Nas últimas semanas, o dólar caiu quase 9% versus o real, caindo cerca de 50 centavos (de R$ 5,87 em 8/3 para os R$ 5,34 na quinta-feira -29) e atingido as mínimas nos últimos 2 meses. Muitos estão se perguntando se esta trajetória de queda persistirá e como se posicionar diante disso.
Neste artigo eu vou te ensinar como esse tipo de pensamento pode ser muito perigoso para você e que a queda do dólar não foi por conta de uma melhora na confiança brasileira, mas por conta da desvalorização do dólar mundialmente.
Causas da forte alta do dólar no ano
O ano de 2021 tem sido muito atípico em vários pontos: recuperação da economia americana a todo vapor; aumento dos lucros corporativos subindo cada vez mais (1o tri de 2021 tem aumento de 33% nos lucros comparado ao mesmo período do ano passado); pacotes de estímulos monetários de fiscais nos EUA (entre US$ 5-6 trilhões se forem aprovados); e forte recuperação no emprego americano (taxa de desemprego em 6% versus 14,8% há um ano).
Diante disso, o mercado financeiro olha para o Fed (banco central americano) e diz: "pode parar com esses auxílios aí. A inflação já está vindo forte".
Aí o Jerome Powell (presidente do FED) diz: "fiquem tranquilos, a inflação ainda está muito tímida".
Mercado: "what?"
E assim até o final de março, o mercado não acreditou muito no FED e os juros americanos de 10 anos subiram muito, saindo de 0,9% no início do ano, para 1,75% no final de março. Uma alta impressionante que preocupou os mercados que talvez os juros subiriam demais e comprometessem a recuperação econômica americana.
Quando os juros americanos sobem, a rentabilidade dos investimentos em dólar sobe também, e assim o DXY (índice que mede o dólar versus uma cesta das maiores moedas do mundo) também sobe. E foi isso que aconteceu no mesmo período. Na virada do ano o DXY estava por volta de 89 e saltou para 93,40 no final de março. Um aumento de 5%.
Pode não parecer muito, mas lembre que o mercado de moedas movimenta mais de US$ 5 trilhões por dia. Então é, sim, um grande movimento. E se o dólar sobe 5% versus as maiores moedas do mundo (Euro, Libra Esterlina, Iene japonês, Franco suíço), o impacto versus os emergentes será maior ainda.
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Aliado a isso, o Brasil teve seus momentos de tensão interna ligados à discussão do teto dos gastos. Tudo por conta da aprovação do orçamento da União para 2021, que se arrastava desde o final de 2020. Durante semanas, ficou a indecisão de como o governo faria para incluir os quase R$ 30bilhões que o Centrão exigia para emendas parlamentares. A equipe econômica do ministro Paulo Guedes resistia e indicava ao presidente Jair Bolsonaro para não sancionar, pois romperia os gastos. E o Centrão, irredutível, dizia para o Governo cumprir o acordo e sancionar o orçamento. Com essa preocupação sobre a responsabilidade fiscal, o dólar e os juros subiram fortemente, atingindo 5.88 para o dólar e quase 9% para o DI de 2027 em março.
O que causou a queda desde março
O mercado entendeu que brigar com o Fed é uma tarefa difícil. Eles têm diversas ferramentas para controlar as taxas de juros e munição infinita para intervir nos mercados. Então, após vários comunicados do Powell, o mercado acreditou (pelo menos por agora) que a inflação não preocupa. E assim os juros de 10 anos americanos tranquilizaram.
À medida que os juros americanos caíram, também caiu o DXY, o que fez com que o dólar caísse versus o real.
Em relação ao Brasil, o orçamento para o ano de 2021 só foi aprovado na semana passada. O governo conseguiu retirar do cálculo vários gastos emergenciais (totalizando R$ 247bi) e assim evitando o rompimento oficial do teto de gastos e qualquer chance de abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro por crime de responsabilidade. Entretanto, isso foi mais uma manobra contábil, do que efetivamente uma austeridade fiscal e por isso que os juros brasileiros ainda permanecem muito altos e sem perspectivas de caírem enquanto o governo não equilibrar as contas públicas.
Perspectivas para o futuro
Você sabia que o dólar subiu em 9 do últimos 10 anos versus o real? Isso se dá por conta do risco e inflação brasileira serem maiores que a americana. Nesse gráfico abaixo do JP Morgan (data 31/03) você vê que a moeda brasileira ainda está ligeiramente cara, quando ajustada pela inflação. Ou seja, o dólar não estaria caro no seu poder de comprar, e sim o real que se depreciou muito dado a forte inflação nos últimos 10 anos.
Como nada em linha reta, por vezes veremos muito pessimismo e muito otimismo na cotação dólar real. Entretanto, a tendência de longo prazo ainda permanece de alta, pois ambos risco e inflação brasileira serão maiores. Sendo assim, o investidor que tenta encontrar o timing correto de adivinhar a cotação do dólar tem grandes chances de levar prejuízo no curto prazo, mas no longo prazo, se ele acredita na valorização do dólar, ele tem grandes chances de acertar.
Note que no gráfico abaixo do TradingEconomics o dólar, apesar da tendência de alta, variou dentro do canal ascendente. E a perspectiva para o futuro ainda é a mesma.
Dito isso, o que você acha? Qual a perspectiva do dólar para curto, médio e longo prazo? Deixa aqui embaixo nos comentários.