O mercado de criptomoedas vem sofrendo consideravelmente desde o final de 2021. Além da inflexão macroeconômica com o aperto monetário nas principais economias do mundo, o segmento enfrentou seus próprios desafios com a quebra de diversos players, como Three Arrows Capital e Terra Luna em maio de 2022 e da corretora FTX em novembro, o que contribuiu para uma liquidação forçada nos ativos. Esses eventos levaram a uma queda de 64% no preço do bitcoin em 2022 e a uma redução significativa no tamanho do mercado. No entanto, as perspectivas para os próximos anos são bastante positivas, com uma confluência de fatores que podem beneficiar o setor no longo prazo.
Após a “limpeza” ocorrida na indústria no ano passado, o ano de 2023 marcou o início da recuperação do mercado, com destaque para a valorização expressiva do bitcoin. Um dos fatores que contribuíram para isso foi a crise bancária americana em março, que culminou na quebra de alguns bancos como Silicon Valley e Silvergate e reforçou a narrativa do bitcoin como alternativa de reserva de valor. Outro fator positivo foi a aplicação da Blackrock por um ETF spot de bitcoin em junho, um produto superior ao ETF de futuros que existe atualmente no mercado – dada a proximidade da gestora com o governo e órgãos reguladores americanos e o excelente track record em aprovações de ETFs, o mercado se animou com a possibilidade de aprovação desse produto.
O ano de 2023 também marca o início do aperto regulatório nos Estados Unidos, com a “SEC” (Comissão de Valores Mobiliários americana) processando algumas das principais corretoras do mercado, como a Coinbase (NASDAQ:COIN) e a Binance, por oferta irregular de valores mobiliários, entre outras acusações, e ordenando a Kraken a descontinuar seu serviço de staking. A emissora de stablecoins Paxos também não escapou do escrutínio regulatório e teve de suspender a emissão de “BUSD”, stablecoin ligada a corretora Binance, no início do ano. A ausência de uma legislação clara para o setor e o comportamento da SEC de regular por imposição certamente são um “overhang” para a indústria, pois afasta o interesse do investidor institucional - um dos reflexos desse ambiente incerto foi a saída dos market makers Jane Street e Jump Capital do mercado em maio, o que contribuiu para a redução na liquidez do mercado.
Outros três “overhangs” de curto prazo no mercado são a venda dos bitcoins relacionados ao mercado negro Silk Road, apreendidos pelo governo americano – cerca de U$500 milhões já foram negociados este ano e a expectativa é que os cerca de U$900 milhões restantes sejam vendidos ainda em 2023 – a distribuição de aproximadamente 137k bitcoins (cerca de U$ 4bilhões) para os clientes da extinta corretora Mt.Gox, esperada também para esse ano, que pode gerar um choque de oferta no mercado, e a liquidação dos ativos da corretora FTX (cerca de U$ 1.5bi), aprovada em setembro e que deve ocorrer nos próximos meses.
Apesar de tantas adversidades, é importante ressaltar o grande avanço tecnológico que está ocorrendo na indústria nos últimos anos, que está cada vez mais próxima de atingir escalabilidade – podemos destacar o advento das blockchains de segunda camada, que contribuíram para reduzir de forma significativa os custos de transação na rede Ethereum e o desenvolvimento de soluções de interoperabilidade entre diferentes redes. Outro grande foco dos desenvolvedores foi a construção de aplicações orientadas para a experiência do usuário, abstraindo a complexidade da tecnologia blockchain e possibilitando o acesso àqueles sem familiaridade prévia.
Olhando para frente, podemos observar uma série de fatores que tornam as perspectivas para a indústria muito positivas nos próximos anos: (1) afrouxamento na política monetária – historicamente os ativos digitais respondem positivamente à injeção de liquidez na economia; (2) “halving” do bitcoin no início de 2024, que é um evento muito positivo para o setor e marcou o início dos últimos bull markets (acontece a cada quatro anos); (3) avanço na regulação, que pode ser acelerado pela eleição americana no ano que vem ou pelo fim dos litígios judiciais em aberto; (4) redução dos “overhangs” relacionadas à oferta de bitcoins mencionada anteriormente e (5) desenvolvimento tecnológico da indústria, que irá permitir o surgimento de novos casos de uso. Um fator que corre por fora e poderia acelerar o início de um novo bull market seria a eventual aprovação de um ETF spot de bitcoin.
Portanto, considerando a superação dos desafios recentes e os fatores positivos que se desenham para o mercado de criptoativos, parece que o pior já pode ter ficado para trás. Nesse contexto, os investidores têm agora uma oportunidade atrativa para iniciar a montagem de uma carteira de investimentos em criptoativos com foco em longo prazo para colher os benefícios de um eventual próximo ciclo de alta.