Já não faltavam fundamentos ruins na nossa economia sugerindo uma apreciação mais intensa do preço da moeda americana em perspectiva e retração de fluxos de recursos externos para o país, mas, inegavelmente, com mais uma evidência forte da deterioração da política fiscal, não há como não considerar o agravamento da propensão a apreciação do preço da moeda americana no Brasil.
O governo em meta revisada para menor no 1º semestre comprometeu-se a um superávit primário de R$ 99,0 Bi equivalentes a 1,9% do PIB projetado para este ano. Até agosto, quando registrou o pior resultado para estes meses desde 1997 com déficit primário de R$ 10,4 Bi, acumulou superávit de tão somente R$ 4,675 Bi algo como 4,74% da meta de superávit prometida para este ano.
As agências de rating estão observando, provavelmente menos enfáticas em suas colocações devido o momento eleitoral, mas certamente com crescimento do PIB projetando pífios 0,29% segundo o Boletim Focus, com viés de baixa até dezembro, inflação elevada no topo do limite da meta, indústria manufatureira desmotivada e já gerando desemprego, consumo absolutamente fragilizado pelo esgotamento do modelo e elevado endividamento da população, política econômica desacreditada e agora a inquestionável deterioração da política fiscal, certamente o Brasil potencializou a tendência de rebaixamento da nota de crédito soberana.
Da mesma forma os investidores estrangeiros, até os especuladores, observam este contexto degradado da economia brasileira, que certamente os levará a buscar outros países.
É absolutamente ilusória a prática de procedimentos miraculosos pela Fazenda e o Tesouro para mascarar um debacle acintoso de gestão da política fiscal, não há como praticar a magia sem a percepção generalizada do ato imperfeito aqui e acolá, isto só leva a mais perda de credibilidade.
O Brasil vem enfrentando perda de atratividade e credibilidade ascensional desde meados do ano passado, o que levou o BC a ancorar a falta de credibilidade na moeda nacional em oferta máscula de "hedge" que atinge atualmente um estoque "em ser" de contratos de swaps cambiais próximo de US$ 100,0 Bi, além da colaboração dos bancos que por meio de posições vendidas em torno de US$ 15,0 Bi vem bancando a liquidez já que faltam fluxos externos suficientes para que o mercado de câmbio autogere sua liquidez.
Agora continuamos com este ambiente negativo fundamentado, mas a questão fiscal afeta o conceito de risco, e desta forma as saídas de recursos do país podem vir a se acentuar mais do que já era esperado em concomitância com uma retração mais intensa de fluxos líquidos para o país. O fluxo negativo resultante destes movimentos pode revelar-se altamente expressivo, exigindo que o BC tenha que utilizar dólares das reservas cambiais.
Nossas reservas cambiais estão em torno de US$ 376,0 Bi, mas se as usarmos baixaremos o estoque num ambiente que não sugere que possa ser recomposta no curto/médio prazos, e ainda poderá induzir os especuladores a detonarem um movimento especulativo sobre o real.
Ontem tivemos dados da economia relativamente desapontadores, mas foi pouco para tirar do radar a possibilidade do FED alterar a política monetária num período mais breve de tempo.
Este "fantasma" para os emergentes e o crescimento mais fraco impactam também fortemente no Brasil, que a despeito das críticas do governo brasileiro tem dado evidências de que efetivamente está frágil e vulnerável.
Ontem o comportamento do preço da moeda americana teve volatilidade mas fechou perto da estabilidade ao preço de R$ 2,4460 com queda de 0,07%, mas foi dia da Ptax e de ajustes em posicionamentos.
Todavia, como há razões e motivos potenciais na economia brasileira induzindo a apreciação do preço da moeda americana esta deve continuar sendo a tendência fundamentada, que poderá ser turbinada pelo "frenesi" em torno das pesquisas eleitorais, um movimento absolutamente hilário, visto que eventual perspectiva de melhora do comportamento do preço do dólar só se vislumbra para no mínimo 2016, isto desde que o próximo governo implemente forte ajuste na economia brasileira, recolocando-a na trilha do crescimento sustentável, o que não será possível em menos de 12 meses, a ponto de atrair recursos externos, em especial produtivos, em grande volume para o Brasil.
É necessário que se atente que temos atualmente uma intervenção no mercado futuro para não deixar a perda de credibilidade derreter expressivamente o real ante o dólar da ordem de US$ 100,0 Bi em swaps cambiais, que para que seja gradualmente revertido o Brasil precisa repor a credibilidade na sua moeda com a intensificação de fluxos de recursos líquidos, e ainda suficiente também para cobrir as posições vendidas dos bancos na atualidade.
Há um longo caminho a ser percorrido para viabilizar-se mudança na política cambial, por isso não há como tentar precificar no curto prazo o que só poderá ser alterado no longo prazo, se tudo der certo.
Mas, o "raio x" da economia brasileira permite que se tenha a convicção de que antes de qualquer melhora ainda piorará muito.
Como sempre saliento, os números indicam isto, não é uma questão de ser otimista ou pessimista, mas tão somente realista.
Setembro foi ruim, outubro pode ser um pouco pior.