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Petróleo: enquanto Opep prevê demanda maior, Arábia Saudita corta produção; quem está certo?

Publicado 14.08.2023, 15:35
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A Opep, maior grupo produtor de petróleo do mundo, diz que a demanda está firme e vai melhorar até 2024. Porém, a Arábia Saudita, principal exportadora do cartel, tem tanto medo de preços mais baixos que precisa diminuir artificialmente a oferta com cortes profundos de produção.

Há anos existe uma desconexão entre a comunicação da Opep e a produção do seu principal país cofundador, a Arábia Saudita, que praticamente decide tudo em nome do grupo de 13 membros.

Tudo leva a crer que o relatório mensal do cartel sobre a oferta e a demanda do mercado é elaborado com um único objetivo em mente: conseguir o preço mais alto possível para o barril.

Com isso, o documento alterna entre cenários de alta demanda e consumo mais ameno. Quanto mais positiva é a perspectiva apresentada, maior é o potencial de preços mais altos para o petróleo, sendo que o contrário também é válido.

Quando a demanda parece duvidosa, é mais do que lógico que os produtores ajustem devidamente a oferta, e ninguém culparia os sauditas e outros membros do grupo por fazerem cortes na produção.

O problema, no entanto, é quando se percebe que a demanda está boa ou pelo menos estável. Aumentar os cortes na produção nesse momento, usando a ficção de excesso de oferta, desacredita o relatório da Opep, especialmente quando o grupo está sugerindo o oposto sobre o consumo.

Foi o caso do relatório de agosto da organização, divulgado dois dias antes deste artigo. O grupo manteve sua previsão de julho de que a demanda mundial de petróleo crescerá 2,44 milhões de barris por dia este ano e 2,25 milhões em 2024.

Indo na contramão dessa visão, os sauditas anunciaram um corte de um milhão de barris por dia para julho e agosto. Além disso, no início deste mês, pouco antes de uma reunião mensal da Opep+ (que reúne os 13 membros principais da organização e 10 aliados externos liderados pela Rússia), os sauditas anunciaram que o corte de um milhão de barris por dia vigorará até setembro.

Cortes “mais profundos” de produção à vista

Além disso, um comunicado da agência oficial de notícias da Arábia Saudita, citando o ministério de energia do país, continha uma informação importante sobre futuros cortes de produção: estes poderiam ser “prorrogados e até aprofundados”.

Há apenas uma razão para os sauditas fazerem tal ameaça: maximizar os preços do barril, gerando pânico em relação à oferta e assustar quem tem posições vendidas em mercados futuros e outros derivativos, algo que o reino já tentou fazer no passado, mas sem sucesso.

“Claramente, se o que a Opep diz sobre demanda for verdade, não há motivo para os sauditas continuarem reduzindo a produção no ritmo em que vêm fazendo, muito menos alertar sobre cortes iminentes mais profundos”, afirmou John Kilduff, sócio do fundo de hedge de energia de Nova York, Again Capital. “As ações sauditas demonstram claramente seu medo de que a demanda internacional não seja tão otimista quanto a Opep a descreve em seu último relatório mensal.”

Os comentários de Kilduff destacam os dados mais recentes da China, que mostram que as importações de petróleo caíram 2,412 milhões de barris por dia na comparação mensal, tocando a mínima de seis meses, ao somar 10,429 milhões de barris diários, devido à diminuição de estoques no maior importador mundial de petróleo.

Enquanto isso, na Índia, terceiro maior país consumidor de petróleo do mundo, a demanda por importações em julho ficou em 4,7 milhões de barris diários, abaixo das expectativas de Wall Street de 4,83 milhões. O crescimento anual da demanda na Índia também diminuiu de 190.000 barris por dia em junho para 84.000 em julho.

A Agência Internacional de Energia (AIE), com sede em Paris, informou, em sua própria previsão divulgada um dia depois da Opep, que a oferta internacional de petróleo caiu 910.000 barris por dia em julho, em parte devido a uma queda acentuada na produção saudita.

No entanto, as exportações da Rússia parecem ter se mantido estáveis em cerca de 7,3 milhões de barris diários em julho, conforme relatado pela AIE. Isso contradiz a afirmação do Kremlin de que estava contribuindo significativamente para os cortes na produção saudita. Na verdade, os russos exportaram muito mais petróleo este ano do que informaram aos parceiros da Arábia Saudita, bem como a qualquer outra pessoa que acreditasse em sua palavra.

O dinheiro do petróleo é fundamental para financiar a máquina de guerra do Kremlin contra a Ucrânia, que invadiu há 18 meses e ainda não conseguiu controlá-la. Além disso, até recentemente, as exportações petrolíferas russas estavam US$ 10 a US$ 15 por barril abaixo do preço de referência global do Brent, devido ao teto de preços imposto pelo G7. Esse desconto também frustrou os esforços sauditas para alçar o mercado petrolífero mundial.

Percepção dos países consumidores sobre a demanda é mais modera

A AIE estimou que a demanda mundial de petróleo atingiu um recorde de 103 milhões de barris por dia em junho e poderia atingir outro pico em agosto. No entanto, a previsão de crescimento de consumo da agência teve uma redução de 150.000 barris por dia em relação ao mês anterior. Sua função é prezar pelos interesses dos países consumidores de petróleo, mas parece ter uma compreensão mais precisa das condições globais de crescimento, na medida em que cita projeções econômicas da OCDE, ou Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países. Por outro lado, a Opep cita a demanda petrolífera da OCDE, mas não explora as previsões econômicas do bloco, o que torna suas previsões para 2023 e 2024 menos fundamentadas.

“O cenário econômico global continua desafiador diante das taxas de juros crescentes e do crédito bancário mais restrito, pressionando empresas que já estão lidando com a queda na produção e no comércio”, afirmou a AIE.

