Estamos em plena temporada de resultados do segundo trimestre de 2018 das empresas listadas na Bolsa de Valores. As seguintes notícias são muito comuns nos grandes portais:
“Ações da Localiza (SA:RENT3) em queda de 3,5% depois de resultado mais fraco afetado pela greve dos caminhoneiros e copa do mundo”.
“Ações da Ambev (SA:ABEV3) em alta de 5% após resultado mais forte que o esperado, com ganho de market share no segmento de cerveja”.
Mas qual a razão desta oscilação no preço das ações quando sai um resultado? A resposta é meio óbvia, mas as ações sobem quando o resultado é mais forte do que o esperado e caem quando o resultado é inferior às expectativas.
Tudo na vida é a gestão de expectativas, e uma definição de felicidade é simples: “quando a realidade supera as expectativas”.
Consenso de mercado
O consenso de mercado é o conjunto de projeções para o resultado de uma empresa, como por exemplo lucro líquido. Quando o resultado de uma empresa vem muito diferente do esperado, o mercado revisa (para cima ou para baixo) a projeção futura do resultado, como por exemplo o lucro líquido.
Existe uma expressão no mercado financeiro: earnings momentum, que quer dizer quando os resultados de uma empresa estão em crescimento ou em declínio. Existem empresas que por vários trimestres consecutivos entregam resultados superiores ao esperado, como a Amazon (NASDAQ:AMZN) e o Google (NASDAQ:GOOGL). Assim, pode-se dizer que as empresas de tecnologia americanas estão com um bom earnings momentum.
O valor das empresas aumenta quando as projeções de lucro são revisadas para cima após resultados acima das expectativas.
Múltiplo EV/EBITDA
Como eu já expliquei em outras colunas, um dos múltiplos mais utilizados no mercado financeiro é o indicador EV/EBITDA, um dos múltiplos de avaliação de empresas mais utilizados.
O EV é o valor da empresa (enterprise value), uma medida de valor econômico que é usada com frequência para determinar o valor de um negócio no caso de uma fusão e/ou aquisição. O EV é a soma do valor de mercado com o endividamento líquido da empresa.
O valor da empresa oscila conforme a perspectiva de geração de caixa (EBITDA) e qual o múltiplo EV/EBITDA que o mercado está disposto a pagar por determinada empresa.
A mineradora Vale (SA:VALE3) sempre foi comparada com os grandes players globais de minério de ferro e as suas ações historicamente sempre negociaram com grande desconto em termos de múltiplo EV/EBITDA.
Desconto histórico nas ações da Vale
O principal motivo para este desconto nas ações da Vale em relação às concorrentes globais é que a Vale possuía duas classes de ações negociadas na bolsa (ON e PN) pelo fato de o governo brasileiro ser o principal acionista da Vale.
O fato de a Vale ter duas classes de ações tornava mais difícil a análise do investidor estrangeiro ao comparar as duas (ON e PN) com as grandes mineradoras globais que têm somente um tipo de ação. Assim, a percepção de risco em relação ao investimento na Vale era maior do que nas empresas similares pelo mundo.
Em 2017, a Vale finalmente unificou as duas classes de ações e somente as ações ordinárias (ON) passaram a ser negociadas.
O que é re-rating?
Esse movimento provocou um “re-rating” da ação da Vale, pois o investidor estrangeiro passou a ter mais facilidade de comparar as ações da Vale com as outras mineradoras globais e, consequentemente, diminuiu a percepção de risco sobre as ações da Vale.
Um “re-rating” de uma ação quer dizer uma melhora na classificação de risco de uma empresa e, por consequência, uma disposição de pagar um múltiplo P/L mais alto pelas ações.
As ações da Vale acumulam alta de cerca de 80% nos últimos 12 meses. Uma parte desta alta é devido ao evento de unificação das ações e o chamado “re-rating” da ação.
A agência de risco Moody's elevou a nota da Vale para Grau de Investimento, reflexo da melhora na geração de caixa, redução do endividamento e possibilidade de aumentar o pagamento de dividendos.
Tendo isso em vista, o melhor dos mundos para os investidores em termos de retorno é uma empresa que tem lucros crescentes (earning momentum) e com possibilidade de melhora de classificação de risco (re-rating).