A próxima temporada brasileira 2020/21 poderá ser volumosa, segundo a opinião de agentes de mercado consultados pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, devendo somar pouco mais de 60 milhões de sacas. Ainda assim, a produção poderá ser inferior à safra 2018/19, que foi recorde (quase 62 milhões de sacas). Esse cenário atrelado ao maior volume de grão comercializado no encerramento de 2019 podem sustentar os valores do café nos primeiros meses de 2020.
PRODUÇÃO – A possível diminuição na produção se deve ao clima desfavorável até meados de outubro de 2019, quando altas temperaturas e baixos índices pluviométricos resultaram em perdas de flores e, posteriormente, de alguns chumbinhos, tanto nas lavouras de arábica quanto nas de robusta. Além disso, pesquisadores do Cepea comentam que os preços muito baixos em boa parte de 2019 fizeram com que muitos produtores restringissem os tratos nas lavouras em 2019/20 e na florada da safra 2020/21, o que pode limitar a produtividade.
Por outro lado, o retorno de chuvas em novembro e a forte recuperação das cotações nos últimos meses do ano animaram cafeicultores, que retomaram os investimentos na maior parte dos cafezais no final de 2019, contexto que pode auxiliar em um potencial produtivo ainda bom para 2020/21. A colheita de robusta está prevista para se iniciar em abril e a do arábica, em maio.
PREÇOS – As expectativas de menor produção para a próxima temporada e os baixos estoques de passagem da safra 2019/20, por sua vez, devem permitir preços mais remuneradores aos produtores, pelo menos no início de 2020. Pesquisadores do Cepea lembram, no entanto, que os preços mais elevados no final de 2019 estimularam as negociações envolvendo o arábica das safras 2019/2020, 2020/2021 e 2021/2022. Diante disso, parte dos agentes se preocupa quanto à oferta disponível do grão para a comercialização nos próximos meses.
No caso do robusta, a produção recorde em 2019/20 e expectativas de safra 2020/21 ainda volumosa podem dificultar fortes movimentos de alta nos preços da variedade nos próximos meses. Ressalta-se, ainda, que o Vietnã deve colher safra recorde em 2019/20, estimada em 32,2 milhões de sacas pelo USDA (relatório de dezembro/19), o que também pode limitar possíveis valorizações no Brasil. A demanda pelo robusta, contudo, deve seguir aquecida, tanto por parte de indústrias de torrefação quanto para a exportação. Assim, produtores ainda podem conseguir valores remuneradores em 2020.
Pesquisadores do Cepea alertam que a formação de preços para ambas as variedades também irá depender do clima, principalmente no primeiro trimestre de 2020, quando as lavouras do arábica e robusta estarão em plena fase de enchimento dos grãos. Caso o clima siga favorável, as cotações podem continuar em patamares levemente inferiores aos observados no final de 2019, quando registraram forte recuperação. Entretanto, caso as chuvas se tornem irregulares nos próximos meses, as cotações de ambas as variedades podem seguir impulsionadas.