Esses dias estava assistindo uma das poucas mas maravilhosas entrevistas do Luiz Alves Paes de Barros - investidor há seis décadas e sócio da asset Alaska. Como não poderia deixar de ser, fiquei ainda mais admirado com sua capacidade de "pensar em segundo nível" - um dos atributos essenciais para se obter sucesso no mercado financeiro, segundo Howard Marks, em seu livro O Mais Importante para o Investidor.
"Vá na contramão de tudo e de todos. Se o mercado está eufórico, é hora de vender. Se está preocupado é hora de comprar", disse Luiz Alves. Não por acaso, o raciocínio transcreve uma das famosas frases do mercado: "Compre ao som dos canhões, venda ao som dos violinos".
Não há coincidência no fato de Luiz ser bilionário. Na verdade, trata-se de uma soma de fatores.
A idade do Luiz ajuda. Há um ditado que diz que o diabo não é sábio porque é o diabo, mas porque é velho. A curva de aprendizagem que o tempo proporciona é absolutamente fundamental para o sucesso. Além do mais, a economia mundial cresce, e com ela, as empresas. Petrobras (SA:PETR4) cresceu 6.000%, Vale (SA:VALE3), 12.000% e Bradesco (SA:BBDC4), 82.000%, todas nos últimos 27 anos. Os dados são do início do plano Real, se voltássemos mais ainda no tempo, os resultados seriam ainda mais impressionantes.
Luiz começou cedo. Tempo é a única coisa que o dinheiro não compra. Portanto, quanto antes você puder começar ou ensinar educação financeira ao seu filho, mais rápido o milagre dos juros compostos se manifestará.
Ele passou a vida estudando exaustivamente para tentar entender a diferença entre o PREÇO e o VALOR de centenas de ativos até encontrarem o Santo Graal do investidor de valor: uma empresa barata e excelente em todos os aspectos qualitativos, para se carregar posição por décadas, até seus fundamentos se perderem ou aparecer outra ainda melhor. O tempo médio que Berkshire Hathaway (NYSE:BRKa), do bilionário Warren Buffett, mantém uma empresa na holding é de 20 anos.
E por fim, ele também acredita profundamente na sua intuição sem se deixar influenciar pelo sell side. Esse último ponto merece especial atenção. Luiz Alves olha para Vale da mesma forma que Buffet, por exemplo, encara Bank of América.
O primeiro sabe que o Brasil é e será por muito tempo, "apenas" um grande exportador de commodities. Nas últimas décadas houve oscilações brutais no preço do minério, guerras comerciais e até catástrofes ambientais, momentos em que boa parte dos bancos, corretoras e mídia especializada davam call de venda.
O segundo entende que não há nada mais forte do que o sistema financeiro norte-americano (never bet against America). Nos EUA, em 1971, quando o presidente Richard Nixon abandonou o padrão ouro, ou em 2008, durante as crises dos subprimes e a quebra do Lehman Brothers, muitos acreditavam que o sistema financeiro todo iria colapsar. Short USA, dizia o sell side.
Fato é que, além da convicção, muitas vezes quando perguntam para um deles o porquê de terem escolhido determinado ativo, simplesmente respondem, "porque sim!" É algo quase metafísico, difícil de se explicar para quem ainda não fez bodas de ouro com o sr. Mercado.
A moral da história aqui é que você só vai conseguir fazer parte dos poucos mais de 15% de investidores que não abandonam a bolsa com prejuízo nos primeiros 2 anos se tentar entender como o "jogo" funciona. O que (e quem) faz uma ação subir ou cair, quais as métricas de VALOR, como a economia e seus ciclos funcionam. E mesmo tendo um pouco de domínio sobre esses aspectos e investindo de forma metódica, cedo ou tarde virá um bear market.
E esse período mostrará quem você é. Afinal, você pode estudar, se aplicar, entender profundamente como um grande investidor pensa a ponto de achar que tem a sua cabeça. Mas ter o estômago de um grande investidor, nenhum livro te ensinará.