Por outro lado, o otimismo foi concentrado na primeira metade do ano, sendo que cerca de dois terços das emissões ocorreram no primeiro semestre. De junho em diante, vimos nossa bolsa local amargar uma queda de 20%, forçando o adiamento ou até o cancelamento de várias das emissões previstas.
Alguns fatores explicam esta deterioração. O súbito aumento da inflação, que parecia ser algo passageiro, se provou mais duradouro e resiliente mundo afora. As seguidas ondas da pandemia, apesar de arrefecidas pelas vacinas, continuam impactando negativamente as cadeias globais de suprimentos e, por aqui, nossas idiossincrasias domésticas contribuíram para piorar ainda mais o cenário. No campo político, a falta de disciplina fiscal e a paralisação das reformas e privatizações aumentaram a percepção de descontrole das contas públicas. E, por fim, a crise hídrica e a desaceleração do consumo culminaram numa redução sensível das perspectivas de atividade para 2022, que combinado à forte alta das curvas de juros resultou neste cenário pessimista
Neste início de 2022, a maior parte dos riscos elencados acima continuam presentes e, apesar de dizerem que o risco causado pelas eleições já estar precificada, obviamente causarão mais volatilidade ao longo do ano.
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Diante deste diagnóstico, suponho que os IPOs que de fato se efetivarem em 2022 se separarão em dois blocos: o primeiro são as empresas que não podem mais esperar, seja por falta de liquidez ou por pressão dos fundos investidos ou por qualquer outro motivo, enquanto o segundo bloco são as teses que, de tão “atrativas”, são pouco impactadas pelo cenário macro. Eu participaria apenas do segundo, mas há aqueles que aceitariam participar do primeiro desde que pareçam uma barganha de preço
Em resumo, é improvável dizer que 2022 será um ano favorável para IPOs. Mas há opções atrativas tanto para empresários que buscam uma emissão quanto para investidores. Neste ano, devemos observar uma atuação crescente dos fundos de private equity, que além de darem liquidez às empresas, também costumam promover melhorias na governança e gestão nas investidas, mimetizando, pelo menos em parte, as vantagens de uma listagem em bolsa. Os bancos de investimento e boutiques de M&A também devem continuar com boa performance, surfando esta previsão de alto volume de transações societárias. Sob a ótica dos investidores, há cada vez mais opções disponíveis fora da bolsa, como em fundos de private equity e venture capital. Vale lembrar que os preços atuais das ações podem apresentar uma boa oportunidade de compra, especialmente para os que objetivam um horizonte mais longo.