Esta é uma pergunta interessante de se fazer neste momento. Isto porque vimos recentemente várias sanções sendo aplicadas ao governo russo, ao sistema financeiro, os oligarcas locais e agora aos bancos de uma maneira mais generalizada com a incapacitação de envio de recursos através do sistema SWIFT, serviço de padronização de mensagens e informações financeiras.
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Com tantas sanções, já vemos localmente a população sentindo na pele a desvalorização da moeda. Temos mais de 30% de queda do rublo frente ao dólar e agora, portanto, o risco de uma estagnação econômica é evidente, somado ainda a um temor inflacionário e, por fim, um juros que já saltou de 9,5% para 20% em apenas uma semana.
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Mas e as tais reservas russas? Elas não impediriam esse movimento econômico de recessão e, no curto prazo, poderiam até aliviar a pressão da sua moeda, além de criar uma segurança para a população visto que o volume total é de mais de US$ 630 bilhões guardados para esses “momentos”?
Ocorre que, para se ter uma ideia, cerca de US$ 300 bilhões foram congelados pelos EUA, União Europeia, Reino Unido e o Canadá. Isso mesmo. Quase metade de toda essa reserva ficou inutilizável por parte dos governos ocidentais.
Mesmo assim é muito dinheiro! Tudo bem, sabemos bem disso. O grande ponto aqui é que a Rússia enfrentará um problema muito maior do que a simples solvência e a segurança de seus ativos. O risco que devemos falar hoje é o risco de liquidez!
Todos sabemos que dentro do mercado existem riscos diversos para os seus players. Exemplo disso é o risco de crédito, risco soberano, risco não diversificável etc.
Mas, um desses vilões promete ser implacável com Putin nos próximos meses, e é este o ponto nesta conversa.
O que é esse risco de liquidez?
De uma maneira bem simples, ele se refere ao risco que um ativo tem de não ser vendido no mercado sem incorrer em perdas.
Dito isto, a grande questão neste momento é: quem iria ou irá comprar ativos russos, ainda mais pela questão “moral” e “ética” por tudo o que está acontecendo?
E esse é o grande problema. Os ativos russos têm uma solvência razoável. Inclusive a Rússia “disputa” ou disputava com o Brasil os generosos volumes advindos do mercado externo para alocações em ativos em renda fixa e na bolsa de valores. Afinal de contas, estamos falando da 11º maior economia do mundo, justamente uma posição à frente do Brasil.
Nesta linha, entende-se que qualquer grande portfólio global que tenha ativos russos neste momento não conseguirá dar saída aos papéis. Ao mesmo tempo, esses serão reavaliados pela marcação a mercado e ainda pior, as novas emissões por parte do governo não serão mais bem quistas e vistas como anteriormente.
Isso implica em uma emissão mais “vantajosa” ao comprador deste ativo visto que ele tem um risco agregado ao papel e, naturalmente, isso significa dizer aumento dos juros pagos pelo governo para gerar atratividade. Isso explica um pouco o ajuste de política monetária feito na última semana.
Agora pense nas empresas que estão sendo negociadas na bolsa. Neste momento, elas têm baixa atratividade, além de anúncios de que vários conglomerados financeiros já admitiram retirada de suas Joint Ventures em relação a participação dentro das empresas Russas. Com isso, a bolsa da Rússia acumula uma queda de mais de 30%. Isso porque as operações foram suspensas já pelo quarto dia consecutivo.
Porém, podemos entender a extensão do problema nas empresas que possuem negociação em outros mercados, como, por exemplo o Bank of Russia, que é o maior banco russo e já acumula queda de mais de 80%.
Outro bom exemplo é o ETF listado nos EUA que rastreia as ações russas: o VanEck Russia (NYSE:RSX), que acumula queda de mais de 42%.
Mas, você pode estar se perguntando neste momento: eles não previram isso?
Mesmo que você faça uma precificação correta, além de estabelecer uma estrutura analítica para cálculos de riscos, otimização de capital e a mediação de eventos e liquidez para o mercado, nada lhe prepara para uma guerra como essa, sem prazo e que conta agora com um apoio massivo global.
Outro ponto importante que não está nessas variantes são as duras sanções econômicas impostas pelo Ocidente. De fato, a suspensão do Swift foi algo inesperado.