Segundo pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, 2019 deve ser de incertezas quanto à quantidade ofertada de mandioca, visto que, em 2018, produtores optaram pela colheita de lavouras de um ciclo. Assim, são poucas as lavouras de dois ciclos para este ano. Vale ressaltar que devido aos bons preços observados entre meados de 2016 e boa parte de 2018, muitos mandiocultores persistem na atividade. Além disso, o clima pode ser determinante para a oferta de raízes em 2019.
Muitos produtores voltaram a investir na cultura em 2018. Apesar de as cotações de raiz de mandioca cederem mais de 50% no ano passado, ainda eram atrativas. Desta maneira, para 2019 é esperada elevação na área, que deve ser de lavoura de um ciclo, visto que muitos mandiocultores intensificaram a colheita de raízes mais novas em 2018. Quanto ao clima, o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) indica probabilidade de 80% do fenômeno El Niño no primeiro trimestre, diminuindo para 49% no segundo trimestre, voltando a neutralidade somente no período compreendido entre junho e agosto.
Assim, a intensão pela colheita irá depender dos patamares de preços. Segundo colaboradores do Cepea, em caso de cotações abaixo dos patamares atuais (na casa de R$ 0,60 por grama de amido), produtores devem optar pela poda e pela colheita no final de 2019 ou mesmo início de 2020. Porém, se os preços estiverem superiores a R$ 0,75/grama podem ser considerados atrativos para a atividade.
No campo, há relatos de incidência de bacteriose em parte das lavouras implantadas no primeiro semestre do ano passado. Por outro lado, aquelas cultivadas nos últimos meses de 2018 apresentam melhor desenvolvimento vegetativo. Desta forma, a produtividade deve ser divergente entre regiões e lavouras de diferentes períodos de plantio.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta diminuição de 3% na área plantada com mandioca no Brasil entre 2016 e 2017. Para este ano, a Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab/Deral) estima um crescimento de 8% na área disponível com raiz no estado, que deve chegar a 154,13 mil hectares. Ainda, é esperado aumento de 3% na produtividade agrícola, que deve ser de 24,5 toneladas por hectare. Assim, a produção paranaense deve atingir 3,4 milhões de toneladas neste ano, 11% acima da temporada 2017/18.
O volume de processamento deve ter aumento ainda mais expressivo em 2019, importante fator para reduzir a ociosidade e os custos industriais, uma vez que nos anos anteriores as empresas trabalharam, em média, com 50% da capacidade instalada.
Quanto ao Nordeste, em 2019, deve ter raízes suficientes para atender à demanda local. Dependendo das condições climáticas, a área plantada pode crescer nos estados de Alagoas e Pernambuco, que têm se destacado como importantes polos produtores de raízes e de farinha, que atendem os demais estados da região.
FÉCULA - Com o possível aumento na oferta de raízes para 2019, a produção de fécula pode superar à dos dois últimos anos. Assim, empresas devem otimizar o uso de capacidade instalada, ter preços competitivos e até mesmo aumentar a participação no mercado no longo prazo. Além disso, há a possibilidade de melhora no cenário econômico, bem como nas negociações.
Expectativas de mercado compiladas pelo Banco Central do Brasil (Bacen) apontam que o PIB brasileiro deve crescer 2,55% em 2019. A inflação medida pelo IPCA é estimada em 4%, podendo ter resultados favoráveis sobre o consumo, inclusive no varejo. Quanto à produção industrial, é esperado um avanço de 3,2% neste ano, o que pode favorecer vários setores, como o alimentício.
Um indicador de margem da indústria de fécula é a relação entre o preço médio da fécula e o da raiz de mandioca. Em termos nominais, entre 2017 e 2018 ficaram em respectivos 5,25 e 5,54, os mais baixos de toda a série histórica, iniciada em 2002. Para este ano, há a expectativa de uma melhora nesta relação.
Do lado concorrente, colaboradores do Cepea sinalizam que a produção nacional de amido de milho caiu em 2018, por conta da saída de alguns players do mercado, levando os preços para patamares acima de R$ 1.800,00/t (CIF São Paulo). Para este ano, agentes do mercado de amidos têm expectativa de que os preços daquele produto continuem elevadas, o que poderá ampliar a participação da fécula em mercados estratégicos, caso do papel e papelão, por exemplo.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), há a possibilidade de crescimento de 5% na área plantada com mandioca na Tailândia. Assim, a produção de fécula pode se recuperar e os preços internacionais, caírem. Por outro lado, praticamente toda a produção daquele país (~80%) está comprometida em atender à demanda chinesa, que cresce a cada ano.
Para o Brasil, mesmo com possível maior excedente exportável, não tem sido tradição explorar novos mercados. As transações devem ficar concentradas no Mercosul e nos demais países das Américas.
FARINHA – Em 2018, a retomada da produção, associada à demanda fraca, pressionou fortemente as cotações da farinha de mandioca em todas as regiões do Brasil. Para 2019, o volume produzido pode continuar acima da quantidade demandada, o que manteria os valores pressionados. Assim, não há expectativa de melhora nas margens das farinheiras para 2019.
Nos últimos anos, os padrões de consumo da farinha crua em todas as regiões brasileiras têm mudado, com redução da demanda. Agentes do mercado apontam que no varejo tem tido busca por produto com valor agregado. A partir disso, algumas empresas já sinalizam avançar ao menos na produção de farinha biju.
Vale ressaltar que como o Nordeste retomou sua produção de mandioca e de farinha em 2018, deve continuar autossuficiente e com preços mais competitivos, podendo inclusive atender parte dos mercados do Centro-Sul. Com isso, os tradicionais polos produtores do estado de São Paulo e do Paraná devem continuar atendendo aos mercados regionais, especialmente às empacotadoras.
No final de 2018 foi a proibido o uso de corantes (mesmo natural) na produção de farinha de mandioca, o que certamente poderá ter impactos ainda mais expressivos sobre o consumo, uma vez que são poucas as variedades disponíveis para se produzir a farinha naturalmente amarelada, cujo produto é consumido especialmente no Nordeste. Isso deverá levar os atores envolvidos a buscar articulações para minimizar o problema.
Com a possibilidade de preços baixos, em 2019 pode ter necessidade de intervenção governamental sob a forma das Aquisições do Governo Federal (AGF), por exemplo. Este será um dos grandes desafios às entidades representativas do setor, uma vez que o quadro político será outro no Brasil.