O governo Biden anunciou, nesta semana, mais uma liberação de 15 milhões de barris de petróleo das Reservas Estratégias dos EUA. A iniciativa teve início nos primeiros meses de 2022, na tentativa de combater a alta dos preços do petróleo e da gasolina, provocada pela invasão da Rússia na Ucrânia. O plano da atual administração era liberar, no total, 180 milhões de barris entre os meses de março e outubro. Agora, Biden mudou as projeções para fornecer os últimos 15 milhões de barris do volume original em dezembro, e não mais em neste mês.
A razão para essa mudança provavelmente é política. Em novembro, haverá eleições para todos os membros da Câmara dos Representantes e um terço do Senado americano. A percepção é que, se os preços da gasolina e de energia estiverem muito altos, os eleitores preteririam os democratas em favor dos republicanos. Atualmente, os democratas têm uma participação maior que a dos republicanos na Câmara, contra os quais dividem o Senado em 50/50. Se os republicanos ganharem a maioria no Congresso, a agenda legislativa de Biden provavelmente seria bloqueada por dois anos.
As vendas regulares da Reserva Estratégia provavelmente ajudaram a reduzir os preços da gasolina nos EUA e de certa forma contribuíram para rebaixar a cotação do barril no mundo, já que parte dos volumes foi destinado à exportação. O plano original desse aumento planejado de oferta se encerraria no mesmo momento em que a Opep+ introduziria seus cortes de produção de 2 milhões de barris por dia (mbpd), coincidindo com as eleições de 8 de novembro. Os democratas temiam que a disparada dos preços da gasolina desta vez impactasse negativamente suas chances nas pesquisas.
A lição imediata mais importante para os investidores é que a liberação de 15 milhões de barris corresponde ao volume final da injeção de 180 milhões de barris no mercado, e não uma oferta adicional. Outro fator relevante é que esse aumento de oferta ocorrerá em dezembro, não mais em outubro, portanto não haverá mais a simultaneidade entre os novos cortes de produção da Opep+ e o fim das liberações das Reservas Petrolíferas no início do mês que vem.
Os investidores também devem ficar atentos a dois novos desdobramentos da política de liberação das reservas petrolíferas pela atual administração. Primeiro, o assessor de energia da Casa Branca, Amos Hochstein, afirmou, na quarta-feira, que o governo Biden está considerando intensificar o programa de aumento de oferta durante o inverno, se necessário. Ou seja, tudo indica que novas liberações das reservas estratégicas serão feitas, caso haja um repique dos preços da gasolina ou um corte maior de produção da Opep+. Nenhuma dessas políticas é sustentável, e os investidores precisam estar preparados para a reação do mercado global ao eventual fim dessas liberações da reserva estratégia americana. Se isso acontecer em um momento de restrição de oferta de barris, a expectativa é que haja um salto nos preços. Porém, caso o fim do programa ocorra durante uma queda na demanda mundial, devido a uma recessão econômica (algo cada vez mais previsto por economistas e banqueiros), o mercado provavelmente não sentirá muito efeito. A recessão global provavelmente negará o impacto do fim das liberações das reservas estratégias dos Estados Unidos.
O segundo ponto é que a atual administração pretende recompor os estoques estratégicos comprando petróleo a preços entre US$ 67 e 72 por barril. O governo Biden espera que isso incentivará os produtores norte-americanos a “abrir as torneiras”. Contudo, é bem difícil que isso aconteça, na medida em que a maioria dos produtores acredita que o preço do mercado estará mais alto do que esse no futuro, de acordo com uma pesquisa do setor energético conduzida pelo Fed de Dallas. Há uma situação em que isso poderia incentivar os produtores petrolíferos norte-americanos. Se uma recessão mundial gerar um colapso nas cotações do barril, fazendo-o ficar abaixo de US$ 72, os produtores podem se interessar pelo valor de US$ 67 que o governo americano estaria disposto a pagar, caso não venha a mudar seu preço de compra. A recomposição dos estoques estratégicos dos EUA no momento em que a demanda mundial sofre um colapso pode fornecer um bom suporte e ajudar a indústria petrolífera americana.