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Política Monetária Gera Controvérsia nos EUA, Enquanto Inflação Dispara

Publicado 18.04.2022, 10:45

Michael Burry, um dos investidores abordados no livro A Jogada do Século (The Big Short), de Michael Lewis, e no filme baseado na obra, nem sempre está certo. Ele ganhou fama ao prever corretamente o crash das hipotecas “subprime” nos EUA e lucrar com a queda do mercado, mas também manteve posições vendidas nas ações da Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34), em uma batalha perdida.

Burry, entretanto, é uma das pessoas que criticam duramente o Federal Reserve por não fazer o suficiente para combater a inflação. Em um tuíte na semana passada republicado pela Business Insider, ele escreveu:

“O Fed não tem qualquer intenção de combater a inflação. As elevações sequenciais de meio ponto são para evitar um mal maior nas ações e no consumo. O mesmo vale para um aperto monetário de tiro rápido.” [Referindo-se ao enxugamento do portfólio de títulos do Fed].

O banco central americano, continua ele, “está recarregando a bazuca monetária”. O Fed está seguindo o protocolo para ter o poder de fogo necessário para tirar o mercado de apuros quando – e não se – necessário. Essa é a famosa “put do Fed” para limitar os recuos do mercado acionário.

Larry Summers, economista de Harvard, ex-secretário do Tesouro americano e crítico contumaz do Fed, não para de ressaltar que o “pouso suave” buscado pelo banco é uma ilusão.

“Eu acho que as chances de um pouso forçado nos próximos dois anos certamente são melhores”, declarou em um podcast da Bloomberg na semana passada. Independente de quanto os juros precisem subir para conter a inflação, “no fim do dia, o que vamos ver é um pouso bastante forçado”.

Banco central mais “agressivo”?

O índice de preços ao consumidor em março mostrou um aumento ano a ano de 8,5% nos EUA, após um salto de 7,9% em fevereiro e 7,5% em janeiro, níveis mais altos em mais de 40 anos. E até mesmo uma autoridade considerada rígida, como Loretta Mester, presidente do Fed de Cleveland, defendeu, na semana passada, que os formuladores da política monetária terão que ceder em algum momento. Em um evento da Universidade de Akron, na semana passada, Mester explicou:

“Nossa intenção é reduzir a acomodação no ritmo necessário para equilibrar melhor a demanda em vista da oferta restrita, buscando colocar a inflação sob controle, e sustentar, ao mesmo tempo, a expansão da atividade econômica e a saúde do mercado de trabalho”.

Lael Brainard, indicada à vice-presidência do Fed e considerada mais flexível com a política monetária, também demonstrou otimismo na semana passada:

“A economia dos EUA entra nesse período de alta incerteza com um mercado de trabalho extremamente forte e significativo vigor econômico. E isso, em minha visão, ajuda a trazer a inflação para baixo, além de sustentar a recuperação”.

A grande questão é saber se a economia americana conseguirá, de fato, manter seu vigor após sucessivas elevações de juros. Os investidores esperam que o Fomc, comitê de política monetária dos EUA, eleve sua taxa básica em meio ponto em maio, após uma elevação de 0,25 ponto, mas críticos afirmam que isso não é, nem de longe, suficiente para interromper a disparada dos preços.

Eventos do tipo “cisne negro”, como a invasão da Rússia na Ucrânia e novos bloqueios contra a Covid-19 na China, estão alimentando a inflação e colocando em evidência como o Fed deveria ter agido mais cedo para cotar a inflação pela raiz quando ela deu as caras no ano passado.

A ata da última reunião do Fomc, divulgada no início deste mês, falou sobre a redução do portfólio de títulos do Fed, que soma US$95 bilhões ao mês. Seriam necessários vários anos para que houvesse uma significativa redução do seu balanço de US$9 trilhões e muito mais para se chegar perto do nível pré-pandemia, mas muitos analistas se convenceram de que isso mostrava um Fed mais “agressivo”.

Enquanto o presidente do banco central, Jerome Powell, aguarda sua confirmação no Senado para um segundo mandato, Brainard se prepara para se sentar na cadeira de vice-presidente, após o fracasso da nomeação de Sarah Bloom Raskin por Biden à vice-presidência de regulação.

Michael Barr, que ocupou altos cargos no Tesouro durante o governo Obama, é considerado mais centrista do que Raskin, mas, como arquiteto da reforma financeira Dodd-Frank de 2010, foi fundamental para estabelecer o Departamento de Proteção Financeira ao Consumidor difamado pelos conservadores.

O fato de que ele não se manifestou a favor da regulação dos bancos sobre mudanças climáticas pode ter-lhe custado o cargo regulatório de interventor da moeda.

No entanto, é mais provável que ele seja aprovado no cargo regulatório do Fed do que Raskin, o que levaria o conselho de governadores ao seu número total de sete membros, considerando que as outras duas indicações pendentes para o conselho também sejam aprovadas pelo Senado.

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