Inflação americana atingindo o maior pico em 40 anos, Federal Reserve (Fed, o banco central americano) trazendo claros indícios de que poderá acelerar a alta nos juros e resultados corporativos pressionados. Parece um cenário nebuloso para as empresas de crescimento nos Estados Unidos, não é mesmo? Pois bem, não para a menina dos olhos de Elon Musk, a Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34).
A Tesla, mais uma vez, entregou um forte crescimento em seus resultados do primeiro trimestre de 2022. Impulsionada pela alta na entrega de veículos e um aumento no preço médio de venda, a receita da companhia atingiu 18,75 bilhões de dólares no trimestre, o que representa uma elevação de +81 por cento em comparação com o mesmo período do ano anterior.
O crescimento não para por aí. O Ebitda (indicador que mede o potencial de geração de caixa operacional) da fabricante de carros elétricos alcançou a marca de 5 bilhões de dólares — um crescimento de +173 por cento.
Ao olharmos para o lucro, o número surpreende ainda mais e mostra a eficiência da empresa: alta de +658 por cento com seus 3,32 bilhões de dólares de resultado líquido ou 2,86 dólares por ação (+633 por cento).
Indicadores e resultados trimestrais. Fonte: Tesla
Tesla supera estimativas após repassar alta da inflação
Mesmo em meio à crise no mercado automotivo ao redor do mundo, com a escassez de chips semicondutores e aumento nos preços de matéria-prima para a fabricação, a Tesla conseguiu repassar os custos aos seus clientes e ao mesmo tempo viu a demanda por seus veículos continuar aquecida no trimestre.
Ao todo, foram produzidas 305 mil unidades (14 mil Model S/X + 391 mil Model 3/Y), representando uma alta de +69 por cento em relação aos 180 mil fabricados no primeiro trimestre de 2021. Os números mostram que, mesmo com a paralisação das operações da fábrica da empresa na China devido a um surto de Covid-19, o ritmo se mantém acelerado. Ainda no trimestre, foram entregues 310 mil veículos (+68 por cento vs. 1T21).
Ainda falando sobre suas fábricas, a Tesla acabou de inaugurar duas novas megafábricas (ou Gigafactories, como Musk gosta de chamar) para aumentar ainda mais a produção e a entrega de seus veículos - uma no Texas (EUA) e outra em Berlim (Alemanha). Agora, a companhia possui 4 fábricas: a da Califórnia, que atualmente produz todos os modelos da marca; a de Xangai, que fabrica os Models 3 e Y; a de Berlim, que produz o Model Y e a do Texas, que atualmente fabrica apenas o Model Y, mas que no futuro será a responsável pela fabricação das picapes elétricas (Cybertrucks).
Aumento na demanda
O que chama a atenção é o fato de que o crescimento da demanda por veículos elétricos em todo o mundo e os movimentos realizados pela Tesla para supri-la nos últimos anos vêm fazendo com que a empresa ganhe ainda mais espaço no mercado automotivo mundial.
Olhando somente para os Estados Unidos e Canadá, a companhia já rompeu a marca de 2,5 por cento de market share de veículos nesses países e também vem se aproximando dos 2 por cento na Europa e na China.
Market share de veículos Tesla. Fonte: Tesla
Concorrência no setor de carros elétricos
É inegável que, ao pensarmos em carros elétricos, a marca Tesla seja a primeira a vir à mente. Porém, tendo em vista o contínuo aumento da procura por esse tipo de veículo e o crescimento da companhia, concorrentes estão surgindo por todo o globo, sejam eles novas empresas que estão sendo criadas (principalmente em países asiáticos), sejam grandes montadoras, como General Motors (NYSE:GM) (SA:GMCO34), Toyota Motor Corporation ADR (NYSE:TM) (SA:TMCO34) e Bayerische Motoren Werke (ETR:BMWG), que estão aumentando o seu portfólio com esses automóveis.
Cabe aqui destacar um fato curioso divulgado no último release da Tesla. Quem é fã de futebol americano sabe que o Super Bowl (final da liga) é um dos eventos esportivos mais aguardados no mundo e os comerciais que passam nos intervalos são os mais caros e disputados pelas empresas — em média, pagam a bagatela de 6,5 milhões de dólares para divulgarem seus produtos e serviços em míseros 30 segundos nas TVs americanas.
Neste momento, você deve estar se perguntando o quanto a Tesla gastou em comerciais para ter até divulgado um dado relacionado ao Super Bowl em seus resultados. Na verdade, a companhia gastou o total de ZERO dólar para se promover no evento e, mesmo assim, viu os seus pedidos saltarem no dia seguinte (14 de fevereiro). Isso aconteceu principalmente pelo fato de que suas principais concorrentes no setor adquiriram esses segundos milionários e gastaram parte deles para “atacar” a líder de veículos elétricos.
No final, o plano das montadoras não teve o resultado esperado e elas viram o interesse pela Tesla crescer após os seus comerciais. Mais um touchdown para Elon Musk, que, junto ao Los Angeles Rams (vencedor do Super Bowl), saboreou o gosto da vitória ao final do jogo.
Pedidos por veículos Tesla. Fonte: Tesla
Mas voltando para a análise… e as ações da Tesla?
Os papéis da companhia já subiram mais de +2.600 por cento nos últimos três anos, acompanhando os fortes resultados que estão sendo entregues neste período.
Ao olharmos para o histórico de lucro da Tesla, vemos que os resultados positivos só começaram a vir a partir do segundo trimestre de 2020 — ou seja, até então a empresa registrava apenas prejuízo.
O investidor que olhasse apenas para os múltiplos estratosféricos, negociados pela companhia um tempo atrás (cerca de 1.000x lucros), perderia o interesse de se tornar seu acionista.
Porém, vale destacar que empresas de crescimento tendem a apresentar números mais elevados do que a média do mercado e nem sempre isso quer dizer que suas ações estão caras. Ao mesmo tempo que os papéis da Tesla se valorizaram em um passado recente, os resultados da empresa também cresceram de maneira expressiva e os seus múltiplos estão sendo reduzidos.
Mesmo assim, o mercado ainda precifica um forte crescimento que a Tesla precisa entregar nos próximos anos, e suas ações negociam atualmente a 190x lucros.
Então, mesmo com os bons números apresentados nos últimos trimestres, nosso analista aponta que o investidor tem que se atentar a isso e ao fato de que, com a iminente alta nos juros dos Estados Unidos, os papéis de empresas de crescimento tendem a sofrer mais do que a média no curto prazo. Mas, no longo prazo, as cotações das empresas seguem os resultados.
Cotação TSLA x lucro por ação. Fonte: Bloomberg
E você? Pretende investir em ações de empresas de crescimento?