Onde você estava em 1993?
Eu estava sentado numa mesa de operações de um banco de investimentos...
Havia me formado 1 ano antes...
Vivi os anos de hiperinflação brasileira...curioso tentar voltar no tempo...o que lembro é que era tudo muito caótico, os preços subiam todos os dias, planos de combate à inflação eram sucessivos e recorrentes; mas, nada dava certo.
Não me lembro de angústia pelos sucessivos planos; acho que era muito mais ausência de esperança.
Simplesmente a inflação ou hiperinflação fazia parte do meu "dia a dia", assim como do "dia a dia" de todos os brasileiros.
Íamos para os supermercados e enchíamos os carrinhos de compras no início do mês para se proteger um pouco mais da hiperinflação;
Aumento de gasolina era anunciado em "edição extraordinária" na TV GLOBO e era normal todos correrem naquela mesma noite para o posto de gasolina mais próximo a fim de evitar o aumento do dia seguinte; afinal, não seria um aumento de "apenas" 2%,5% ou 10%....muitas vezes era superior a isso.....
Ao longo de todo o meu Curso de Administração de Empresas na UFRJ as leituras de Finanças e Economia sempre foram as mais presentes; assim, pude mergulhar em questões mais técnicas.
Pude mergulhar também em visões, correntes e diagnósticos econômicos diversos.
Acho que ali por volta de 1990 minha "falta de esperança" já amenizara, justamente por conta dessas leituras.
Havia coisas interessantes a fazer, a serem testadas; havia gente no meio acadêmico que poderia "fazer algo",,,,,,,,,minha esperança crescia.
Particularmente, quando lia textos sobre inflação inercial, me empolgava; isso fazia sentido.......intuía que o diagnóstico do tratamento da inflação brasileira era por ali, por olhá-la sob o prisma da "inércia".
Mas os problemas econômicos que atingiam o Brasil eram ainda mais extensos; a inflação talvez fosse o maior deles, ou a consequência deles, ou "causa e efeito ao mesmo tempo.....
Enfim...mas, à medida que avançava na faculdade e nos meus textos, paradoxalmente, minha esperança aumentava, diferente da imensa maioria dos brasileiros.
Acho que é isso...
Esperança...
Hoje, não temos esperança...eu não tenho esperança...
Não tenho esperança de que inflação volte ao centro da meta
Não tenho esperança de que os gastos públicos serão cortados
Não tenho esperança de que os impostos serão baixados
Não tenho esperança de que seremos exportadores de manufaturados, e não de commodities
Não tenho esperança de que a Lei de Responsabilidade Fiscal será respeitada
Não tenho esperança de ver de volta um debate econômico sério, honesto e justo
Não tenho esperança de ver um Presidente da República falando como Presidente da República, e não como membro de um Partido Político
Perdi as esperanças.
Lá no início dos anos 90, quando vi Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, Pérsio Arida, André Lara Resende, Pedro Malan, Edmar Bacha, entre outros, falando pra sociedade brasileira, falando pra "academia", falando para os investidores sobre o Plano Real, lembrava dos meus textos.....
Lá no início dos anos 90, quando vi Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, Pérsio Arida, André Lara Resende, Pedro Malan, Edmar Bacha, entre outros, falando pra sociedade brasileira, falando pra "academia", falando para os investidores sobre o Plano Real, voltava a ter esperança
Ter esperança de que a inflação voltasse a patamares civilizados
Ter esperança de que os gastos públicos fossem cortados
Ter esperança de que pudéssemos ser, essencialmente, exportadores de manufaturados, e não de commodities
Ter esperança de que os gastos públicos fossem menores do que as receitas públicas
Ter esperança da volta de um debate econômico sério, honesto e justo
Ter esperança de ver um Presidente da República falando como Presidente da República, e não como membro de um Partido Político
O Plano Real de Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, Pérsio Arida, André Lara Resende, Pedro Malan, Edmar Bacha, entre outros, foi um marco...
Mais do que isso, trouxe esperança para uma série de coisas e pontos, fossem eles técnicos ou meramente subjetivos e intangíveis.
Voltamos aos anos 80 e início dos anos 90...
Meus textos?
Continuam....Alexandre Schwartsman, Monica de Bolle, André Lara Resende, Mansueto Almeida, Gustavo Franco, Arminio Fraga.
Precisamos resgatar as esperanças perdidas e dilaceradas ao longo de todos esses últimos 5,6,7,8 anos
E não vai ser com o "que está aí" que as resgataremos.....
Precisamos de novas cabeças, nova gente, novos pensamentos, novos diagnósticos, novas visões.
Precisamos de um Novo Plano Real., o Plano Real de 1994.