Para 2023, a agência prevê um crescimento de 2,2 milhões de barris por dia, em comparação com a previsão de expansão de 2,44 milhões da Opep.

Em uma base diária, a demanda para este ano deve ter uma média de 102,2 milhões de barris, segundo a AIE, com a China respondendo por mais de 70% desse crescimento, apesar das preocupações com a saúde econômica do maior importador mundial de petróleo.

Para 2024, a AIE prevê que o crescimento mundial do consumo de petróleo tenha um forte recuo, para 1 milhão de barris por dia, citando condições macroeconômicas fracas, uma recuperação pós-pandemia perdendo força e o aumento do uso de veículos elétricos.

“Com a recuperação pós-pandemia em grande parte concluída e diante de vários obstáculos que desafiam a perspectiva da OCDE, o aumento do consumo de petróleo desacelerou significativamente”, acrescentou a agência.

Então, por que será que a Opep ainda mantém uma perspectiva tão otimista para a demanda de petróleo, no momento em que os sauditas realizam cada vez mais cortes para “equilibrar” o mercado?

Ambos, como expliquei anteriormente, estão buscando aumentar os preços do petróleo, possivelmente até US$ 100 por barril ou até mais, independente do impacto inflacionário e de outras consequências negativas que isso poderia ter na economia mundial.

Com o Brent cotado em cerca de US$ 88 por barril e o petróleo dos EUA em pouco menos de US$ 84 no momento da redação, a missão saudita não está muito distante, mas, como mencionei, manter o mercado nesses níveis nunca foi fácil para o reino, que não pode ser culpado por falta de esforço.

Na verdade, a expressão "mercado equilibrado" para o petróleo é usada de maneira bastante criativa pelos sauditas e pelo restante da Opep. "Equilíbrio", na visão saudita/Opep, não tem nada a ver com o equilíbrio entre oferta e demanda que, em um mundo ideal, seria de 1 para 1. Não, no entendimento saudita/Opep, o mercado petrolífero é considerado equilibrado quando os preços do barril estão perto de US$ 100 por barril. Se os países consumidores conseguem comprar petróleo a preços acessíveis, o mercado é considerado extremamente desequilibrado - essa é a lógica da Arábia Saudita/Opep.

Erros sauditas pelos quais o mundo precisa pagar

No livro "The New Global Oil Market Order And How To Trade It", Simon Watkins afirma que, desde a criação da Opep em setembro de 1960, o principal objetivo do cartel - e de seu sucessor Opep+ - é "manter os preços do petróleo no mais alto patamar possível, pelo maior tempo possível, sem comprometer seus relacionamentos com clientes principais e/ou patrocinadores geopolíticos".

Watkins afirma que a Arábia Saudita, em particular, precisa que os preços do barril estejam elevados, pois ainda sofre com os danos financeiros estruturais que a acometeu durante as guerras de preços de 2014-2016, iniciadas para conter o boom da técnica de “fraturamento” nos EUA, responsável por inundar o mundo com petróleo barato.

De forma simples, Watkins afirma que a Arábia Saudita passou de um superávit orçamentário antes desse evento para um déficit recorde de US$ 98 bilhões em 2015. O país também “torrou” pelo menos US$ 250 bilhões de suas preciosas reservas cambiais nesse período, dinheiro que é considerado, até mesmo pelos sauditas mais graduados, como totalmente perdido. Watkins disse o seguinte:

"A necessidade de cobrir pelo menos parte desses enormes prejuízos levou à ideia de abrir parte do capital da ‘joia da coroa’ corporativa da Arábia Saudita - a Aramco (TADAWUL:2222). No entanto, o ambiente de investimento tóxico criado pelo reino com a guerra de preços de 2014-2016 foi tão prejudicial que ele teve que garantir o pagamento de dividendos sobre ações da Aramco para aumentar sua liquidez."

No final das contas, a Arábia Saudita ficou com a obrigação de pagar dividendos aos acionistas no valor de US$ 18,75 bilhões a cada trimestre, um total de US$ 75 bilhões por ano, declarou. "Em outras palavras, a Aramco foi deixada para pagar todos os anos cerca de três vezes o valor total que ela recebeu com o IPO."

As guerras de preços de 2014-2016 foram seguidas por um breve, mas ainda custoso, impasse em 2020 com a Rússia, que eclodiu durante o surto de covid-19, segundo Watkins. Nesse episódio, os sauditas destruíram vastas capacidades de perfuração de petróleo americanas ao criar um excesso global de oferta que levou o petróleo dos EUA a atingir valores negativos de até US$ 40 por barril.

Agora, em sua nova empreitada para remodelar a economia saudita, o príncipe herdeiro e futuro rei Mohammed bin Salman está mirando uma conta de US$ 7 trilhões. O plano “Visão 2030” gira em torno de um centro de trabalho, lazer e vida futurista chamado NEOM. O que parecia nobre há cinco anos é hoje caracterizado pela grandiosidade e falta de realizações, de acordo com consultores que trabalham no projeto. E os sauditas esperam que o resto do mundo pague por isso por meio do preço do barril.

"A Arábia Saudita precisa que os preços do petróleo sejam altos o suficiente não apenas para cobrir o legado financeiro terrível de suas desastrosas guerras de preços, mas também para financiar a vasta gama de projetos socioeconômicos necessários para manter sua família real no poder", acrescenta Watkins.

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Aviso: O conteúdo deste artigo é puramente informativo e não representa qualquer recomendação de compra ou venda de qualquer ativo tratado. O autor Barani Krishnan não possui posições nas commodities ou investimentos sobre os quais escreve. Ele geralmente utiliza uma variedade de visões além da sua para promover a diversidade da análise de qualquer mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias.

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