O silêncio e a discrição nas atitudes e manifestações por parte dos gestores de políticas do governo, em especial as questões estratégicas envolvendo política monetária, cambial e fiscal, são posturas absolutamente necessárias, sendo inadmissíveis comportamentos típicas de “traders” ao abordar determinados pontos extremamente sensíveis e de impacto imediato no comportamento do mercado financeiro e na formação de suas expectativas.
Há de haver por parte dos gestores o equilíbrio e compreensão sobre o peso de suas palavras e a conveniência ou não de suas colocações de forma genérica, principalmente face à atualidade sob forte pressão de um quadro absolutamente complexo no conjunto que envolve política monetária, cambial e fiscal, que não sugere alternativas factíveis harmoniosas, visto que quaisquer tipos de ações certamente acarretarão efeitos contrários recíprocos e isto, afeta as expectativas, base primária que fomenta o comportamento do mercado financeiro.
Excesso de “lives” das autoridades, colocações postas para “manchetes”, mas sem fundamentação concomitante, tais como “vamos tributar o Pix”; precisamos criar um imposto sobre transações; vamos vender reservas cambiais (como se isto bastasse ter a vontade e não prescindisse de demanda efetiva); se o mercado de câmbio não suportar o ajuste do “overhedge” vamos intervir (como se não fosse algo absolutamente pontual no dever do BC com o instrumento adequado requerido no momento); vamos privatizar 3, 4, 5 estatais; há fatores políticos que inibem as privatizações; a inflação é temporária para depois ficar evidente que é implícita com a alta das commodities e dólar e afetar o juro futuro; etc... etc...
O “momento Brasil” revela grave crise fiscal, sem que haja alternativas fáceis e sem rebotes imediatos em todas as decisões que forem adotadas, então é preciso que seja estratégica e abrangente e sem alardes que parecem mais buscar “massa crítica” do que serem efetivas, mas que afetam expectativas e credibilidade.
É imperativo que se passe a ter mais ação e menos transpiração, com medidas efetivas e bem coordenadas por parte dos setores governamentais, sem alardes prévios, mas consistentes bastantes para angariar apoios e o governo assuma o protagonismo nas articulações com os poderes político e jurídicos.
O mundo globalizado procura ajustar o relacionamento entre os mercados financeiros e comerciais dos países e o Brasil tem que ter o foco em reconstruir a sua atratividade e credibilidade perante aos seus pares, e embora o quadro fiscal seja preocupante, o risco cambial do país é tranquilo, pois tem posição credora em moeda estrangeira, mas precisa potencializar medidas de fomento à retomada sustentável de sua economia para que o lastro dos sinais de recuperação do PIB ganhem fundamentos concretos e estimulem os investimentos de seus próprios nacionais e de estrangeiros.
Precisa rever com seriedade seus dogmas recentes, como o “câmbio alto e juro baixo” sem parâmetros simétricos e que causaram e causam repercussões as mais diversas na sua economia, sem, contudo, lograr êxito nos seus objetivos primários, e, que está provocando a inflação implícita decorrente da alta dos preços das commodities em concomitância com a alta do dólar e com reflexos nos juros futuros, que tentou mascarar como sendo “temporária”.
A inflação que se faz presente de forma incontestável expressiva pelo IGPM e discretíssima ainda pelo IPCA face ao que se verifica nos bens básicos de consumo pela população, tem merecido enormes abordagens de vez que o aumento do juro pode não contê-la, mas pode promover atração aos investidores estrangeiros e isto impactar no preço do dólar e por conseguinte impactar na formação dos preços dos produtos exportáveis que rebotam inflação nos seus preços no mercado interno. Por outro lado, o juro mais elevado aumenta o custeio da dívida pública pelo Tesouro e que já está no limite, e que, ao provocar apreciação do real provocará a reversão de resultados absorvidos pelo Tesoura numa pedalada do BC e que terá que ser reposto com emissão de novos títulos que aumentarão a dívida.
Há, na ponta, o risco da “dominância fiscal” que o Ministro Guedes já asseverou que não ocorrerá, mas que está no radar.
Enfim, o que se constata como imperativo é um alinhamento com sintonia fina nas manifestações das autoridades monetárias no sentido de causarem o menor impacto possível nas expectativas, mas demonstrarem eficácia na propulsão das medidas imprescindíveis para a superação da enorme crise fiscal e com isto proverem o mercado com razões fundamentadas para a reconstrução da credibilidade e atratividade do país.
Há no mercado internacional enorme disponibilidade de recursos financeiros à procura de alocação com rentabilidade, e o Brasil precisa se habilitar a este fluxo para suas privatizações (que não saem do papel), financiamento de um percentual da Dívida Pública; incremento do mercado de renda variável (Bovespa) estimulando novos IPO´s de forma sustentável; e naturalmente colocando o preço da moeda americana em patamares mais compatíveis e adequados com o efetivo “status quo” do Brasil.
As principais economias mundiais ainda demonstram que não houve a recuperação do ímpeto de crescimento acelerado, com recuperação lenta do trabalho, e que haverá nova rodada de estímulos, enquanto o Brasil, surpreendentemente, aponta queda menor do PIB, embora não saiba ainda exatamente qual a efetiva relevância dos programas assistenciais do governo ao longo da crise da pandemia do coronavírus, o que já sugere um 4º trimestre menos intenso do que o 3º trimestre que ainda deve ser bom e cria dúvidas sobre 2021, até porque o governo continua num “corner”, não pode interromper os programas de forma abrupta para não levar parte da população ao estado de miséria e não tem fontes de financiamentos para mantê-los adequadamente.
No fundo, o governo sabe que foi “o grande consumidor” do varejo com a fluência de expressivos recursos às classes sociais menos privilegiadas e nas observações gerais que se fazem sobre a recuperação do PIB é claramente mitigado o reconhecimento explícito desta realidade, mas que em algum momento se tornará evidente, da mesma forma que a inflação que era dita “temporária” é constatada agora como efetiva e já disseminada nos preços relativos da economia.
Continuamos, como sempre observamos, considerando que a estratégia do “câmbio alto e juro baixo” não logrou seus objetivos e embora não seja totalmente errática precisa ajustar-se à simetria natural que deve existir entre câmbio e juro, de forma a não causar disfuncionalidades no mercado financeiro, e ser mais contundente e efetivo nas ações e articulações visando o ordenamento dos fatores desalinhados presentes, sem alardes prévios, de forma a recompor-se atrativo e confiável ante o empreendedor nacional e os investidores internacionais.