O resultado do Payroll de julho traz ainda mais volatilidade para o mercado, pois as chances de um aperto monetário maior pelo Fed aumentaram para a próxima reunião, podendo refletir no fortalecimento do dólar, considerando a hipótese de que a economia americana não entrará em recessão nos próximos dois trimestres.
CONFIRA: Projeção da taxa de juros do Fed nas próximas reuniões
A criação de 528 mil empregos não-agrícolas em julho, divulgado pelo Payroll, foi além das expectativas que eram de uma criação de 250 mil empregos no mês, com a taxa de desemprego caindo para 3,5%, com ambos resultados retomando o nível pré-pandemia.
Ou seja, o mercado de trabalho mostra resiliência mesmo diante do cenário de inflação ao consumidor que atinge 9,1% (CPI de junho) e o aperto monetário do Fed, iniciado em março deste ano e que ainda não reflete, de forma efetiva, impactos nos preços e na atividade econômica.
Assim, frente ao duplo mandato do Fed que busca o controle da inflação e o fomento do máximo emprego, os resultados de ambos pressionam para um aperto monetário de maior magnitude na reunião de setembro.
De acordo com a ferramenta de probabilidade da CME group para a próxima reunião do FOMC, há uma semana a probabilidade para um aumento de 50 bps na reunião de setembro estava em 72%, enquanto o aumento de 75 bps era de 28%, dados que corroboram com o recuo do PIB americano pelo segundo trimestre consecutivo.
Fonte: CME group; Data: 05/08/2022
Contudo, após o resultado do payroll, as probabilidades para o aumento dos juros americanos passaram para 70,5% de uma alta de 75 bps e de 29,5% para a alta de 50 bps. Em outras palavras, poderemos chegar ao intervalo entre 3,50% e 3,75% para os juros da maior economia mundial até o fim deste ano. Atualmente, a taxa de juros na economia americana é de 2,25%-2,5%.
Impacto no câmbio
Com a expectativa da taxa de juros chegar na faixa de 3,00% - 3,25% em setembro nos EUA, os títulos americanos passaram a ter uma rentabilidade mais atrativa frente aos títulos dos outros países, acarretando, por aqui, o efeito carry-trade, refletindo na desvalorização da moeda doméstica frente à americana.
Contudo, é importante destacar que o aumento de juros na economia americana enquanto a autarquia brasileira vai sinalizando o fim do ciclo de alta não pode ser visto como único motivo para as oscilações do câmbio, porém, com o aumento das incertezas no cenário doméstico, a menor diferença de juros tende a potencializar o efeito.
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Por fim, diante o cenário exposto acima, a minha expectativa para o câmbio R$/US$ em 2022 se mantém na faixa entre R$ 5,10 - 5,20. Em um cenário de aumento da probabilidade de recessão da economia americana, poderá ser potencializada uma valorização do real. Já a expectativa de uma maior desvalorização da moeda doméstica será baseada em um cenário de turbulência eleitoral, aumentando os riscos institucionais que o mercado de câmbio poderá refletir.