Há poucos dias, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os números do PIB relativos ao primeiro trimestre de 2022. No período encerrado em março, houve crescimento de 1,0% na margem da economia em comparação com o quarto trimestre de 2020.
Foi o terceiro resultado positivo consecutivo, mas, apesar disso, o dado veio abaixo das expectativas dos agentes econômicos no curto prazo, que aguardavam um aumento de 1,4% na margem no Produto Interno Bruto.
Por outro lado, apesar da frustração, o crescimento é bom quando consideradas as expectativas anteriores do mercado, há 60, 90 dias, quando era esperado algo na faixa de 0,1% a 0,4% de avanço na margem.
Explicado este ponto, é interessante comentar a composição do resultado. Em primeiro lugar, vale ressaltar uma mudança na legislação que obrigou o IBGE a contabilizar o investimento em plataformas de petróleo (Repetro), algo que teve importante impacto investimento no início de 2021.
Este fato, por si só, fez com que a base de comparação do primeiro trimestre do ano passado fosse inflada de maneira artificial. Portanto, quando observado o período descrito, podemos perceber uma queda de 7,2% na comparação anual do investimento, o que não é, necessariamente, verdade. É um efeito mais contábil, de base comparativa. Como contraponto, a construção civil nesse mesmo período cresceu 9,0% na comparação anual, e esse excelente desempenho foi ofuscado pelo efeito metodológico descrito acima.
Sob a ótica da oferta, como indústria, serviços e agricultura, o que frustrou foi o agro, que caiu na margem muito por conta das condições climáticas. A seca no Sul piorou algumas culturas importantes como a Soja. De um modo geral, os problemas de produção impactaram bastante o PIB deste setor, mas é algo que pode ser recuperado ao longo do ano.
Por outro lado, tivemos alguns pontos positivos a serem citados como, por exemplo, o crescimento dos Serviços de 1,0% na margem ocorrido, em partes, por conta das reaberturas da economia diante do arrefecimento da Pandemia.
Aqui vale o destaque para os segmentos de educação, saúde, entretenimento e transportes ferroviários, rodoviários e aviação, que também têm uma participação relevante na composição do PIB.
De modo geral, podemos dizer que foi um bom resultado sob a ótica da oferta. Do lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 0,7% na margem e acumula sete trimestres consecutivos de crescimento. Aqui, em partes, o movimento ocorre como efeito da reabertura da economia, que elevou o consumo de serviços.
Aliado a isso, há um aumento nos níveis de emprego, algo que ajuda a dar sustentação para o avanço econômico. A média móvel dos últimos meses, por exemplo, têm revelado a criação de cerca de 150 a 200 mil vagas na média trimestral até abril.
Neste ponto, é importante comentar sobre o perfil de consumo das famílias. Quando a crise causada pelo Coronavírus começou, em meados de 2020, vimos um crescimento da demanda no setor de bens. O que acontece é que agora há uma reversão deste movimento com as pessoas redirecionando seus gastos para o setor de serviços, o que impacta o nível de emprego devido ao setor de serviços ser mais intensivo em trabalho.
Contudo, apesar do tom otimista, é preciso fazer um alerta. O desenho que temos atualmente é o de uma economia que deverá desacelerar na margem, muito por conta do aperto da política monetária e do menor crescimento global esperado.
Acreditamos que os juros mais altos devem começar a causar impactos mais relevantes ao longo dos próximos do 2° e 3° trimestres, podendo haver uma variação negativa entre eles. Ou seja, com alguma retração no PIB.
Neste ponto, acho importante comentar um pouco sobre o cenário para o segundo semestre. Neste caso, as eleições também devem começar a causar impactos na atividade, com a diminuição do apetite para investimentos e consumo diante das incertezas causadas pelo período.
Imaginamos que o juro real em elevação, por sua vez, trará um impacto negativo nas concessões de créditos e financiamentos, que, mesmo quando disponíveis, estarão mais caros e de difícil obtenção pelas empresas.
A geração de vagas, conforme citado mais acima, está em um ritmo relativamente bom, mas também deve sofrer uma desaceleração até o fim de 2022, assim como programas voltados a impulsos fiscais.
De forma resumida, podemos dizer que tivemos um início de ano bom, mas provavelmente veremos os resultados diminuírem ao longo dos próximos meses e não excluímos um período de contração da economia nos próximos trimestres.
Bons negócios!