Perspectiva Não Elimina Mutação Para “Juro Alto Câmbio Alto”, Inflação é Perversa

Publicado 20.02.2020, 11:00

Há certa euforia com o novo lema, quase um dogma, criado e bem impulsionado pelo governo como fator de influência no mercado financeiro brasileiro que passou a acreditá-lo, que é “juro baixo câmbio alto”, e que na realidade parece ter perdido a coerência sobre a quantificação do que seja câmbio alto.

A intensificação da propagação da ideia passou a ser um forte estimulante a apreciação do preço da moeda americana, que após todo o desastroso cenário de fuga de capitais estrangeiros do país ao longo de 2019, fechou o ano ao preço de R$ 4,01, que nos parecia compatível num país que dispõe de soberbas reservas cambiais em estoque e mecanismos operacionais adequados para que a autoridade monetária possa intervir, sempre que se faça necessário.

A repetência sistêmica do mote (lema/dogma) sem que houvesse a ocorrência de pressões efetivas de demanda no mercado à vista de câmbio, que teve um janeiro com déficit de tão somente US$ 384,0Mi e com fevereiro revelando fluxo cambial positivo de US$ 1,878 Bi até o dia 14 passado, não supre com fundamentos a expressiva alta de 9,22% ocorrida no preço da moeda americana, mas, contudo, ficou cristalino e incontestável o intenso movimento especulativo propagado no mercado futuro de dólar, que valendo-se da ausência incompreendida do BC no mercado desde 26 de dezembro, o que o colocou como aliado da efetivação do movimento de depreciação da moeda nacional, fortalecendo o seu lema/dogma de “juro baixo dólar alto”, foi consolidado.

Ao atingir este preço um pouco acima de R$ 4,38, o BC então fez o que deveria ter feito bem antes de forma previdente, realizou 2 leilões de swaps cambiais tradicionais novos e a reação imediata foi o recuo do preço, formado a partir do mercado futuro de dólar, para o em torno de R$ 4,30, mas na sequência foi retomada a curva de alta reconduzindo o preço da moeda às proximidades do R$ 4,38, novamente.

No mesmo período de 31/12 até a data presente, o dólar se valorizou algo como 3,60% frente a cesta de moedas, deixando transparecer que 9,22% frente ao real é bastante excessivo, o que deixa a moeda nacional como dos piores desempenhos entre as emergentes.

E este poderá ser um jogo conflituoso entre o BC, que agora tem seus receios de que seu estímulo ao “câmbio alto” possa fugir do controle, e os especuladores que são hábeis e desafiadores, e que buscam em fatores externos, como os impactos na economia mundial decorrentes do coronavirus, e dos internos que estão sinalizando menor dinamismo da atividade econômica, para sustentar a manutenção da especulação.

O fato que leva ao debate é o da formação da ideia do que seja “cambio alto” num país que não tem problemas cambiais por ter grande estoque de reservas, diferente do cenário de outros emergentes, em especial da Argentina.

Este é o ponto, qual o fundamento para sustentação do conceito de “cambio alto”. Por que o preço de R$ 4,00 ao final do ano de 2019 não pode ser considerado já o preço do câmbio alto no Brasil?

O conceito parece empírico e aleatoriamente formado e visa objetivamente “contornar” pontos relevantes que o governo não consegue prover de solução no momento.

O setor produtivo não investe porque desestimulado pelo contexto da economia interna, e, não encontra como dinamizar sua atuação no mercado externo, seja por ser pouco competitivo pelo baixo valor agregado tecnológico dos produtos industrializados e custo Brasil elevado afetando a formação dos preços, seja pela queda da demanda e preços das commodities afetadas pelo reatamento das relações comerciais China-Estados Unidos e pela retração consequente das repercussões da crise em torno do coronavírus.

A taxa cambial fora do ponto da curva para mais tenta “driblar” com o “plus da distorção” estes fatores adversos para os quais o país não tem como solucionar, e, em tese, torna competitivo o produto nacional e encarece o produto importado, indo em linha com a ideia de contenção da desindustrialização do país.

Na realidade, se for esta a estratégia pode estar fadada ao insucesso por insustentável, o país precisa sim desonerar suas atividades econômicas, reduzir o custo Brasil, e isto será possível somente com uma Reforma Tributária séria.

Mas, o que deve preocupar é a valorização do dólar ser excessiva ao partir de uma base, no caso R$ 4,01 da virada do ano, que não se tem a convicção de que já não era uma taxa de câmbio alta e a esta se implementar uma elevação intensa induzida por propagação do lema/dogma do juro baixo/câmbio alto, criando um cenário muito propenso a expansão do preço do dólar como fator de impulsão inflacionária.

Então, surge em perspectiva a possibilidade da mutação do lema/dogma e na prática vermos um retrocesso com o “câmbio alto e juro alto”, porque a inflação é implacável e perversa.

O câmbio é um elemento de alta complexidade e de grande influência na economia, portanto não pode haver descuidos, pois os efeitos negativos são de difícil reversão.

E, o pior, já há sinais de divergências sobre esta matéria dentro do governo.

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