Publicado originalmente em inglês em 03/06/2021
O preço do petróleo Brent superou a marca de US$70 por barril nesta semana, justamente quando são realizadas as reuniões da Opep+. Provavelmente ninguém ficou mais feliz com essa alta dos preços do que o governo russo e outros membros do cartel que não viam a hora de elevar os números de produção.
E, de fato, conseguiram o que queriam, já que a Opep+ decidiu seguir em frente com os planos já negociados de elevar a oferta nos próximos meses em 2,1 milhões de barris por dia (mbpd). Em julho, a produção deve registrar um aumento de 450.000 bpd.
O “novo normal” para a Opep+
Entrando na onda das teleconferências, que fizeram enorme sucesso durante a pandemia, a Opep+ agora se reunirá mensalmente para ajustar as taxas de produção do mercado.
Anteriormente, os ministros do petróleo da Opep preferiam definir sua política de oferta pelo prazo mínimo de seis meses, recusando-se a reagir demasiadamente às mudanças de preço. Agora, eles preferem ajustar suas decisões com maior regularidade, dependendo do mercado.
Mas saber se essa estratégia está gerando bons resultados para a Opep+ é irrelevante aos investidores do mercado petrolífero. O que importa, na verdade, é que ela torna as decisões de preço da Opep+ menos definitivas.
Como vimos nos últimos tempos, a maior força do mercado neste momento é a demanda. Se a Opep+ e outros produtores elevassem demais suas extrações, gerando um excesso de estoque, como ocorreu em 2015, os preços simplesmente afundariam.
Em vez disso, a Opep+ continua controlando cuidadosamente sua produção com elevações graduais ao longo de vários meses. Entretanto, o que mais importa para o mercado e os preços no momento não é a oferta ou as taxas de produção, e sim a demanda, que está em alta enquanto a economia mundial vai se reabrindo após as restrições provocadas pelo coronavírus.
Capacidade de produção da Saudi Aramco
Na coletiva de imprensa da Opep+, o ministro do petróleo saudita Abdulaziz bin Salman falou sobre as preocupações crescentes com investidores ativistas e outros grupos que pressionam a gigante petrolífera a limitar os investimentos em novos recursos de petróleo e gás para o bem o meio ambiente.
Ele explicou que a Arábia Saudita não compartilha dessas preocupações e está trabalhando para expandir sua capacidade de produção de 12 para 13 mbpd. Quando perguntado sobre o assunto, sua resposta foi: “não se surpreendam se fizermos anúncios adicionais”, insinuando que a Aramco (SE:2222) poderia elevar sua capacidade produtiva além daqueles valores. No entanto, ele se recusou a fornecer mais detalhes, abrindo espaço para especulações.
Por anos, a Aramco foi capaz de produzir 12 mbpd, taxa essa exigida por lei em seu país. De acordo com a lei saudita de hidrocarbonetos, a Aramco deve ser capaz de atingir sua capacidade máxima sustentada no prazo de três meses a partir da requisição do governo e manter esse nível de produção por um ano.
Em abril de 2020, o governo ordenou que sua petrolífera estatal aumentasse a produção para 12 mbpd. Isso gerou um problema estratégico, porque impediu que a Arábia Saudita tivesse capacidade ociosa em caso de qualquer imprevisto (como um possível ataque de foguetes ou drones do Irã ou Iêmen).
Quando o governo saudita se deu conta do problema, ordenou que a Aramco fizesse os investimentos necessários para alcançar 13 mbpd, ou seja, a empresa deveria elevar sua capacidade de produção para aquele nível. É exatamente isso o que a Aramco tem feito, até onde se sabe, mas a companhia ainda não produziu mais do que cerca de 12,1 mbpd.
Na verdade, não há uma boa razão para a Aramco atingir sua capacidade máxima. Seria uma tarefa difícil, demorada e cara.
E o mais importante para os investidores é que, se a Aramco de fato elevar seu volume máximo de produção exigido por lei, não há qualquer indicação de que conseguirá atingi-lo. Esses rumores de que a Aramco pode aumentar sua capacidade de produção além de 13 mbpd não têm qualquer valor para o mercado neste momento.
Exportações petrolíferas do Irã
A Opep+ decidiu não tratar do potencial retorno do petróleo iraniano ao mercado, desde que as negociações nucleares entre EUA e o país persa foram prorrogadas. A expectativa agora é que o petróleo iraniano chegue legalmente ao mercado, no mais tardar, até agosto, porém o mais provável é que isso ocorra no fim do 3º tri.
Dependendo de como avancem as negociações, a Opep+ será obrigada a fornecer alguma projeção ao mercado quanto à forma como pretende reintegrar a produção iraniana no mercado em suas reuniões de julho ou agosto.