Quem acompanha o twitter de figuras relacionadas às criptomoedas certamente já não aguenta mais Roger Ver, investidor responsável pela Bitcoin.com e forte partidário do Bitcoin Cash, falando todos os dias de “menores fees” e sobre como “Bitcoin Cash é o Bitcoin de verdade!”. Uma vitrola quebrada é desagradável mesmo para quem vê legitimidade no projeto, mas infelizmente o problema é maior que só a chatice do sujeito. A principal questão é que mesmo vendo aspectos positivos no Bitcoin Cash, esse argumento de que “o Bitcoin Cash é um meio de pagamento enquanto o Bitcoin Core é uma reserva de valor” é francamente mentira. Nenhum das duas tecnologias é realmente um meio de pagamento válido porque ninguém realmente usa para pagamento.
Podemos afirmar categoricamente que a aplicação de criptomoedas que está se consolidando é ser uma reserva de valor, não um meio para transações frequentes. Apesar de haver, sim, pagamentos de serviços e salários com criptomoedas, o uso que sempre discutimos é como investimento. Qualquer outro uso além desse é, de certa maneira, um otimismo a respeito da tecnologia. Ainda não temos algo pronto, mas idealmente uma ampla adoção ocorrerá se bons desenvolvedores conseguirem desenvolver algo útil para um conjunto considerável de usuários. O que é necessário discutir é se as tecnologias subjacentes às criptomoedas têm capacidade de suportar algum desses aplicativos.
Essas tecnologias existem há apenas 10 anos, mas há alguns observadores que já vêem com pessimismo o fato da grande maioria dos projetos surgidos nesse meio tempo -- como quase todos ICOs -- terem morrido sem qualquer uso prático. Será que há chances de as atuais tecnologias vingarem? Empiricamente, a resposta é não. Contudo, há algum componente faltando para maior adoção? Se olharmos o roadmap dos projetos que sobreviveram, a resposta é sim. Muito do que há de mais interessante não tem solução técnica trivial, mas não podemos descartar que ainda há tecnologias com o potencial de mudar como se usam criptomoedas.
Um exemplo são os oráculos. Essa tecnologia permite acessar dados externos às blockchains e operacionalizá-las de maneira descentralizada. Com essa tecnologia, as aplicações financeiras de blockchains aumentam por ter mais informação para criar contratos derivativos. A Chainlink, especializada neste problema de oráculos, terá sua mainnet lançada dia 30. O objetivo dessa tecnologia é garantir conexão segura entre fontes de dados externas a serem ligadas em blockchains. A moeda teve grande aumento de preço recentemente, reforçando a crença dos investidores na sua tecnologia e competência. Não há como rejeitar que ainda há a busca por alternativas críveis.
Ainda há projetos de que estão bem no núcleo da infraestrutura que as criptomoedas representam. Há também outras inovações menos perceptíveis, como mudanças no design para facilitar a atração de usuários menos qualificados. Isso é um resultado análogo à internet, que demorou mais de 20 anos para escalar socialmente. Por agora, não há grandes motivos para pessimismo. Dez anos ainda são pouca coisa e a infraestrutura ainda está bem no começo de seu desenvolvimento. Para quem busca investimentos de longuíssimo prazo, é uma aposta de alto risco como toda inovação disruptiva, sem dúvidas, mas não é uma aposta que merece ser vista com pessimismo.