Na semana passada, a Opep+ concordou em cortar a produção em 2 milhões de barris por dia (mbpd) para os meses de novembro e dezembro. Essa redução de oferta é levemente maior do que os produtores estavam discutindo antes da reunião. A decisão teve um impacto imediato nos preços do petróleo, mas os investidores também devem ficar atentos a outras implicações importantes de ordem geopolítica e produtiva no mercado nos próximos meses.
O que a reação inicial do mercado evidencia
A cotação do barril teve uma forte reação na última quarta-feira com a notícia, e tanto o WTI quanto o Brent terminaram a semana com grande valorização. O WTI saiu de US$ 80 para quase US$ 93 por barril, e o Brent se moveu de US$ 85 para perto de US$ 98 por barril. Mas o mercado não conseguiu preservar esses ganhos no início desta semana, já que os operadores se lembraram de que uma recessão global pode ser iminente e que a alta de casos de Covid na China pode impactar a demanda petrolífera mais do que esperado. O barril de WTI caiu para US$ 87 e o de Brent, para US$ 92, no fechamento do pregão de quarta.
Esse tipo de reação do mercado evidencia que as preocupações da Opep+ em torno do enfraquecimento do consumo global não são infundadas.
Como o movimento da Opep impactará o mercado físico
Como discuti nesta coluna na semana passada, vários países produtores da Opep+ não estão conseguindo satisfazer suas cotas de produção, de forma que muitos não precisarão realizar qualquer corte de oferta. O acordo não prevê um corte adicional de produtores como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Iraque, cuja oferta está perto ou já atingiu suas cotas previstas. Isso significa que o número real de barris que devem sair do mercado a partir de novembro será significativamente menor do que 2 mbpd. O ministro do petróleo da Arábia Saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, acredita que o corte real de produção ficará entre 1 e 1,1 mbpd.
Contudo, isso depende da adesão dos produtores ao programa traçado pelo grupo. Tudo leva a crer que o Iraque não implementará o corte completo proposto. De acordo com uma reportagem do Wall Street Journal, os políticos iraquianos já estão expressando suas preocupações com os cortes. O principal candidato a ocupar o cargo de primeiro-ministro iraquiano já declarou publicamente que o país não pode se dar ao luxo de cortar sua produção e que pretende solicitar que a Opep reconsidere a participação designada ao país. De acordo com a matéria, esse sentimento é compartilhado por outras autoridades iraquianas. Segundo a S&P Global, o Iraque produziu 4,5 mbpd em setembro, um pouco abaixo da sua cota de 4,66 mbpd. O país teria que cortar a produção em 220.000 bpd a partir de novembro. No passado, o Iraque costumava exceder suas cotas de produção. É provável que o país se esforce para reduzir um pouco sua oferta, porém a expectativa é que não chegue nem perto do nível esperado. Por isso, os investidores devem levar em consideração que a adesão ao plano não será perfeita, ao fazer projeções para o mercado físico durante o resto de 2022.
Como a reação dos EUA à decisão da Opep+ pode impactar o mercado
As autoridades americanas teriam pressionado a Arábia Saudita e outros produtores do Oriente Médio a recuar em relação ao plano de corte de oferta, mas tais esforços não resultaram em nada. Agora, o presidente dos EUA, Joe Biden, profere ameaças dizendo que haverá “consequências” para os sauditas em decorrência da decisão do cartel. Não estão claras quais seriam tais consequências ou se terão um impacto significativo sobre o mercado petrolífero. Uma questão que vem sendo discutida é a retomada da legislação NOPEC. Se aprovada, o Advogado-Geral dos EUA poderia processar os produtores da Opep por práticas anticoncorrenciais. Tal ação tem potencial de gerar transtornos ao mercado petrolífero e de possivelmente elevar os preços do barril. Mas é um cenário bastante improvável. Outras possíveis reações tampouco devem gerar impacto no mercado petrolífero.