O volume de algodão a ser colhido no Brasil na safra 2019/20 será quatro vezes superior à quantidade estimada para a demanda doméstica – em 2018, a produção estava três vezes acima do consumo e, até 2017, correspondia por pouco mais que o dobro. Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, isso significa que o Brasil tem condições – e necessidade – de atender à demanda mundial durante todo o ano de 2020.
Esse cenário é resultado da manutenção da área plantada com a pluma no País. Ainda que os preços internos do algodão no segundo semestre de 2019 tenham ficado quase 20% menores que os registrados no mesmo período de 2018, a atratividade da cultura frente a concorrentes, os investimentos em ativos fixos (como máquinas, equipamentos e beneficiadoras) e os contratos antecipados para 2020 e 2021 incentivam produtores.
Em relatório divulgado em janeiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou área de 1,66 milhão de hectares na safra 2019/20, aumento de 2,7% na comparação com a temporada anterior. A produtividade média estimada inicialmente é de 1.658 kg/ha (-1,6%), o que deve elevar em 1,1% a produção nacional, chegando em 2,76 milhões de toneladas.
Mato Grosso deve aumentar em 2,3% a área, para 1,12 milhão de hectares, mas a produtividade pode cair 1,1% (1.643 kg/ha), resultando em produção de 1,84 milhão de toneladas, 1,1% acima da anterior. Para a Bahia, a Conab projeta área de 350 mil hectares, aumento de 5,4% frente à safra 2018/19. No mesmo comparativo, ainda que a produtividade média recue 3,4%, para 1.738 kg/ha, o volume produzido deve se elevar em 1,8%, totalizando 608,4 mil toneladas. Estes dois estados, juntos, correspondem por 89% da produção nacional.
A equipe de custos agrícolas do Cepea aponta que, em Mato Grosso, o Retorno por Real Investido sobre o Custo Total (RRCT) do sistema soja + milho 2ª safra passou de -15% em novembro/18 para +3% em novembro/19, devido aos constantes aumentos nos valores desses grãos. Neste mesmo período, o RRCT do algodão safra saiu de +7% para -6% e o sistema soja + algodão 2ª safra de 12% passou para 4% em novembro/19. Em 2018, as rentabilidades do algodão safra e do sistema da pluma com soja estavam mais elevadas, em 17% e 23%, respectivamente. Para a temporada 2019/20, as estimativas apontam certa estabilidade nos níveis de custos de produção por unidade de área.
Em 2019, o Brasil exportou 1,61 milhão de toneladas, segundo dados da Secex. Expectativas são de que esse volume seja alcançado também de agosto/19 a julho/20 (período em que o produto da safra 2018/19 está disponível). Para os 12 meses seguintes (de agosto/20 a julho/21), a expectativa é de que os embarques somem mais de dois milhões de toneladas.
Um fator a se atentar é o recente acordo comercial entre os Estados Unidos e a China. Isso porque, desde 2018, as exportações brasileiras de algodão foram favorecidas com a guerra comercial entre os dois países. Certamente, o expressivo comprometimento de pluma via contratos antecipados para os mercados interno e externo podem amenizar impactos de curto prazo, mas, no médio e longo prazos, poderá haver ajustes nas compras, especialmente por parte da China, maior comprador da pluma brasileira nos últimos dois anos.
Dados de janeiro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam produção mundial de 26,23 milhões de toneladas (+2% frente a temporada anterior) na safra 2019/20. O consumo global deve permanecer estável se comparado à temporada anterior, em 26,18 milhões de toneladas. A comercialização pode totalizar 9,5 milhões de toneladas, com avanços de 3,9% nas importações e de 6,1% nos embarques frente aos da temporada anterior. Já o estoque mundial foi estimado em 17,3 milhões de toneladas para a temporada 2019/20, alta de apenas 0,1% sobre a safra 2018/19.