No dia 12 de julho de 2022 tivemos o acontecimento de um evento que não acontecia desde a criação do Euro, em 2002: a equiparação do valor do Dólar ao EURO, ou seja, agora 1 dólar compra 1 euro.
Mas o que levou uma moeda forte como o Euro a se desvalorizar?
Existem vários fatores que levaram a desvalorização do Euro, não somente frente ao real, mas frente a diversas moedas ao redor do mundo:
o primeiro deles é uma consequência indireta da guerra entra a Rússia e a Ucrânia, o fornecimento de gás russo. A União Europeia é abastecida pela Rússia com 40% do seu gás natural, sendo que países como a Alemanha tem 50% de seu fornecimento da Rússia, Áustria, Hungria, Eslovênia e Eslováquia obtêm cerca de 60% de seu gás natural de lá, enquanto a Polônia obtém 80%.
Na manutenção do gasoduto Nord Stream 1, realizada anualmente, houve a paralisação do fornecimento de gás à União Europeia por 10 dias e cogitou-se que o presidente russo não retomasse o fornecimento e isso fez os preços do gás natural subir. Felizmente, passados os 10 dias, parte do fornecimento foi retomado (40%),mas em 27/07 o fornecimento se manteve em apenas 20% para forçar países ocidentais a flexibilizarem as sanções, podendo até ter 100% do seu fornecimento interrompido. Com as sanções diplomáticas que a Rússia vem sofrendo, o gás natural fornecido por eles se tornou uma arma de "troca" que poderá ser utilizada a qualquer momento para interromper o fornecimento e obrigar certos países a flexibilizarem os embargos.
Essa dependência do gás natural de um único país acarreta também no aumento da inflação, pois quando há muita demanda por um determinado produto e pouca oferta os preços daquele produto disparem -- e isso impacta no bolso dos cidadãos, fazendo com que a inflação suba e consequentemente desvalorize a moeda.
União Europeia e Estados Unidos sofrem hoje amargamente com a inflação com números nunca antes vistos nos últimos 40 anos. Para vocês entenderem, a inflação na União Europeia hoje acumulada nos últimos 12 meses atingiu os 9,6% enquanto que nos EUA temos uma inflação de 9,1% acumulada nos últimos 12 meses, tudo isso sendo reflexo da pandemia, preço das commodities, cadeia de suprimentos e a guerra.
Para conter a inflação, os países usam como uma de suas políticas monetárias a elevação de suas taxas de juros. Em março deste ano (2022) o FED (Banco Central Americano) elevou pela primeira vez desde dezembro de 2018 sua taxa de juros em 25bps (0,25%), em maio, tivemos outro aumento de 75bps (0,75%), em junho, mais um aumento de mesma magnitude e na data de hoje (27/07/2022), espera-se que haja mais um novo aumento de 75bps (0,75%) e isso faz com que a moeda norte americana fique mais forte.
Na União Europeia, o Banco Central Europeu que operava com taxa de juros negativa (-0,50%), decidiu por um primeiro aumento em 11 anos de 50bps (0,50%), e agora operam com uma taxa neutra (0%). Esse atraso no aumento da taxa e os constantes conflitos na região fizeram com que o Euro se desvalorizasse e se equiparasse a moeda americana, isso se traduz em investidores se desfazendo de suas posições em Euro e se protegendo com posições em Dólar. Há um forte temor que a elevação das taxas de juros na União Europeia acelere o processo de recessão daquela região que já não estava com números satisfatórios mesmo operando com taxa negativa.
No acumulado anual, temos uma valorização do Dólar frente a outras moedas de 14% enquanto o Euro sofre com uma desvalorização de 11,5% frente ao dólar.
Os números mostram que as regiões começaram com processos de desaceleração econômicos vindo com indicadores abaixo das expectativas, nessa preocupação as pessoas tem procurado se proteger comprando mais moeda americana e isso faz com que ela se valorize. A medida que o FED aumente as taxas de juros aumenta também há debandada de capital de outros países para os EUA.
A guerra já dura 5 meses e não dá sinais de que vá terminar por tão cedo, o que podemos fazer no momento é torcer para que o conflito se resolva, que tenhamos mais pessoas vacinadas e que as economias encontrem formas alternativas de se manterem sem depender tanto de seus parceiros econômicos.
Gosto sempre de lembrar que assim como na dependência de gás natural da Rússia, no mundo dos investimentos uma carteira diversificada é ideal para que os riscos frente aos ativos sejam diversificados e que mesmo em momentos de crise a sua carteira de investimentos poderá ter uma boa rentabilidade, basta saber diversificar e escolher os ativos corretos.