Se você é um pecuarista, não precisa de mais explicações. Se não é, pergunte a um sobre os custos de produção nos últimos anos. A resposta será unânime: “Aumentaram!”
Algum desavisado poderia pensar que é reclamar de barriga cheia, com os preços do boi gordo nestes patamares.
Realmente a alta forte da cotação da arroba do boi gordo no último ano melhorou a situação do pecuarista, com destaque para aqueles que fazem ciclo completo, ou seja, que não dependem da reposição do rebanho.
Mas quem não começou a produzir boi em 2013, que produz há mais tempo, sabe que a pressão dos custos tem apertado as margens e exigido que o pecuarista seja eficiente.
Analisamos a evolução dos custos e preços do boi gordo entre 2000 e 2015.
Custos de produção da pecuária de corte
Desde 2000, os Índices de Custo da Pecuária de Corte da Scot Consultoria aumentaram, tanto para a pecuária de baixa tecnologia, como para aquela mais intensiva.
Os indicadores para a pecuária de baixa e alta tecnologias aumentaram 357,3% e 310,4%, respectivamente, entre janeiro de 2000 e janeiro de 2015.
No mesmo intervalo, a inflação, medida pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), subiu 208,9% e a cotação do boi gordo subiu 257,2%.
Observe que neste intervalo o boi gordo subiu mais que a inflação, o que seria positivo.
No entanto, a inflação nada mais é que a perda do poder de compra do dinheiro.
Como o dinheiro do pecuarista vem da venda dos bovinos e é usado para custear a produção e gerar lucro, é esta relação que importa (custos e receita).
O que compõe a inflação do pecuarista são seus custos, que subiram mais que seu dinheiro, o boi gordo.
Custos de produção
Avaliando as variações de componentes destes custos, percebemos que nem todos foram ruins para o pecuarista. Diversos componentes subiram menos que o boi gordo.
Veja a figura 1.
Exceto pela ureia, todos os componentes de custo que subiram mais que o boi gordo geralmente estão presentes em pecuárias de baixa tecnologia.
Por isto, os custos da pecuária subiram, seja com alta ou baixa utilização de tecnologia. Com a diferença de que a receita em um sistema de alta tecnologia é maior, devido à produtividade superior.
A maior produtividade dilui a depreciação das benfeitorias, pastagens e maquinário entre mais unidades vendidas.
Por exemplo, a depreciação anual destes itens pode ser dividida entre 1,0 mil ou 1,2 mil cabeças. Neste caso, o aumento de 20,0% no giro equivale a uma redução de 16,7% no custo com depreciação por boi vendido.
Com isto, este sistema fica menos susceptível a solavancos de mercado.
O momento atual
O boi gordo está em patamares historicamente bons, o que melhora a relação de troca com insumos.
Entre 2013 e 2014 o menor acréscimo do poder de compra ocorreu para os defensivos analisados na figura 2, cujo aumento foi de 6,1%. Em relação aos concentrados, a melhoria foi de 27,8% para o pecuarista.
O mercado em alta e, dessa forma, o custo com a reposição do rebanho também aumentou e atrapalhou a troca, mas a relação entre a carne produzida neste animal e os insumos utilizados está boa.
Se o pecuarista optou por comprar a recria para terminação, o custo fora da curva (historicamente alto) já foi contraído. Daí em diante a saída é otimizar a produção e vender a maior quantidade de arrobas na fase de alta do ciclo.
Por outro lado, não é hora de entrar na pecuária, via aquisição de matrizes e rebanho, pois a produção tende a ser vendida na baixa.
Considerações finais
A pressão dos custos deu trégua à pecuária nos últimos dois anos, o que não significa que há espaço para ineficiências.
Produzir pouco e ainda ter lucro com boi gordo já foi realidade, mas não é há algum tempo.
O ciclo de alta de preços permite um retorno interessante sobre tecnologias que tenham retorno rápido, assim como o investimento em benfeitorias, pastagens e maquinário, pois a troca está boa.
Entrar na atividade de cria nos tempos atuais, com foco em médio prazo, não é a melhor opção, uma vez que os ativos serão comprados na alta e a produção deverá começar a ser vendida na baixa.
Isto não quer dizer que não se deva usar de maneira eficiente a vacada que já está na fazenda, comendo e gerando custos.
Por exemplo, um touro (com 35 vacas), pode ter seu custo anual rateado por 28 bezerros nascidos (80,0% de natalidade) ou por 24,5 (70,0% de natalidade).
Da mesma forma, cem vacas podem parir 80 ou 70 bezerros, com variações sutis no custo ou manejo, e por aí vai. Com os preços da reposição em alta, um bezerro é bastante coisa.
A pecuária tem se profissionalizado e, como tal, deve ser analisada sem paixão. O pecuarista normalmente sofre deste “mal”, o que não é ruim, mas deve deixá-lo de lado quando pegar a calculadora.