Por Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos
O mês de novembro continuou instável para os mercados financeiros no Brasil, refletindo a continuidade da crise política e econômica pela qual passamos. O Ibovespa caiu -1,53%, o índice Small Cap caiu -2,29%, o dólar recuou -1% e os juros de dez anos ficaram em 11,30% a.a., recuando dos patamares máximos.
No mercado de ações, mais especificamente, continuamos a ver vendas de fundos de investimentos com o objetivo de honrar resgates solicitados por investidores. Este movimento fica claro quando vemos a venda insistente de algumas ações de empresas com fundamentos sólidos. Não é uma questão de valor, mas de fluxo de venda.
De um modo geral, o mercado de ações no Brasil parece ter encontrado um nível de preços adequado ao patamar de riscos que vivemos atualmente e interrompeu as quedas mais intensas.
A opção do Governo e do Congresso em romper o teto de gastos através da PEC dos Precatórios, apelidada de PEC do Calote, trouxe impactos negativos para os mercados que, de certa forma, à esta altura, já foram incorporados aos preços. Infelizmente, ouvimos muito uma frase trágica durante o mês: “é melhor um final horroroso do que um horror sem fim”.
Absorvidos os impactos do “furo” no teto e das disputas políticas em torno do orçamento, o foco do mercado no curto prazo deve ser a taxa de inflação. A acomodação dos preços e um sinal de início de convergência da inflação para a meta serão encarados como boa notícia e poderá trazer efeitos positivos de curto prazo aos ativos.
Dos três fatores que mais afetaram as taxas de inflação em 2021, dois deles parecem que podem retroceder e permitir que os índices se acomodem: os preços internacionais das commodities (dão sinais claros de terem atingido o pico) e a estiagem no Brasil afetando preço da energia (as chuvas nas regiões Sudeste e Centro Oeste estão acima da média). O terceiro a nosso ver é o risco político afetando o câmbio, que apesar de certa calmaria momentânea, ainda não dá sinais de acomodação por um tempo mais longo.
Sendo assim, olhando por este prisma, é possível ter períodos melhores para o mercado de ações, uma vez que poderemos ter revisões para baixo da inflação, assim como das taxas de juros ao longo de todo o ano de 2022.
Se no ambiente doméstico, apesar de tudo, é viável ter um clima um pouco melhor (vamos deixar para falar das eleições no próximo artigo), no ambiente internacional, as preocupações tendem a aumentar, à medida que a inflação insistente deve exigir medidas de aperto monetário mais duras por todos os países. Também existe a preocupação com a disseminação de novas variedades do Coronavírus durante o inverno do hemisfério norte.
Esta dificuldade de enxergar prazos mais longos força a maior parte dos investidores a operar eventos de curto prazo no mercado de ações, o que, salvo raríssimas exceções, não traz retornos consistentes e geralmente gera prejuízos aos investidores. Temos visto isso acontecer muito!
Neste momento, temos que nos “agarrar” ao valor das empresas (esquecer um pouco os preços), principalmente daquelas com modelos de negócio sólidos, promissores e bem geridos. É nesta fase de alta incerteza que aquelas oportunidades únicas surgem, aumentando significativamente as chances de retornos positivos no longo prazo.