Por Clement Thibault
A Kraft Heinz (NASDAQ:KHC) nasceu e em outubro de 2014 quando a Kraft Food foi adquirida pela Heinz Holding Corporation. A companhia resultante da fusão é uma das líderes do setor alimentício do mundo. Ela compete com a Mondelez Internacional, General Mills e Kellogg. A empresa deverá divulgar amanhã após o fechamento do mercado um lucro por ação (LPA) de US$ 0,87 e receita de US$ 6,75 bilhões.
A PepsiCo (NYSE:PEP), multinacional norte-americana fundada em 1898, é especializada em lanches e bebidas. A companhia disputa por mercado com a Coca-Cola, Dr. Pepper Snapple Goup e Mondelez. Ela também apresenta seus resultados amanhã, antes da abertura do mercado. A expectativa é que o LPA seja de US$ 1,16 com receita de US$ 19,6 bilhões.
As duas companhias construíram impérios alimentícios globais e produzem uma série de produtos bastante conhecidos e detém marcas identificadas globalmente, diversas delas consumidas frequentemente, até mesmo diariamente.
A Kraft Heinz possui marcas como queijos Philadelphia, ketchup Heinz, molhos Quero, Kool-Aid e carnes da Oscar Mayer. A PespiCo tem em seu portfólio a Pepsi, 7Up, Quaker, Gatorade, Cheetos, Lays e Doritos.
As duas empresas produzem e vendem produtos de consumo básicos, tão essenciais que os consumidores possivelmente não param de comprar mesmo quando há uma crise econômica, o que as torna companhias seguras de se investir. Estando ambas tão bem estabelecidas, ainda são bons ativos para se investir?
PepsiCo: Algo para todo mundo
A Pepsico se empenhou bastante nos últimos anos para adaptar seu portfólio de marcas para refletir melhor as demandas dos consumidores. A última aquisição da companhia, por cerca de US$ 200 milhões, anunciada em novembro, foi a KeVita, produtora de bebidas gasosas probióticas. A KeVita se juntou à família de marcas da PepsiCo que pende na direção de uma maior consciência de consumo saudável nos últimos anos.
De fato, a atenção às opções de comidas mais saudáveis fez com que a PepsiCo atualmente divida seu portfólio de marcas em três partes: “Bom para Você”, “Melhor para Você” e “Divertido para Você” – do inglês, respectivamente, "Good for You", "Better for You", and "Fun for You" – e a parte divertida, como você deve ter imaginado, inclui a maior parte da área menos saudável como a batata Lays e a própria Pepsi. Entretanto, em meio ao crescimento da consciência dos consumidores, regulação governamental sobre o consumo de bebidas açucaradas e campanhas públicas para redução do consumo de bebidas açucaradas, o foco da PepsiCo em bebidas e lanches mais saudáveis e mostra a iniciativa – e habilidade – da empresa em evoluir e mudar de acordo com a tendência do consumo.
Geograficamente, a oportunidade de crescimento da PepsiCo inclui os países em desenvolvimento. Neste momento, a América do Norte representa 58% da receita, mas a América Latina tem sido a principal área de performance em 2016 até o momento, mostrando crescimento orgânico de 10% nos primeiros nove meses do ano. O crescimento da PepsiCo na América Latina, contudo, foi apagado pela venda das operações na Venezuela por causa de regulação do governo local.
Ainda assim há motivos para otimismo. No mesmo período, os negócios na Ásia, Oriente Médio e Norte da África apresentaram crescimento orgânico de 5%. Os países em desenvolvimento geralmente fazem a transição entre a falta de comida para época de prosperidade, na qual o consumo de comida por lazer – principal negócio da PepsiCo – se transforma na norma.
Com sua presença promissora na Ásia, Oriente Médio e África e um portfólio crescente de marcas de comidas e bebidas mais saudáveis nos conscientes América do Norte e Europa, além de possuir algumas das marcas mais reconhecidas de comidas no mundo, a PepsiCo possui a habilidade de servir a todas as nacionalidades e demografias nos próximos anos.
