Já reparou como quando queremos encontrar o ponto de equilíbrio em algum objeto, colocamos o dedo sob sua superfície?
Gastamos alguns segundos tentando encontrá-lo até que possamos mantê-lo nos eixos, seja ele um lápis, um caderno ou uma bola de basquete.
Se você nasceu nos anos 90, talvez conheça o exemplo perfeito dessa prática, o pássaro equilibrista – brinquedo normalmente feito de vidro e que se equilibra em um único ponto a partir, somente, das leis da física.
Pecando pelo excesso (do que pela falta) de detalhes, deixo uma ilustração:
Fonte: Pinterest (NYSE:PINS)
Lembro-me de ficar surpreso na primeira vez que vi a “mágica”.
Nada mais é, entretanto, do que o equilíbrio das forças resultantes do pássaro que levam o centro de gravidade para o seu bico, mantendo-o perfeitamente apoiado.
Aliás, o mesmo processo pode ser feito com dois garfos, um palito de dente e um copo de vidro, quando ajustados na devida configuração.
No pós-pandemia, a inflação alta tem sido objeto de atenção por algumas das principais economias do mundo, que também buscam a “mágica” do equilíbrio e tentam encontrar o ponto ótimo no ajuste das taxas de juros para que possam controlá-la, sem prejudicar o emprego e o crescimento do país.
Na semana passada, a principal autoridade monetária mundial, o Fed (Banco Central americano) deu continuidade ao movimento de alta de juros que acontece desde março deste ano.
O aumento de 75 pontos-base em sua taxa básica de juros (Fed Fund rate), agora em uma faixa entre 2,25% e 2,50%, busca trazer para baixo a inflação da maior economia do mundo, que está em 9,1%, segundo os dados divulgados em junho.
No “economês”, fala-se que o Fed está adotando uma postura mais “hawkish”, termo relacionado, em português, ao falcão – por lá, eles também adoram seus pássaros. Ou seja, a autoridade monetária está comprometida com o seu mandato de controle do índice de preços e deve continuar aumentando os juros por lá.
O inverso dessa posição é uma postura “dovish” (ou pombo, em português), significando que ele estaria menos preocupado com a inflação e mais com um desemprego maior e uma desaceleração da atividade, o que poderia levar a uma queda dos juros e retorno dos estímulos econômicos – movimento feito globalmente durante a crise da Covid-19 e que contribuiu para grande parte da inflação global observada hoje.
No Brasil, o Banco Central já está mais adiantado nessa dinâmica, tendo iniciado seu ciclo de alta de juros na reunião do Copom de março do ano passado, saindo de um patamar de 2% para 13,75% – após a última alta de 50 pontos-base na reunião desta quarta-feira (3).
Entretanto, em um cenário de apreensão global e conflitos internacionais (Rússia e Ucrânia, e, mais recentemente, China, Taiwan e os EUA), além da proximidade das eleições presidenciais por aqui adicionando mais uma fonte de risco, fica a dúvida: será que esse patamar de juros já é suficiente? Já atingimos o tal “ponto de equilíbrio” nos juros?
Afinal, diferentemente dos EUA, a inflação não é uma estranha nossa. O plano real nos salvou do ambiente de hiperinflação entre os anos 80 e 90, entretanto, ela continuou sendo parte de nossas vidas, ainda que de forma mais moderada.
Por aqui, já estamos acostumados a esse balanço.
Apesar de não ser uma posição unânime, muitos gestores de multimercados permanecem com posições tomadas (que ganham com a alta da taxa) em juros americanos, acreditando que o Fed ainda precisa subir mais os juros por lá para atingir seu equilíbrio para o momento.
Para o Brasil, entretanto, apesar de existir um indicativo de estabilidade na taxa para a próxima reunião do Copom em setembro (ou de um último ajuste menor, de 25 pontos-base), há dúvidas sobre quando ela deve começar a cair – muitos acreditam que esse movimento deve começar somente em 2023.
Por aqui, não temos o falcão e o pombo, mas o que acha de seguirmos com o canário e o sabiá?
Um abraço