O mês de junho foi marcado pela divulgação de dados que revelam um ambiente global caracterizado pela diminuição das pressões inflacionárias e pela resiliência na atividade econômica. Essa dinâmica é resultado, em grande medida, da normalização das condições de oferta, aliviando as pressões em setores como bens duráveis, energia, combustíveis e alimentos. Contudo, é importante ressaltar que a maneira como essa dinâmica se materializa nas diferentes economias depende de fatores como a temperatura da atividade econômica e do mercado de trabalho, o estágio do ciclo de aperto monetário e a importância relativa dos setores de bens e serviços em cada economia.
Divergências entre Economias Avançadas e Emergentes
No contexto das economias avançadas, observamos que alguns bancos centrais ainda estão "tateando" o final do processo de elevação das taxas de juros. Isso ocorre em um momento em que o mercado de trabalho permanece aquecido e a perspectiva de queda dos componentes de inflação relacionados aos salários e ao emprego é lenta. O banco central do Canadá surpreendeu ao elevar as taxas de juros novamente, enquanto no Reino Unido, na Noruega e na Suécia as surpresas vieram na magnitude dos aumentos.
O Banco Central Europeu (ECB) também seguiu elevando as taxas de juros, demonstrando preocupação com a convergência da inflação para a meta de 2%. Por outro lado, o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos pausou e indicou uma alta de juros mais espaçada entre as reuniões. Apesar disso, espera-se pelo menos mais duas altas de 25 pontos-base, refletindo uma postura ainda rígida, embora setores sensíveis aos juros já tenham mostrado sinais de desaquecimento.
Nas economias emergentes, a situação é significativamente diferente. Essas economias estão em uma fase mais avançada do processo de aperto monetário e apresentam uma dinâmica favorável da inflação, inclusive nos setores de bens e serviços mais ligados à demanda, além de expectativas de inflação. Embora o tema dos mercados de trabalho apertados permaneça presente, ele é visto como um fator que trará incertezas durante os ciclos de corte de juros, e não como algo que adiará o início desses ciclos.
Destacam-se as sinalizações de início de corte de juros pelo Chile e pelo Brasil, com previsão para julho e agosto, respectivamente. Além disso, há chances crescentes de cortes ocorrerem em países como México, República Tcheca e Polônia no último trimestre do ano. Na Ásia, onde muitas economias concluíram o processo de aumentos no primeiro e segundo trimestres deste ano, também começam a surgir perspectivas de cortes. No caso da China, devido à frustração com a recuperação econômica no segundo trimestre, espera-se medidas monetárias e fiscais para garantir um crescimento em torno de 5% neste ano.
O Caso do Brasil
O Brasil se destaca como um exemplo emblemático desse ambiente de política monetária nos mercados emergentes. O país possui uma taxa de juros bastante restritiva, ao mesmo tempo em que apresenta sinais de desaceleração na demanda interna e uma perspectiva favorável para a convergência da inflação. A manutenção da meta de inflação em 3% favorece a dinâmica das expectativas de inflação e o processo de convergência para 2024.
Além disso, a extensão do horizonte relevante de política monetária por 24 meses, a partir de 2025, não trará mudanças técnicas significativas ao instrumental já utilizado. Espera-se o início de cortes nas taxas de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto, com um ritmo condicionado aos dados divulgados e aos desenvolvimentos na área fiscal, podendo ser de 25 ou 50 pontos-base.
Em meio a um cenário global que combina a diminuição das pressões inflacionárias com resiliência na atividade econômica, é essencial adaptar as estratégias de investimento de acordo com as diferentes dinâmicas de mercado. No contexto brasileiro, a perspectiva de um ciclo de cortes na taxa de juros a partir de agosto, baseada em melhorias na inflação e na área fiscal, oferece oportunidades interessantes para posições aplicadas na parte curta da curva DI e para investimentos em empresas de qualidade que se beneficiarão dessa redução dos juros.
No mercado internacional, é possível explorar oportunidades nas curvas de juros de países emergentes que já concluíram seus ciclos de aperto monetário e estão prestes a iniciar ciclos de cortes, especialmente aqueles que apresentam sinais positivos na batalha contra a inflação. Além disso, uma posição comprada em bolsas internacionais, com foco no setor de tecnologia, pode ser uma estratégia interessante.
Em suma, a diversificação e a adaptação às condições específicas de cada mercado são fundamentais para aproveitar as oportunidades e mitigar os riscos nos investimentos. Acompanhar atentamente as decisões dos bancos centrais, as tendências da inflação e os desenvolvimentos econômicos globais é essencial para tomar decisões embasadas e obter resultados favoráveis em um ambiente dinâmico e em constante evolução.