Kraft Heinz: Redução de custo e sinergias
A Kraft Heinz seguiu uma trajetória diferente desde a fusão há três anos. Em vez de focar no crescimento do portfólio, mercado que atende ou demanda dos consumidores, a companhia optou por focar na redução de custos e em sinergias. Em novembro de 2015, a companhia anunciou que fecharia sete fábricas nos EUA, cortando 2.600 empregos em uma tentativa de retirar a produção das unidades menos eficientes. A estratégia ainda está em curso e em novembro do ano passado a empresa fechou a unidade em Lehigh Valley, na Pensilvânia.
Esse esforço, assim como a própria fusão, decorre da fraqueza relativa da companhia na América do Norte. Os EUA representam 70% de toda receita da Kraft Heinz, de longe o mercado mais importante da companhia. Infelizmente, a receita orgânica nos EUA cedeu 1,2% nos primeiros nove meses de 2016, uma queda mais acentuada na comparação com os 1% em igual período do ano anterior.
A compra de concorrentes como uma estratégia de reduzir sus fraqueza também é difícil para a Kraft Heinz dado o montante de dívida que a empresa acumula. Suas obrigações de longo prazo somam US$ 30 bilhões, mais de quatro vezes seu Ebitda em doze meses.
A Kraft Heinz segue tentando melhorar seu lucro, cortando ineficiências e diminuindo o peso da sua dívida em seu balanço antes de tentar crescer por uma aquisição estratégica ou uma inovação interna. Isso pode significar uma dificuldade no cenário de curto prazo da companhia, mesmo com uma melhoria na lucratividade. A falta de foco da Kraft Heinz nas macrotendências da indústria é uma preocupação à frente.
Conclusão
O maior problema que vemos aqui para a Kraft Heinz é obviamente uma empresa em transição. Infelizmente, a um patamar de US$ 90,58 por ação no fechamento de segunda-feira, com preço por ação de quase 35 – bem mais alta do que a média do setor de 26 – ela carrega um pesado prêmio. Uma parte pode ser explicada pela natureza defensiva da ação e da companhia, visto que comida continuará a ser comprada independentemente dos cortes de orçamento que os consumidores tentem fazer.
Acreditamos que parte desse prêmio está relacionado a empresa de Warren Buffet, Berkshire Hathaway, que possui 27% da companhia. A Berkshire Hathaway e a 3G Capital compraram a Heinz em 2013 e participaram da compra da Kraft no ano seguinte.
Investidores geralmente gostam de compartilhar os investimentos com os gigantes do mercado e não há dúvidas que ninguém é mais venerado do que o Oráculo de Omaha. O atual valuation da Kraft Heinz pode refletir a confiança do mercado nas habilidades de Buffet em dar a volta por cima na empresa.
Na nossa visão, mesmo a US$ 106,52 por ação no fechamento de segunda-feira, o valuation da PepsiCo é mais atrativo. O preço por lucro é de 23, abaixo da média do mercado de 26, e como já foi dito, a PepsiCo está livre para focar no crescimento e adaptação para um mercado em constante mudança, algo que já está provado que é capaz de fazer. Além disso, a PepsiCo é mais diversificada em seu portfólio e na distribuição geográfica como fontes de receita.
O rendimento do dividendo da PepsiCo é de 2,77% e tem crescido, e pago, nos últimos 44 anos. O dividendo da Kraft Heinz possui rendimento de 3,23% e tem sido pago regularmente desde a fusão da empresa há três anos. Vale (SA:VALE5) nota que a Heinz pagou dividendos confiavelmente por décadas, antes da fusão.
Nossa intenção com essa análise não era efetivamente comparar as duas companhias cabeça a cabeça. No entanto, se fôssemos obrigados a escolher, preferimos o potencial de crescimento e o atual valuation da PepsiCo sobre a Kraft Heinz, mesmo com o fator Buffet na jogada.