Meu Fundo IMA-B só perde!
Ao longo deste ano, recebi muitas perguntas sobre o que fazer com os investimentos em Fundos IMA-B.
Eles foram os queridinhos de 2016 a 2019, por conta da excelente performance. Quem olha o histórico do fundo acha que é o melhor investimento disponível no mercado.
Para colocar todos na mesma página, é bom explicar o que é IMA-B.
IMA-B é um índice, criado pela Abima, que inclui praticamente todas as NTN-Bs emitidas pelo Tesouro. NTN-Bs são os títulos conhecidos por Tesouro IPCA+.
Na tabela acima, podemos ver qual é o peso de cada NTN-B (Tesouro IPCA+) dentro do índice.
Como o IMA-B é composto por várias NTN-Bs, a performance do índice reflete a performance das NTN-Bs em geral.
Isso significa que, se você quiser investir em um fundo de IMA-B, você tem que se perguntar: "Eu quero investir em uma NTN-B"?
Nesse gráfico, podemos ver a performance do índice IMA-B (em branco) contra a performance do IPCA+ 2030 com juros (que tem um prazo médio parecido com o da carteira).
Não preciso nem dizer que eles seguem um ao outro, né?
Por esse gráfico podemos ver também que, desde 2016, o IMA-B vinha apresentando uma performance positiva. Mas antes de achar que isso se perpetuaria para sempre, era importante entender de onde vinha essa performance positiva.
As taxas de juros reais dos títulos IPCA+ subiram bem de 2013 a 2015. Isso provocou uma marcação a mercado negativa nesses papéis e uma performance ruim para quem estava investido no ativo. O motivo foi o descontrole inflacionário e o risco fiscal do governo Dilma, que fez o mercado cobrar mais prêmio dos títulos da dívida.
Já em 2016, com o impeachment e as reformas liberais, essas taxas apresentaram quatro anos seguidos de queda, indo para patamares cada vez mais baixos, seguindo uma queda nunca antes vista da taxa Selic.
Já em meados de 2019, eu era bem vocal em dizer que esse período de queda relevante das taxas de juros tinha acabado. Ainda que os riscos desse tipo de operação e de as taxas voltarem a subir ficavam cada vez maiores.
Para os meus assinantes do Renda Fixa PRO, eu recomendava sair de todos os títulos IPCA+, além de todos os Fundos IMA-B (que seguiam a performance desses títulos).
Claro que eu não sabia que as taxas subiriam tanto, nem que o governo Bolsonaro daria uma "Dilmada" no fiscal. Esse tipo de coisa é impossível antecipar.
Porém, eu achei que o risco x retorno estava ruim. Ou seja, não tinha muitas outras boas notícias para sair que fizessem com que as taxas caíssem ainda mais. Por outro lado, qualquer notícia ruim poderia fazer elas voltarem a subir bem.
Isso é extremamente importante para você, investidor: você não necessariamente precisa antecipar o mercado para ganhar dinheiro. Você precisa, principalmente, estar em ativos assimétricos a seu favor, isto é, que tenham o potencial de se valorizar muito e que o risco de perder seja pequeno. Posicionar-se nesse tipo de operação lhe trará retorno financeiro ao longo do tempo.
No meu caso, eu vi o contrário. Os títulos IPCA+ tinham retornos assimétricos CONTRA mim. Ou seja, se eu ganhasse, ganharia pouco. Se eu perdesse, perderia muito. Logo, a solução foi sair desse tipo ruim de investimento.
Quem seguiu essas recomendações não se deu mal em 2020. Note, pelo gráfico, que esses títulos estão rendendo ZERO. Alguns IPCA+ longos estão inclusive rendendo negativo!
Acabou que o governo fez um estímulo fiscal brutal e, como os prêmios dessas taxas estavam muito baixos, o mercado resolveu ajustar as taxas rapidamente para cima, gerando marcação a mercado negativa para os investidores.
Não é prever o futuro, entende? É se posicionar em ativos bons e assimétricos. Essa é a chave.
Ademais, estar nesses tipos de ativos exige uma gestão ativa de suas posições. É preciso comparar o quanto as taxas já andaram, quanto elas carregam de prêmio, qual é a direção do fundamento macroeconômico para então ver como está a assimetria.
Isso não quer dizer de forma alguma fazer day trade ou movimentos frenéticos com as suas posições. Note que o fundamento de queda nas taxas de juros durou quatro longos anos, desde 2016 até 2019. Foi quase meia década sem mudar as posições.
Por outro lado, em 2019 tivemos que fazer mudanças.
Da mesma forma que eu usei o cenário macro para alterar as posições em Renda Fixa, no Renda Fixa PRO, eu também usei o cenário macro para alterar a alocação de ações na carteira ao longo da pandemia em 2020.
Se você assistiu ao meu vídeo "A Vingança das Sardinhas", do dia 4 de junho, viu que eu dizia que era a hora de investir na bolsa! O Ibovespa estava a 88 mil pontos quando gravei o vídeo e, em pouco menos de dois meses, ele chegou a incríveis 106 mil pontos, com uma valorização de 20 por cento.
Essa valorização rápida, juntamente com notícias negativas em relação ao fiscal, acendeu uma luz amarela na minha cabeça e, em 18 de agosto, publiquei um novo vídeo intitulado "A Evolução das Sardinhas". Nele, eu pedia calma, dizia que o mercado estava eufórico demais e que havia riscos importantes que estavam sendo negligenciados.
Para os meus leitores do Advisor, recomendei a redução das posições em bolsa, para que eles colocassem no bolso o enorme lucro que obtiveram nos últimos meses. Eu, claro, não sabia o que ia acontecer. Mas pensei novamente no risco x retorno e na assimetria.
A bolsa acabou voltando aos 92 mil pontos, exatamente pelos riscos fiscais.
O que eu quero dizer com isso é que você não precisa ser o gênio do mercado para fazer gestão ativa. Não precisa ficar olhando o mercado 24h e tentando descobrir o que vai acontecer. Não se trata disso, mas sim de olhar as assimetrias e sair das posições de assimetria ruim.
Convido você a conhecer essa forma de investir, que é exatamente a forma que os gestores profissionais usam para fazer seu dinheiro render acima do mercado, além de cobrarem as gorduchas taxas de administração. Você pode fazer isso sozinho! Você mesmo!