Depois de duas temporadas consecutivas de superávit mundial de açúcar, a safra 2019/20 pode registrar déficit. As esperadas quedas de produção na Índia e Tailândia devem pressionar a produção mundial de açúcar. Assim, a estimativa da Organização Internacional de Açúcar (OIA) é de déficit de 6,11 milhões de toneladas, número que ainda pode ser ampliado, caso as colheitas em importantes produtores asiáticos (incluindo China, Índia e Tailândia) forem inferiores às expectativas.
No Centro-Sul do Brasil, a previsão é de ligeiro aumento na produção de cana-de-açúcar na temporada 2020/21, o que se deve, dentre outros fatores, à maior taxa de renovação dos canaviais, que chegou a 16,2%, segundo levantamento do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), divulgado em novembro/19.
Segundo afirmam pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, um aumento na produção brasileira de cana, contudo, não garantiria maior oferta de açúcar, tendo em vista que o mix deve se manter favorável ao etanol. Desde a mudança da política de preços da Petrobras (SA:PETR4), em julho de 2017, quando os reajustes internacionais de petróleo passaram a ser internalizados, os valores da gasolina e, consequentemente, do etanol e açúcar, vêm sendo bastante influenciados por esse mercado, definindo o mix de produção das usinas.
De fato, espera-se pouca alteração no mix de produção das usinas para a temporada 2020/21 em relação à temporada 2019/20, com pequeno avanço para o açúcar. Segundo a projeção da S&P Global Platts, o mix açucareiro passará de 34% para até 35,5%.
Pesquisadores do Cepea indicam que um fator que poderia estimular um aumento no mix favorecendo o açúcar seria a exportação do adoçante. Nesse sentido, o dólar, que poderá continuar em patamares elevados em 2020, deve seguir impulsionando as exportações de açúcar, mas os preços internacionais do produto precisariam aumentar para reverter a paridade favorável ao etanol, a ponto de se alterar o mix. Além disso, perspectivas de continuidade de preços altos da gasolina devem continuar favorecendo a competitividade do etanol e, consequentemente, a produção desse biocombustível.
Agora, caso a queda na produção mundial do açúcar proporcione suporte às cotações na Bolsa de Nova York (ICE Futures), fundos poderão cobrir suas posições vendidas de forma mais agressiva, elevando os preços do adoçante e aumentando o mix de produção das usinas brasileiras em favor do açúcar. Esse cenário, aliado ao câmbio, por sua vez, deve estimular as exportações brasileiras, que totalizaram 19,2 milhões de toneladas em 2019. As expectativas para a nova safra são de embarques de 19,5 milhões de toneladas, segundo dados da Archer Consulting de dezembro.
Contudo, os elevados estoques de açúcar na Índia têm sido considerados como uma barreira potencial para a melhora nos preços internacionais. O aumento recente nas cotações do adoçante, a desvalorização da rúpia e o subsídio pago pelo governo indiano nas suas exportações resultaram em embarques de 2 milhões de toneladas da commodity desde 1º de outubro/19, início da colheita no país. No entanto, as expectativas são de que a Índia exporte mais de 5 milhões de toneladas até o final da temporada mundial 2019/20, o que deve limitar aumentos nos preços internacionais.
INTERNACIONAL – Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção da Índia deve cair cinco milhões de toneladas na safra 2019/20, para 29,3 milhões de toneladas, devido à menor área cultivada com cana-de-açúcar. Se isso ocorrer, o Brasil se mantém como segundo maior produtor por mais um ciclo. O consumo na Índia pode atingir o recorde de 28,5 milhões de toneladas, devido ao crescimento econômico, o que reduz as perspectivas de aumento de estoque. Na China, a produção de açúcar pode somar 10,89 milhões de toneladas, estável frente à safra anterior. Na União Europeia, a produção de açúcar deverá atingir 17,9 milhões de toneladas na temporada 2019/20, praticamente estável em relação ao período anterior.
NORDESTE – A produção de cana-de-açúcar da safra 2019/20 do Nordeste (iniciada oficialmente em setembro/19) deverá atingir 50 milhões de toneladas, aumento de 12,6% em relação à anterior, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgados em dezembro. Estima-se recuperação de 10,5% na produtividade, devido ao clima favorável. A Conab prevê produção de açúcar de 2,73 milhões de toneladas, alta de 10,4% em relação à safra passada.
Segundo a Conab, em Alagoas, a produção de cana-de-açúcar deve crescer, devido ao aumento de área e ao rendimento maior. A expectativa atual é de 18 milhões de toneladas de cana-de-açúcar colhidas nesta safra 2019/20, aumento de 11,3% em relação à passada. Quanto ao mix, o indicativo é de maior direcionamento ao açúcar em detrimento ao etanol, gerando mais de 1,3 milhão de toneladas do adoçante.
Em Pernambuco, ainda de acordo com a Conab, a perspectiva é que a safra atual apresente incremento na produção em comparação à temporada anterior, de 12,6%, tendo em vista a expectativa na melhoria de produtividade e no aumento de área. A previsão é de 12,9 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Na Paraíba, por sua vez, a área deve se manter em 122,5 mil hectares, mas a produtividade deve crescer quase 20%, com a produção indo para 6,7 milhões de toneladas.