Na crise política que vivemos urge a necessidade do País atravessar este período que resta, neste atual “ciclo de poder”, até a eleição de 2022, em relativa estabilidade (ou tentar isso).
É o momento do governo atual mostrar serviço, divulgar seus feitos e se poupar de declarações intempestivas, não caindo em “provocações” ou “acusações”, o que acontece a todo momento. O governo deve mostrar resultados, o que vem sendo feito de bom, e falar menos.
Será que é pedir demais? Que o presidente respeite os “ritos da República” e tente se manter calado! A cada declaração, uma crise!
Deve respeitar a institucionalidade do País, a posição que ocupa, a tal “liturgia do cargo”.
O poder, a cadeira de presidente, é algo “impessoal”, não interessa o que pensa, mas sim o que deve ser feito em prol da sociedade como um todo, em consenso com os vários atores envolvidos (Congresso, Judiciário, representantes da sociedade).
O poder Executivo não pode ser personalista, mas sim compartilhado. É assim numa democracia representativa. Temos “pesos e contra pesos” na relação entre Legislativo, Executivo e Judiciário.
No front da pandemia, no entanto, o momento é trágico. Dia 31 foram 3.950 óbitos em 24 horas. O ministro da Saúde anunciou que das 47,3 mil doses de vacina anunciadas, 25,5 mil estão confirmadas.
Até agora só foram 17 milhões de brasileiros (8,3% da população) a receberem a primeira dose, e 2,4% a segunda. O colapso da rede hospitalar, a falta de insumos, como kit entubação, são a preocupação do momento.
Mesmo assim, Bolsonaro teima em criticar o lockdown, não unificando o discurso com o Gabinete de Crise.
Ontem, depois da reunião do gabinete (uma vez por semana), Rodrigo Pacheco do Senado destacou a importância de manter o uso de máscaras e o distanciamento social. Bolsonaro saiu da reunião, foi para o mezanino do Planalto e desandou a criticar o lockdown. Mas não foi este o combinado !
Mais uma vez! Devemos buscar uma maior coordenação, um “entendimento” entre os poderes, tocar o tal Gabinete de Crise, buscar resolver as pendências. Se cada um for para um lado...se não houver unidade de discurso...
Na leitura do mercado, a interpretação é de que depois de tantas asneiras ditas, verifica-se que o presidente está a perder poder, o que vem sustentando algum otimismo entre os investidores.
De fato, Bolsonaro saiu bastante chamuscado de toda confusão criada. Desde o embate para manter o incompetente Ernesto Araújo, até a batalha com o ministro da Defesa.
No debate sobre o Orçamento de 2021, o Congresso enviou ao presidente a autorização para um corte de R$ 10 bilhões em emendas. Como o presidente terá 15 dias para sancionar a peça orçamentária, a expectativa é de que um acordo seja “costurado” para se evitar o impasse atual, onde um grande volume de emendas foram formuladas e as despesas em custeio sub avaliadas.
Sobre a reforma ministerial, o nomeado general Braga Neto, em substituição ao general Fernando Azevedo, escolheu Paulo Sergio Nogueira para o Exercito. Foi ele a falar no Corrreio Braziliense, destacando o trabalho do Exercito no combate ao Covid19, baseado na ciência, com o índice de mortalidade a 0,13%, contra 2,5% da população. Parece que Bolsonaro não gostou disso. Tomou a entrevista como crítica ao governo.
No País seguem acontecendo manifestções de desagrado. Uma carta com personalidades como Mandetta, Ciro Gomes, Huck, Eduardo Leite, Amoêdo, foi divulgada ontem a noite em contraponto à comemoração do 31 de março pelos filhos do capitão (Golpe de 64).
Nas pesquisas, ontem o PODERDATA apurou que a rejeição ao presidente passou de 54% para 59%, e a parcela que o aprova, passou de 33% para 32%.
Sobre os indicadores no dia, no Brasil veio a PNAD Contínua, com taxa de desemprego de 14,2% da PEA. Foi o maior desemprego para o trimestre encerrado em janeiro em quase 30 anos. Por estudos, ainda são cerca de 5,8 milhões de pessoas em desalento, fora do mercado de trabalho. Nem os dados do Caged amenizam este quadro (401 mil empregos formais gerados). Quando estas pessoas voltarem ao mercado, o desemprego será ainda maior (fevereiro promete). Nos EUA foram criadas 517 mil novas vagas no setor privado, segundo o relatório ADP. Tal resultado veio pior que o esperado, com as projeções indicando a geração de 550 mil vagas. Em fevereiro foram 176 mil vagas geradas.
