A "biruta" dos mercados deu uma endoidada por estes dias. Tanto os ativos globais, como os domésticos volatilizaram fortes, por variadas razões.
No Brasil, o mercado de ações ingressou numa espiral de realizações (seis pregões seguidos de queda do Ibovespa e o dólar deu uma "esticada" a R$ 5,41). Por outro lado, no mercado de juro a curva curta deu uma estabilizada e a longa declinou um pouco. A justificar isso uma leitura mais "dovish" do Banco Central, devendo antecipar o processo de aperto monetário, depois de comunicado da ata do Copom e da retirada do termo "foward guindance" na reunião. Isso reforça a tese de que o juro Selic nominal a 2% ao ano não representa o momento econômico que vivemos. Está claramente fora do equilíbrio. Há, inclusive, no mercado os que consideram a taxa mais apropriada para o momento, com pressões inflacionárias derivadas do câmbio esticada, em algo próximo a 4,5% ao ano.
Neste contexto de ajuste, provocado por essa mudança de leitura, ainda existe alguma expectativa em saber como o governo deve financiar a extensão do auxilio emergencial, pensando na neutralidade sobre o teto de gastos. Será possível? Paulo Guedes já levanta esta possibilidade da volta do auxílio pelo período de dois a três meses, até completar o ciclo de vacinação em massa da população. Mas será que o ciclo completo de vacinação em massa só deve durar três meses. E qual a sustentabilidade da dívida pública e do déficit, em trajetória explosiva?
O fato é que esta segunda onda (ou vaga, como dizem em Portugal) da pandemia vem se mostrando mais rigorosa do que a primeira, entre março e abril do ano passado. O mundo passa por uma prova de resistência ainda mais pesada, com o vírus se espalhando mais rapidamente e sofrendo estranhas mutações, da Amazônia, do Reino Unido, da África do Sul, entre outros lugares.
Soma-se a isso, por aqui no Brasil ruídos causados pela total falta de governabilidade do presidente Bolsonaro. A todo momento são declarações intempestivas dadas, tensionando ainda mais as relações em sociedade. O que é fato é que ele não consegue pacificar os vários extratos sociais, sua relação com a imprensa, sempre em confrontação e bate-bocas. Em plena pandemia, quando as várias esferas de governo, os representantes da sociedade, deveriam estar unidos e fortes, o que se observa é o contrário, dissipação e acusações mútuas.
Para piorar, na ausência deste apoio emergencial, a popularidade de Bolsonaro só cai. Pesquisas de opinião indicavam que a avaliação "regular a bom" recuou ainda mais, de 32% para 26% e a "ruim a péssimo" aumentou, assim como o indicador de rejeição. Várias carreatas aconteceram nas capitais por estes dias, além de panelaços.
No mundo político, às vésperas das eleições no Congresso dos seus presidentes, muito se comenta sobre a possibilidade de colocar em plenário os pedidos de "impeachment" (os pedidos já passam de 61!). A "fratura exposta ideológica" na sociedade, por variadas razões, se mantem ou só piora. Não parece haver sinal de consolidação. Em leitura figurativa, cresce, isso sim, o receio da perda do membro!
Pela leitura de muitos, para que o processo de “impeachment” avance, o presidente precisa estar na lona em termos de popularidade, sem apoio parlamentar, com mobilização popular contrária, ou então envolvido em algum caso de corrupção. Na verdade, é o conjunto destes fatores, da obra, a definir seu destino. Não nos parece que tenha chegando a tanto, mas pelo “andar da carruagem”, mantidas as condições de temperatura e pressão atuais...Não será surpresa se ele não completar seu mandato.
No plano global, alguns fatores devem ser lembrados. Temos o avanço da Covid-19 e o processo de vacinação muito lento em diversos países, movimentos especulativos de “hedge funds” ocorreram por estes dias, o que fizeram o índice de volatilidade VIX disparar e há incertezas sobre a dimensão do pacote fiscal norte-americano anunciado. Por lá, as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, não agradaram o mercado. Apesar do banco central americano ter feito o que se esperava nesta semana, mantendo o juro e os programas de suporte, o chairman do Federal Reserve disse que ainda há "um longo caminho a ser percorrido" para alcançar as metas de inflação e emprego.
Enfim, neste momento não existem motivos para estarmos otimistas ou confiantes. Ainda vivemos um período crítico, de transição e incertezas sobre o futuro. Pairam dúvidas sobre o ritmo de vacinação, disponibilidade de insumos, e normalização da economia global e daí, dos mercados. Difícil saber para que direção se guiar.
O momento é de espera.
Vamos conversando.