela não chegue ao mercado) e podem empurrar o preço da commodity levemente para baixo.