A decisão do COPOM veio em linha com as expectativas do mercado financeiro, contudo, a percepção é de que a intensidade das pressões inflacionárias presentes sejam mais intensas do que vêm sendo consideradas, e isto sugere que provoca a alta de 1% estabelecida, elevando a SELIC para 5,25%, possa se revelar insuficiente e não provoque as reações esperadas.
Orquestrada a partir de preços administrados e pelo rebote do câmbio alto nos preços das commodities para o mercado interno, a intensidade inflacionário sugere postura mais incisiva e ousada do BC/COPOM para evitar expansão ainda maior.
Evidentemente que o setor produtivo, por sua porta voz CNI, reclama e até afirma que a inflação é de oferta e que a alta do juro pode inibir a recuperação da atividade econômica, e é natural que conteste a decisão, mas é preciso ter que o COPOM tenha um olhar mais cético no enfrentamento deste momento inflacionário, em grande parte causado pela redução excessiva da taxa de juro por longo período, sem a contrapartida da resultante mantida em expectativa.
Ao invés de insinuar que dará continuidade à elevação do juro, entendemos que seria melhor que antecipasse a sua decisão e demonstrasse maior acuidade no trato da situação, antecipando-se ao aumento das pressões, evitando ficar na situação do “cachorro que corre atrás do rabo” e impactando efetivamente nas expectativas.
O câmbio, para o qual alta do juro é antídoto eficaz para a apreciação da moeda local, não repercute com esta reação imediata e se mostra resistente no patamar mais aviltado presente, que já tem ruídos políticos intensos afetando seu comportamento, pela insegurança, e risco fiscal face ao agravamento com a inclusão do pagamento de precatórios no Orçamento de 2022, ano eleitoral que já sugere afrouxamento no rigor de gastos.
Acreditamos que este nível de juro ante a expectativa inflacionária presente poderá inibir a intensificação do fluxo de capitais estrangeiros, ainda que especulativos, para o nosso mercado de renda fixa, e, como a vitalidade da recuperação da atividade econômica ainda é frágil, pode afetar os ânimos quanto a investimentos, comprometendo a dinâmica da Bovespa e seus programados IPOs.
Naturalmente, neste momento não dá para agradar “gregos e troianos”, por isso entendemos que o BC/COPOM deveria ter foco imediato de impactar na curva inflacionária, inibindo-a, já que seus efeitos deletérios acabam por atingir, queiram ou não, os preços relativos da economia e afetar o setor produtivo, a renda e a geração de empregos de forma contundente direta e indiretamente.
Este fato pontual tende a inibir o fluxo de investidores estrangeiros para o país como estava se projetando, pois com a inflação mais aquecida do que a elevação do juro, o ambiente para operações de “carry trade” fica inseguro.
Em realidade, não aguardamos mudanças significativas na formação de preços dos ativos no mercado financeiro, porém é inegável que, sem fluxo externo para renda variável pelo efeito sobre a dinâmica da atividade econômica, a Bovespa perca dinamismo, ao mesmo tempo em que o dólar não repercuta a alta do juro como antídoto a sua alta.