- A proibição do petróleo russo na Europa Ocidental provocou mudanças profundas no mercado e levou Moscou o ser maior fornecedor do produto para a Índia e a China;
- Arábia Saudita aumentou suas exportações para a Europa, mas ainda aposta na China para demanda futura.
- Aramco amplia presença na Ásia e reduz influência dos EUA.
A proibição do petróleo da Rússia importado pelo mar na Europa Ocidental provocou uma significativa reorganização do mercado. Exemplo disso foi a busca de novos clientes por Moscou, que se tornou o maior fornecedor petrolífero da Índia. A Rússia já era o segundo maior fornecedor de petróleo da China e, nos primeiros dois meses do ano, acabou ultrapassando a Arábia Saudita, assumindo a primeira posição. Mas já há sinais de que a supremacia do petróleo russo na Ásia talvez não dure muito tempo.
A Arábia Saudita aumentou suas exportações de petróleo e diesel para a Europa, mas eventos recentes na relação sino-saudita mostram que os árabes ainda apostam em Pequim como fonte mais importante de demanda no futuro.
Esse cenário tem várias implicações importantes para os investidores. A primeira é que a Aramco (TADAWUL:2222) claramente não considera a Europa um cliente confiável no médio e longo prazo. O Velho Continente pode voltar a adquirir petróleo bruto da Rússia, em razão da facilidade de transporte, e recentemente aprovou leis que permitem às montadoras da região vender veículos a gasolina ou diesel.
A segunda é a expectativa de aumento da demanda petrolífera da China para abastecer sua atividade industrial. Isso porque, embora grande parte do foco no curto prazo esteja voltada aos consumidores chineses, projeções mostram que a demanda industrial terá um crescimento mais robusto no médio e longo prazo.
No início desta semana, a Saudi Aramco anunciou diversos contratos novos com empresas de energia da China, o que lhe garante um mercado adicional de 690.000 barris por dia (bpd). A Aramco adquiriu uma participação de 10% na Rongsheng Petrochemical Co Ltd (SZ:002493), e o acordo contém ainda uma cláusula garantindo à estatal saudita o fornecimento de 480.000 bpd para a Zhejiang Petrochemical Corp (SZ:002648) pelos próximos 20 anos.
Além disso, a Aramco e a HAPCO, joint venture da estatal saudita com duas empresas chinesas, decidiram desenvolver um complexo petroquímico no nordeste da China, para o qual a Aramco fornecerá 210.000 bpd de petróleo. Para fins de referência, em janeiro, a Aramco exportou cerca de 1,2 milhão de bpd para o mercado chinês, segundo dados do TankerTankers.com. Esses negócios representam um aumento significativo das exportações petrolíferas sauditas para o país asiático, muito embora a refinaria petroquímica só seja concluída em 2026.
Geopoliticamente, as implicações desse cenário são importantes para os EUA. Com mais petróleo saudita vinculado a contratos de longo prazo na Ásia, os anseios americanos de preço e oferta serão ainda mais deixados de lado.
A Arábia Saudita e, por extensão, a Opep, agirão de acordo com seus melhores interesses, cada vez mais ligados a Pequim. Apesar da relevância da relação exportador-importador entre sauditas e americanos, o fato é que os árabes agora consideram a conexão com a China mais importante para suas pretensões de fornecimento.
Em razão disso, a expectativa é que a Opep e a Arábia Saudita se alinhem mais aos interesses econômicos e diplomáticos da China do que dos Estados Unidos.
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Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo. Publicado originalmente em inglês em 30/03/2023