O petróleo continua sendo uma das principais fontes de energia e acredito que continuará sendo pelas próximas décadas. Em 2015, a commodity correspondia, sozinha, a 33% da demanda global por energia.
Outro dado que ajuda a evidenciar a importância do petróleo é o número de contratos futuros em aberto. Através do gráfico abaixo, é possível constatar que o número de contratos cresceu exponencialmente no decorrer dos últimos anos.
Junto com a relevância que o ativo ganhou nas bolsas internacionais, a indústria passou por grades mudanças nos últimos anos, e são sobre essas transformações que vou comentar nos próximos parágrafos. O objetivo desta publicação não é determinar algum patamar de preço para a commodity, mas sim trazer ao conhecimento do leitor fatos e dados que possam ajudá-lo a compreender a dinâmica de preços do ativo e como isso afeta as economias globais.
Certa vez, o economista Thomas Carlyle disse que se você ensinar um papagaio a expressão oferta e demanda, você terá um economista. Certamente, esta variável é que mais afeta a dinâmica de preços do petróleo, em segundo plano existem outras que valem ser citadas, como por exemplo; taxa de juros, oscilações da cotação do dólar, custos de produção e interesses políticos.
Conforme é possível observar no gráfico abaixo, o preço do ativo apresentou uma brusca queda nos últimos anos. O preço do petróleo saiu de patamares superiores a U$100 por barril, para pouco menos de U$40 no início de 2016 e, atualmente, se encontra em franca ascensão, sendo negociado a faixas próximas a U$82 e U$72 por barril, para os tipos Brent e WTI respectivamente.
Para entender as movimentações anteriormente citadas, é necessário analisar como foi o comportamento da oferta e demanda no passado recente. Conforme podemos observar no gráfico abaixo, em um passado não tão distante, era possível observar a oferta e a demanda mundial andarem juntas na maioria das vezes.
Contudo, em 2014 nota-se a oferta se sobrepor a demanda. Logo, é intuitivo pensar que a queda dos preços observadas a partir de 2014 deve-se majoritariamente ao excesso de oferta.
Agora para entendermos o motivo do descasamento entre a oferta e a demanda, precisamos olhar para três dos principais atores, China, Estados Unidos a Opep. A partir de 2010 a China, segunda maior importadora de petróleo, começa a reduzir seu ímpeto econômico, conforme pode ser observado no gráfico abaixo, que apresenta a redução da produção industrial e do PIB, causando a estabilização da demanda por derivados de petróleo. Sendo que de 2014 em diante a produção industrial, apresenta retrações mais acentuadas, voltando a se estabilizar em meados de 2016. Ao mesmo tempo que o PIB, de igual modo mostra recuo, porém, com menor intensidade.
Na parte ocidental do globo, no período em análise, observa-se os Estados Unidos, maior importador de petróleo, mantendo sua demanda pela commodity, expandindo a produção, reduzindo as importações e por último, mas não menos importante, ampliando os seus estoques. No período em questão, também é possível observar a valorização da cotação do dólar frente às demais moedas mundiais, aqui vale mencionar a correlação negativa que o dólar e as commodities possuem, mas obviamente é importante ressaltar que não é uma correlação perfeita.
No que tange a Opep, no período em análise é possível observar a oferta crescendo em um ritmo mais acelerado que a demanda, e o cartel sendo responsável pelo excesso da oferta, sendo que a maior produtora do mundo, Arábia Saudita foi a maior contribuidora para tal, dado as suas grandes reservas e o baixo custo de extração, na expectativa que os Estados Unidos fosse absorver a produção.
O principal efeito dos fatos citados anteriormente em conjunto com a normalização da oferta e demanda, pode ser observado no gráfico abaixo, que mostra a redução da participação da Opep na oferta mundial. Para 2019, a International Energy Agency estima que a demanda por petróleo cresça 3% e 1,5% em relação à demanda de 2017 e 2018 respectivamente.
Ao mesmo tempo que a produção dos países não membros da Opep apresenta expectativa de expansão de 6,5% e 3% em relação à produção de 2017 e 2018 respectivamente. Se os demais fatores permanecessem inalterados, teríamos razões para acreditar que os preços da commodity iria se estabilizar, dado o crescimento da oferta maior que a demanda.
Contudo, não se pode fazer vista grossa para a Opep, que ainda é responsável pelo fornecimento de pouco menos de 40% da demanda de petróleo mundial. Atualmente, eu não consigo enxergar uma lacuna entre oferta e demanda, no entanto, acredito que a manutenção desta condição atual vai depender da capacidade de produção dos países não membros da Opep, dado que o cartel vem reduzindo consistentemente sua produção e capacidade produtiva, conforme pode ser observado no gráfico abaixo, com cortes maiores que o acordado, que tiveram início em 2017.
Outro fator que se deve observar são as exportações de países como Irã e Venezuela, detentores de uma relevante parte das reservas mundiais, que apresentam um fraco desempenho, por diferentes razões, sanções econômicas pelos Estados Unidos e a calamidade econômica em que a Venezuela se encontra.
Certamente, o principal efeito da elevação dos preços do petróleo seja a aceleração da inflação. A relação entre o preço do petróleo e a inflação ficou evidenciada nos anos 70, quando o preço do barril subiu de U$3, antes da crise em 1973, para aproximadamente U$40, durante a crise de 1979. Tal fato fez com o que um dos principais índices de mensuração de inflação nos Estados Unidos, CPI, Consumer Price Index, passasse de 41,2, pouco antes de 1972 para 86,3, próximo ao término da década de 80². Em uma perspectiva mais ampla, levou cerca de 24 anos para que o índice dobrasse (1947 - 1971), no entanto, durante a crise, levou apenas 8 anos para que o indicador dobrasse em um período de crise.
Para um futuro próximo, talvez o mais interessante seja observar os spreads entres os preços futuros e spot, na tentativa de tentar prever algum tipo de tendência para os preços, e conforme podemos observar no gráfico abaixo, de janeiro de 2018 em diante os spreads começam a apresentar viés de alta, ou seja os principais players começaram a acreditar de forma mais consistente na alta do ativo para o término de 2018 e início de 2019. De igual modo, é importante direcionar as atenções para os estoques de petróleo do maior importados mundial, Estados Unidos, que já começam a dar claros sinais de retração.
Conforme dito na ata da 217ª reunião do COPOM, estamos assistindo a normalização das taxas de juros em mercados globais, tanto em economias maduras, como Estados Unidos e em emergentes, a elevação do preço do petróleo pode fazer com que em um futuro próximo, a elevação das taxas de juros deixe de ser um movimento natural de normalização, para ser um artifício de contenção da escalada da inflação, deste modo, ocasionando uma desaceleração do crescimento mundial.