Eventos capazes de mudar o mercado são imprevisíveis, mesmo no curto prazo. Ninguém conseguiu prever que a notícia envolvendo a variante ômicron faria o petróleo cair em plena Black Friday.
Por isso, não se sabe de onde virá o próximo evento capaz de movimentar o mercado. Tudo leva a crer, entretanto, que as condições atuais favorecem a estabilidade do petróleo pelo resto de 2021.
Apresentamos abaixo alguns aspectos que nos levam a crer que o petróleo ficará consolidado na faixa de US$70, bem como fatores que podem provocar sua queda ou valorização no fim de ano.
Por que os preços do barril devem permanecer relativamente estáveis na faixa de US$70?
O mercado está agora menos preocupado com os impactos econômicos da ômicron. Isso se deve ao fato de que novas informações dão conta de que a variante pode ser menos grave. Além disso, a maioria dos países indica que não irá impor restrições mais severas a viagens ou deslocamentos, o que poderia prejudicar a demanda petrolífera. (O Reino Unido é uma exceção, além de outras, como mostraremos abaixo).
Diante da notícia de que a Opep+ iria dar prosseguimento ao seu aumento planejado de oferta de 400.000 barris por dia (bpd) em janeiro, os preços do petróleo chegaram a cair levemente, pois muitos investidores foram pegos de surpresa, esperando um posicionamento diferente da organização.
Mas os preços recuperaram-se rapidamente, principalmente depois que a Aramco (SE:2222) aumentou seus preços oficiais de venda para a Ásia e Estados Unidos, com entrega em janeiro. Esse é um sinal de confiança na economia global e pouca preocupação dos produtores petrolíferos com o impacto da variante ômicron sobre o petróleo.
A produção petrolífera norte-americana continua registrando apenas um crescimento marginal, o que ajuda a respaldar os preços, mesmo com um aumento de produção da Opep+. Há duas semanas, a produção dos EUA se mantém estável em 11,5 milhões de bpd, com uma alta de apenas 100.000 bpd, segundo a EIA, agência de informações energéticas do país.
Essas modestas elevações ocorreram apesar de várias semanas de preços em alta. A oferta comedida dos produtores norte-americanos, ao contrário do seu posicionamento em anos anteriores, quando costumavam aumentar significativamente a produção, está ajudando a manter um piso sob os preços.
A demanda de petróleo durante o resto de 2021 e início de 2022 pode ser mais fraca do que se previa anteriormente. A EIA agora espera uma menor retirada de petróleo dos estoques ao longo de dezembro de 2021. Além disso, o órgão recentemente revisou para baixo sua previsão de demanda para o 1º tri de 2022, com queda de 550.000 bpd. A expectativa de menor demanda pode evitar uma alta acentuada do barril antes do ano-novo.
As festas de fim de ano estão chegando, e a tendência é que as negociações arrefeçam, com grande parte do mundo entrando em clima de celebração. Salvo em caso de notícias de grande impacto, os preços do petróleo devem se consolidar na faixa de US$70 pelo resto do ano.
O que pode fazer os preços caírem
Contudo, mesmo durante as festas de fim de ano, é possível que novas notícias façam o petróleo cair, como ocorreu na Black Friday. Um exemplo seria a volta da imposição de medidas restritivas nos países europeus, em caso de alta nas infecções por Covid.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pediu que as pessoas trabalhassem de casa e restabeleceu normas de uso de máscaras em ambientes fechados. Isso pode ser um sinal de mais restrições capazes de impactar a demanda na Europa. Se as políticas de Johnson derem início a uma tendência – especialmente se houver mais restrições a viagens domésticas e internacionais –, pode ser que os preços caiam mais no ano-novo.
O que pode fazer os preços subirem
Se os grandes bancos começarem a fazer projeções altistas para 2022, antes do fim do ano, é bem provável que os preços voltem a subir. De fato, o JPMorgan Chase & Co (NYSE:JPM) (SA:JPMC34) afirmou, na semana passada, que seus analistas acreditavam que os preços do barril poderiam alcançar a marca de US$125 em 2022. No início desta semana, o banco de investimento fez sua projeção para 2022, prevendo que o vigor da economia mundial alçaria os preços. A questão é a seriedade com que os operadores podem encarar essas projeções em termos de posicionamento no mercado.
Outra possibilidade, ainda que remota, seria uma invasão da Ucrânia pela Rússia. O subsecretário de estado dos EUA acaba de emitir um alerta, dizendo que forças militares russas se concentravam perto da Ucrânia em número muito maior do que no momento da invasão da Crimeia, em 2014.
A Rússia é a terceira maior produtora petrolífera do mundo e seu petróleo pode sofrer algum tipo de sanção dos EUA, em caso de ação militar na Europa. Cabe lembrar ainda que a Rússia fornece mais da metade do gás natural da União Europeia, sendo que grande parte dos gasodutos passam pela Ucrânia. Um conflito envolvendo a Rússia poderia causar uma disparada dos preços, enquanto o mundo tenta compreender suas implicações.