Após registrar produção recorde na temporada 2018/19, o Brasil deve colher uma boa safra em 2019/20, conforme indicam pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Apesar da bienalidade negativa em grande parte dos cafezais de arábica nesta temporada, o clima tem favorecido o desenvolvimento das lavouras, o que pode elevar a produtividade dos cafezais. Nesse cenário, os preços interno e externo do arábica podem seguir em patamares inferiores aos observados em outros anos de bienalidade negativa.
Além do contexto positivo para o arábica, a produção de robusta também deve ser elevada em 2019/20. As chuvas volumosas a partir de agosto de 2018 favoreceram a recuperação dos cafezais após a colheita e também as floradas e o pegamento dos chumbinhos – que foram considerados excelentes. Algumas lavouras das regiões do Espírito Santo e de Rondônia, inclusive, já estavam na fase de enchimento de grãos em dezembro. Assim, muitos agentes esperam produção semelhante ou superior à de 2018/19.
Vale lembrar que boa parte dos países compradores do café nacional se abasteceu em 2018/19, devido à maior safra no Brasil e nas demais nações produtoras. Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), a temporada 2018/19 deve registrar novo recorde, de 171,16 milhões de sacas. A Colômbia deve produzir 13,8 milhões de sacas de arábica em 2018/19 e o Vietnã, 30,4 milhões de sacas de robusta. Com isso, os estoques globais podem se recuperar, terminando a temporada em 32,82 milhões de sacas, quantidade 11,6% maior que a da safra anterior.
Apesar da oferta elevada em 2018/19 e das boas expectativas para 2019/20, alguns fatores ainda podem impulsionar as cotações nos próximos meses. Além da influência do El Niño no início de 2019, tanto no Brasil quanto em outros países produtores, a possível maior incidência de broca nas lavouras e de menor qualidade da safra brasileira em 2019/20 podem reduzir a pressão sobre as cotações neste ano. Porém, esses impactos serão dimensionados apenas após o enchimento dos grãos. Além disso, o USDA estima aumento dos consumos nacional (em 3,1%) e mundial (em 2,8%) de café em 2018/19, também limitando as desvalorizações.
Outro fator a se considerar em 2019 é o menor poder de compra do produtor frente aos insumos utilizados nas lavouras. Até o momento, o maior reflexo desse cenário tem sido o atraso das aquisições e a troca por marcas mais baratas – porém, produtores seguem realizando, mesmo que parcialmente, os tratos nas lavouras.