Nós, da Suno, recomendamos uma série de ativos financeiros: empresas pagadoras de dividendos, com potencial de ganho de capital, small caps, internacionais, FIIs, fundos de investimento e ETFs. Além disso, existem planos para futuramente indicar outras classes de investimentos. No entanto, algo que você nunca me viu indicar e muito dificilmente verá é vender uma empresa a descoberto.
Mas o que é vender a descoberto - ou shortear - uma empresa?
Suponha que você identificou ações que estão supervalorizadas, ou seja, negociadas muito acima do que você acredita ser o valor intrínseco da mesma. Você deseja vender na alta e comprar na baixa. Mas como vender uma ação que você não possui? ‘Shorteando’.
Para vender a descoberto alguma ação, você deve pegar emprestado do portfólio de outro investidor, por meio do aluguel de ações, vende-las e esperar que o preço da ação caía para que você compre depois por menos do que vendeu, devolver para o investidor e lucrar com a diferença.
Mas se é tão simples assim, por que eu não recomendo? Porque, na prática, não é tão simples assim. E, se os preços das ações subirem, você terá de recomprá-las por mais do que você vendeu. Sendo assim, você possui um ‘upside’ limitado (uma ação só pode cair 100%) e um ‘downside’ infinito (teoricamente falando, a ação não tem limites para subir).
Além disso, existem custos e taxas a serem pagos. O investidor que tomar as ações emprestadas terá de arcar com juros de empréstimos para as corretoras (o outro investidor, que emprestou a ação, recebe por isso) e reembolsar todos os dividendos.
Dessa forma, empresas boas pagadoras de dividendos ou empresas muito demandadas por vendedores a descoberto são mais caras.
Outro fator que faz com que eu não recomende ‘shortear’ empresas é o fato de que, no curto prazo, as oscilações de preços serem totalmente aleatórias. No entanto, isso não impede o mercado e as ações supervalorizadas de permanecerem irracionais por muito tempo, e até se valorizarem mais, especialmente em um bull market.
Sendo assim, o investidor terá que acertar o marketing timing, o que, devido as milhares de variáveis que englobam o preço da ação no curto prazo, não é algo fácil de se fazer – para não dizer impossível.
O terceiro motivo chama-se custo de capital. O ‘short seller’ não possui dinheiro infinito. Se ele está vendendo uma ação a descoberto, significa que não pode investir aquele dinheiro em outro ativo. E sabemos que, historicamente, o investimento em ações com foco no longo prazo se mostrou ser a melhor opção de investimento, e, portanto, deveria ser o destino de grande parte de seu dinheiro.
Mas se você não acredita em mim, aqui vai um exemplo para você, onde os riscos de vender a descoberto foram dramaticamente ilustrados.
O ano era 2008 e, dada as diversas dificuldades que a indústria automobilística vinha enfrentando, muitos investidores decidiram entrar short nas ações da Volkswagen, com a expectativa de recomprá-las depois por um preço menor.
Pouco tempo depois, em um anúncio que surpreendeu a todos, a Porsche revelou que tinha adquirido 74% das ações da VW. Como outros 20% da companhia pertenciam ao estado da Baixa Saxônia, não havia ações suficientes negociadas em bolsa para os ‘short sellers’ recomprarem.
Enquanto se esforçavam para fechar suas posições, por conta da velha lei da oferta e demanda, o preço da VW subiu em apenas dois dias de € 209 euros para € 1005, patamar em que colocava a VW como a empresa mais valiosa do mundo.
Mesmo que o preço das ações tenha caído rapidamente, os vendedores a descoberto que foram apanhados pelo ‘short squeeze’ sofreram grandes perdas.
Resumindo, não estou dizendo que vender a descoberto não traz ganhos. Diversos fundos de investimentos realizam essas estratégias e são bem-sucedidos. Além do mais, os short sellers possuem um papel importante no mercado financeiro, pois ajudam a identificar fraudes e oferecem uma forma adicional de rentabilizarmos as ações de nosso portfólio.
As fraudes da Enron e da Valeant, dois famosos escândalos americanos sobre os quais recomendo que você pesquise, foram descobertos por vendedores a descoberto.
O que quero dizer é que, para o investidor pessoa física, não vejo isso como uma boa prática por conta: a) dos custos e riscos; b) conhecimento técnico extremamente necessário; c) possibilidade de investir seu dinheiro em ações visando o longo prazo, com maior upside e menor risco. Foque seu tempo e energia nas poucas coisas que te darão grandes resultados.