Mergulhando a fundo nas premissas divulgadas pela empresa nesta semana e calibrando, com base nelas, meu valuation da Oi (SA:OIBR3), entendo que a queda nas ações não se justifica com base nos números informados e tem um componente forte de fluxo, seja de desmontagem de posição de algum investidor grande ou pelo comportamento de manada.
A grande pergunta que o investidor sempre tem que fazer nos momentos de queda acentuada numa ação é: qual o potencial de valorização estimado para as ações? Este potencial vale o risco – sempre existente – de permanecer, ou até mesmo aumentar ou iniciar um investimento?
Nessa segunda-feira (19), a Oi (SA:OIBR4) divulgou seu plano estratégico e suas estimativas para o triênio de 2022 a 2024. Nos dias após a divulgação, as ações da empresa tiveram forte queda.
O motivo principal do descontentamento do mercado foi a divulgação pela empresa do indicador projetado de dívida líquida/Ebitda para 2024 que ficou alto em 6,6 vezes, sugerindo um consumo de caixa maior do que o que muitos analistas previam para a Client Co. Considerando a Infra Co, este indicador cai pela metade.
Algumas coisas importantes talvez não estejam sendo bem consideradas pelo mercado:
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A Oi está investindo muito e pagando pendências financeiras, o que naturalmente consumirá caixa nos próximos anos. No entanto, se esticarmos o valuation após 2024, que foi o último ano apresentado pela empresa nas suas projeções, podemos observar que o investimento e o consumo de caixa cai muito em relação à receita auferida de 2025 em diante, melhorando significativamente a projeção de caixa. O erro aqui é semelhante a avaliar, por exemplo, uma hidrelétrica considerando apenas o horizonte de tempo do investimento alto para sua construção, enquanto sabemos que ativos desta natureza apresentam alto capex inicial para ter retorno nos próximos 30 anos ou mais. Em casos de capex intensivo na construção de algo, qualquer analista sabe que precisamos aumentar o valuation e aí sim veremos o real potencial do negócio.
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A Infra Co é a joia da coroa! A empresa, que venderá infraestrutura neutra de fibra no atacado para outras operadoras, na qual a Oi tem 42% de participação, deve nascer com um ativo líquido de mais de R$20 bilhões, que reflete quase 90% dos altíssimos investimentos realizados pela Oi nos últimos anos. Apenas nos últimos dois anos a Oi investiu mais de R$15 bilhões, a maior parte em fibra, o que se compara ao seu valor de mercado atual de menos de R$8 bilhões.
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A Oi está em um processo de arbitragem com a Anatel, o que pode, segundo ela, render muitos bilhões, tanto em reparação por perdas na concessão, como por eliminação de gastos que não fazem mais sentido nos dias atuais, como a manutenção de “orelhões” e outras obrigações. Além disso, a lei para migrar de concessão para autorização está sendo feita e trará novidades nesse assunto.
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O valor enorme do crédito fiscal que inúmeros anos de prejuízo acumulado possuem não está na conta do mercado, em minha opinião. Se a Oi de fato se sair bem na sua transformação, provavelmente terá redução ou não pagará imposto por um bom tempo se conseguir aproveitar bem estes créditos fiscais. Isto é um ativo importantíssimo e valioso.
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Carteira de clientes: Vejo startups sendo avaliadas em muitos e muitos bilhões, baseado na premissa frágil de que tem uma base de contatos interessante. Bem, baseado nisso, a Oi tem mais de 50 milhões de clientes em sua base total hoje e mesmo com a saída da unidade móvel, a base de clientes permanece superior a 10 milhões. Você já imaginou quantos serviços podem ser oferecidos para monetizar esta base? Sim, isto está nos planos da empresa. Além disso, a capilaridade geográfica da empresa e força da marca é algo a se considerar.
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Importância estratégica da fibra ótica: Enquanto algumas commodities, como o Petróleo, tem seu valor questionado em meio a substituição por fontes mais “ESG” e sustentáveis, como energia elétrica, nuclear e tantas outras fontes, a commodity “dados e velocidade” será cada vez mais e mais importante em nossa vida, ainda mais com chegada do 5G, que já tem data marcada (o Brasil está atrasado nisso, pra variar). A Oi vai ter uma escala e infraestrutura incomparáveis e irreplicáveis sem muito investimento para oferecer esta commodity que será tão almejada nos próximos anos.
Por fim, meu valuation aponta um grande valor, o qual está principalmente concentrado na Infra Co, para o qual a própria empresa apresentou uma estimativa que pode valer mais de R$50 bilhões, o que faria com que a parte da Oi de 42% valesse mais de R$20 bilhões, fazendo a empresa parecer atrativa já que isto é 150% a mais do que o seu valor de mercado atual, de apenas R$8 bilhões.
Esta coluna não é uma recomendação de investimento.