Publicado originalmente em inglês em 07/04/2021
O ministro do petróleo da Arábia Saudita, Abdulaziz bin Salman, é conhecido por sua soberba e humor na hora de fazer negócios.
Na tentativa de amedrontar os “ursos” do petróleo, ele invocou o policial durão do filme hollywoodiano Perseguidor Implacável, afirmando: “Alegrem meu dia”.
Para dizer ao mundo que o shale oil americano não é mais uma ameaça para a Opep, ele declarou que a “febre de perfuração” se foi para sempre.
Ocorre que, apenas um mês após seu vaticínio, a prolífica indústria de petróleo dos EUA está mostrando que o ministro estava errado.
Depois de produzir até 11 milhões de barris por dia (mbpd) durante vários meses, a previsão era que os perfuradores americanos bombeassem mais 100.000 bpd na última semana de março, segundo a EIA, agência de informações energéticas daquele país.
Mesmo assim, o volume de 11,1 mbpd não é nada para um país que liderou a produção mundial com mais de 13,1 mbpd antes de a demanda ser destruída pela pandemia de coronavírus.
Mais estatísticas sugerem que a próspera indústria americana pode estar ganhando nova vida.
O número de sondas nos EUA, que serve de indicativo da produção futura, ficou em 337 durante a semana encerrada em 26 de março, praticamente o dobro da mínima recorde registrada em agosto, de 172.
Embora essa quantidade seja metade da registrada antes da pandemia, de 683, mostra que a febre da perfuração associada à revolução da técnica de fraturamento nos campos de xisto americanos não acabou, como triunfalmente profetizou Abdulaziz no início de março. Pelo menos por enquanto.
Outros ministros sauditas também vaticinaram, em vão, o fim da ameaça americana à Opep
Abdulaziz não é o primeiro ministro saudita a vaticinar o fim da ameaça do petróleo americano à Opep, organização de 13 membros liderados por Riad, a qual ganhou a adesão de 10 parceiros sob os auspícios da Rússia na forma da aliança Opep+.
Antes de a Opep+ ser formada, em 2014, o ministro do petróleo saudita Ali Naimi tentou, de forma sutil, aniquilar a indústria americana abrindo totalmente as torneiras do reino na esperança de criar um excesso de oferta capaz de derrubar o mercado e levar os perfuradores americanos à falência. Ele conseguiu o que queria, mas apenas parcialmente.
Em 2015, pelo menos 67 empresas americanas de óleo e gás natural entraram com pedidos de falência, uma alta de 380% em relação ao ano anterior.
Mas o boom da técnica de fraturamento nos EUA não morreu. Ao contrário, consolidou-se após retirar os players mais fracos do jogo e logo começou a crescer novamente.
O número de sondas nos EUA saiu do recorde de 1.609 em outubro de 2014 para apenas 316 em maio de 2016. A partir daí, começou a se recuperar novamente, saltando para 873 em janeiro de 2019, antes do crash provocado pela Covid-19 em 2020.
Portanto, o que acabou não foi a ameaça do petróleo dos EUA sob a ação de Naimi, mas o reinado do ministro saudita. Ele foi substituído em 2015 por Khalid al-Falih. De fala demasiadamente amena, al-Falih não durou três anos no cargo.
Abdulaziz, um dos filhos do rei saudita Salman, foi indicado ao posto em 2019. Desde o primeiro dia, ele sempre deixou claro seu desejo de impedir que a superprodução dos americanos derrubasse o mercado.
Mas existem sinais mistos a indicar que a extração nos EUA pode continuar crescendo de forma tão dinâmica quanto tem demonstrado desde as mínimas da pandemia ou ser suprimida ao longo do caminho.
Na melhor das hipóteses, Abdulaziz pode ter controle parcial sobre o resultado ou sequer é capaz de prevê-lo corretamente.
Situação complicada
Uma pesquisa com executivos de empresas americanas de energia realizada pelo Federal Reserve de Dallas ao final de março mostra quão complicada está a situação.
A atividade e os gastos nos campos petrolíferos dos EUA estão em alta, à medida que a indústria se recupera da carnificina causada pela Covid-19, de acordo com participantes cautelosamente otimistas da enquete.
Embora os preços mais altos do petróleo tenham melhorado as expectativas para 2021, os entrevistados também demonstraram cautela com as mudanças de política potencialmente devastadoras promovidas pelo governo Biden ou sendo estimuladas pela Opep.
Um executivo citado pela Reuters afirmou:
“Apesar de a alta dos preços ser uma notícia positiva, a Opep+ é uma espada de Damocles: se os operadores americanos aumentarem as despesas de capital, a Opep+ abrirá as torneiras e inundará o mercado. O que existe é uma trégua tensa atualmente”.
Mas se a Opep aumentar sua produção primeiro, dará aos produtores americanos uma boa desculpa para elevar seu próprio espírito de competição.
Após um ano de cortes de produção, a aliança decidiu, na semana passada, bombear 350.000 bpd a mais em maio e junho e 400.000 em julho.
Mais da metade dos entrevistados disseram que não pretendiam contratar mais colaboradores devido a preocupações com as políticas de energia verde do presidente Joseph Biden.
De acordo com um executivo citado pela Reuters:
“Acredito que objetivo do governo é acabar com a nossa indústria, e ele envidará todos os esforços para fazê-lo”.
Mas os perfuradores norte-americanos ainda têm um ponto a seu favor: preços do barril de petróleo acima de US$ 60. Isso pode convencer os acionistas – que os obrigaram a adotar uma posição conservadora de caixa para não afetar seus dividendos – a lhes dar uma pausa.
Os entrevistados disseram ainda que não esperam que o mercado se afaste muito das suas máximas atuais. Algumas empresas disseram que seu breakeven estaria a US$ 50 por barril, US$ 1 acima do nível do ano passado, para perfurar na Bacia do Permiano, principal campo de xisto dos EUA.
Isso representa um prêmio de quase US$ 10 por barril, o suficiente para um aumento de produção, senão mais lento, pelo menos ao ritmo de março.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.