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Foram necessárias apenas três semanas para que o mercado petrolífero digerisse os surpreendentes cortes voluntários anunciados pela Opep+. Depois que a aliança anunciou em 2 de abril que, a partir do mês seguinte, os países produtores do grupo cortariam no total 1,16 milhão de barris por dia (mbpd), o Brent saltou 6%, para US$ 85, e o WTI alcançou a marca de US$ 80 por barril. Um pouco mais de três semanas depois, os preços voltaram ao patamar em que se encontravam no final de março. O Brent era negociado abaixo de US$ 80 por barril na quarta-feira, 26.
No fim de 2022, os bancos e seus departamentos de análise emitiram previsões de que voltaríamos a ver o petróleo cotado a três dígitos em 2023. A preocupação na época era que a demanda superasse a oferta. Muitos acreditavam que a reabertura da China provocaria um vigoroso aumento do consumo e que a imposição de sanções e restrições às exportações marítimas de petróleo da Rússia pelos EUA e a UE prejudicaria a oferta global. No entanto, houve um retorno constante da demanda dos consumidores chineses, mas os indicadores de demanda industrial do país permaneceram mistos.
De fato, com base nas informações sobre as operações de refino, importações de petróleo e exportações de produtos derivados da China, tudo leva a crer que a demanda local no primeiro trimestre foi fraca. Menos produtos petrolíferos foram consumidos no mercado interno, mesmo com as operações de refino em níveis elevados, o que levou a um aumento dos estoques.
Pode ser que a China esteja armazenando o produto para o fim do ano, quando a expectativa é que os preços subam, mas também pode ser que a demanda local esteja aquém das expectativas. É bem possível que as autoridades chinesas implementem medidas de estímulo para aumentar a demanda industrial, mas o enfraquecimento da economia mundial pode acabar gerando problemas para o setor manufatureiro do país que o governo pode não ser capaz de resolver com medidas internas.
Toda vez que são divulgados dados econômicos preocupantes nos EUA e na UE, a reação dos preços do petróleo é para baixo. Na semana passada, foram os números levemente maiores de emprego e o acúmulo inesperado de estoques de gasolina nos EUA.
Nesta semana, foram os dados da pesquisa industrial do Fed de Dallas, que mostraram que houve pouco crescimento na produção manufatureira e um índice de produção próximo a zero. Esses dados não necessariamente indicam uma desaceleração econômica global, mas o mercado está tão agitado que cada dado aquém das expectativas gera movimentos exagerados nos preços do petróleo.
Até mesmo o governo Biden deve admitir que a Opep estava certa em cortar a produção em outubro e também em abril. A Opep afirma que está tentando evitar uma queda nos preços do petróleo, como em 2008, que exigiu uma ação de emergência do cartel. Outros afirmam que a organização está tentando elevar os preços, devido às restrições orçamentárias dos países produtores.
Independente das razões que levaram a Opep a cortar a produção, está claro que o grupo ainda pode influenciar os preços, alterando o fornecimento de petróleo. No entanto, pode ser que isso não seja suficiente para combater a percepção de queda na demanda. A ação da Opep em abril teve forte impacto, pois foi recebida com surpresa pelo mercado. Esse elemento, no entanto, desapareceu, e o mercado agora antecipa mais cortes de produção da Opep, mesmo que o grupo afirme que a produção permanecerá estável.
À medida que nos aproximamos da metade do ano, quando a demanda petrolífera tende a aumentar durante o verão no hemisfério norte e os cortes da Opep começam a ser sentidos, poderemos ter uma ideia melhor da efetividade da ação da Opep e saber se serão necessárias mais medidas da organização, a fim de respaldar os preços, com base nos dados de oferta e demanda.
Tudo isso faz com que a expectativa para o futuro seja de volatilidade nos preços do petróleo. O mercado petrolífero tende a reagir forte a todos os indicadores econômicos daqui para frente. A Opep+ também demonstrou estar disposta a intervir nos preços efetuando cortes de produção na medida do possível, ainda que, a cada decisão de fazê-lo, seu efeito se dissipe.
Os investidores devem ficar atentos a economias como Índia e China, cujos governos podem adotar medidas no sentido de aumentar a demanda doméstica, especialmente se os preços estiverem relativamente baixos e se houver disponibilidade de petróleo russo barato.
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Aviso: A autora atualmente não possui nenhum dos ativos mencionados neste artigo.
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