No mercado de treasurires americanos, os bonds de 10 anos chegaram ao nível mais elevado em 14 meses (1,77%). Isso tende a impactar os empréstimos mais longos, com destaque para os de tecnologia. Pode levar os investidores a começarem olhar com mais carinho para o mercado de títulos, abandonando as ações.
Na Câmara de Deputados, um projeto (PL 639/21), que merece alguma atenção é aquele que prorroga o prazo para a entrega do Imposto de Renda para o dia 31 de julho. O prazo atual é 30 de abril.
Falando do mês de março, foi marcado pelas dúvidas no front fiscal, por um olhar atento nos movimentos do BACEN na oferta de swap no mercado de câmbio, mesmo depois de elevada a Selic em 0,75 ponto percentual, a 2,75%.
Foi marcado, também, pela preocupação com o início do ciclo de vacinação, o aumento dos contágios, no Brasil e na Europa, o aumento da polarização no campo político e o enfraquecimento do ajuste fiscal. Por outro lado, algum alívio veio dos EUA, nas suas fortes polítcas de estímulo, com dois pacotes, um de US$ 1,9 trilhão, de “injeção de renda”, outro, “mais para Infraestrutura”, próximo a US$ 2,25 trilhões. Este deve ser gerado a partir de um aumento de impostos para as empresas, de 21% a 28%.
Agenda do dia
A produção industrial (9h) deve completar fevereiro com a décima alta seguida. Tal indicador positivo, no entanto, não deve ser recebido como sinalização de retomada para março ou abril, diante das recentes medidas mais rígidas de isolamento social e falta de insumos.
Temos anúncios de paralisações de fábricas, especialmente no setor automobilístico (sete montadoras já pararam), por limitações da pandemia ou escassez de produtos. Na tarde de hoje (15h) temos a balança comercial de março, em segundo superávit seguido. Estimativas apontam resultado superior a fevereiro (US$ 1,152 bi), entre US$ 1,57 bi e US$ 3,925 bilhões.
No exterior
A volta por cima da economia americana deve ser confirmada pelo PMI/Markit industrial (10h45), com previsão de melhora para 59,2 em março, de 58,6 em fevereiro, e pelo dado do ISM (11h), de 61,6, conta 60,8. Ainda nos EUA, em véspera de payroll (amanhã no feriado), pedidos de auxílio-desemprego (9h30) devem cair para 675 mil, de 684 mil na semana anterior. Às 14h, sai a Baker Hughes sobre poços e plataformas em operação.
Na China, o PMI/Markit industrial teve o 11º mês consecutivo de crescimento, embora ao ritmo mais fraco em quase um ano, desde abril de 2020. O indicador desacelerou para 50,6 em março, contra 50,9 em fevereiro. No Japão, o PMI/Markit industrial subiu de 51,4 (fevereiro) para 52,7 em março, maior expansão desde outubro/18.
Mercado de ativos
Com o fim do pregão do dia 31, o Ibovespa fechou em leve queda no dia (-0,18%), a 116.633 pontos, em março em alta de 6,0%, ainda que com perdas de 2,0% no ano. O giro financeiro foi de R$ 31,9 bilhões.
O câmbio do dia 31, em formação de PTAX, taxa formada no último dia do mês para liquidar os futuros do câmbio hoje, primeiro dia do mês seguinte (abril), operou em queda, a maior em três semanas, devido ao desmonte de posições diante da correção do dólar no exterior e desta formação do PTAX de fim de mês.
O dólar fechou neste dia 31 em queda de 2,23%, a R$ 5,6304, no mês valorizando 0,50%, depois de 3,39% até o dia 9 (quando foi a R$ 5,80). No ano, a desvalorização do real chega a 8,45%, colocando a nossa moeda entre as três piores num universo de 33 pares ao dólar, só melhor que a Lira Turca e o Peso Argentino. Por ora, trabalhamos com o dólar a R$ 5,20 ao fim deste ano.
A corroborar com esta estimativa como o governo irá enfrentar a agenda de reformas neste segundo semestre, já que no cenário internacional a expectativa que se tem é de valorização do dólar, frente aos seus pares nos países emergentes. Isso porque o crescimento da economia dos EUA deve ser maior, pressionando a inflação e as taxas de juros dos Treasuries.
A seguir as projeções dos principais indicadores para este ano e os próximos.