É como se a semana não tivesse existido. O mercado futuro de açúcar em NY fechou no mesmíssimo nível de sexta-feira passada. Os vencimentos outubro/20 e março/21 fecharam a 11.93 e 12.61 centavos de dólar por libra-peso na semana encurtada pelo feriado de segunda-feira no Brasil (Dia da Independência) e nos EUA (Dia do Trabalho).
Segundo o CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, em seu relatório publicado na sexta-feira com referência à posição dos participantes do mercado na terça-feira anterior, os fundos não-indexados reduziram a posição comprada em 32.433 lotes.
Nesse período em que a redução ocorreu (de terça dia 1º de setembro a terça dia 8 de setembro) o mercado futuro de açúcar em NY caiu 56 pontos. Para pensar: há um mês, os fundos aumentavam suas posições compradas em 54.043 lotes e moveram 77 pontos, ou seja, precisaram comprar 700 lotes para o mercado mover 1 ponto para cima. Agora, na liquidação, a cada 579 lotes liquidados o mercado moveu 1 ponto para baixo, expondo a vulnerabilidade da posição dos fundos tantas vezes aqui cantada em verso e prosa. Ou seja, com quase 20% menos lotes o mercado cai o mesmo tanto que levou para subir.
Comentamos aqui na semana passada que é importante observar com extremo cuidado o comportamento do consumo per capita dos principais países consumidores de açúcar. Os números não são animadores. O crescimento real do consumo, não pelo volume total consumido pelos países, mas – muito mais importante – pela quantidade adicional de gramas de açúcar ingeridas por habitante, nos mostra um quadro preocupante.
Em dez anos, o maior consumidor – a Índia – aumentou o consumo per capita em quase 2 quilos de açúcar por pessoa. A Indonésia lidera nesse período com um acréscimo de 5.6 quilos de açúcar por pessoa no período de dez anos. Rússia, embora esse número possa ser contestado, cresceu 4.3 quilos em dez anos. Paquistão segue a lista com robustos 2.56 quilos de açúcar por pessoa.
Surpreendente na lista é o Brasil, cujo consumo numa década despencou 8.68 quilos de açúcar por pessoa. Pode ser reflexo de uma geração “mais saudável” que elegeu o açúcar como grande inimigo, da melhora da renda média do brasileiro que mudou o padrão alimentar e, também, o fato de que já éramos um consumidor voraz do produto.
Vale lembrar que a indústria alimentícia também diminui a quantidade de açúcar que colocava em produtos como os achocolatados, biscoitos, chocolates, entre outros. O México também reduziu, em dez anos, 2.68 quilos de açúcar por pessoa e, por último, o Egito que surpreendeu com uma queda de 1 quilo apesar de ser – dentre os principais consumidores – o país cuja população saltou mais de 23% nesse período.
Se mantivermos essa queda enorme no consumo mundial, que expandia mais de 2% ao ano no início deste século e hoje está em menos de 0.5% ao ano, ainda sem contar com a fissura no consumo provocada pela pandemia da covid-19, cujos números ainda são uma incógnita, a menos que haja algum fator exógeno ou climático, o estoque mundial está condenado a crescer 2.5 milhões de toneladas de açúcar por ano.
Consumo menor de açúcar, petróleo em baixa no mercado internacional, a demanda de combustíveis definhando no mundo devido à recessão global e um enorme contingente de pessoas trabalhando remotamente, no meio desse conjunto de eventos, torna-se difícil entrever o mercado de açúcar negociando acima de 14 centavos de dólar por libra-peso, mesmo porque, perto desse nível, a Índia se torna um vendedor competitivo no mercado internacional, pronta para descarregar até 6 milhões de toneladas de açúcar.
Essa visão mais restrita na trajetória ascendente de preços pode mudar por um detalhe: a seca que começa a preocupar nove entre dez diretores agrícolas das usinas do Centro-Sul. Esse pode ser o evento que levaria o Centro-Sul a produzir para a próxima safra 2021/22 o mais baixo volume de ATR desde 2009/10. O mercado parece preocupado com isso? No momento, n em um pouco. A recessão pode estar induzindo a todos olhar para o outro lado.
O volume de vendas de açúcar fixadas do Brasil para a próxima safra deve estar se aproximando dos 7 milhões de toneladas de açúcar. O medo de uma eventual seca que pode animar o mercado de NY restringiria o apetite das usinas em continuar essa estratégia. Existem alternativas para não perder os excelentes preços negociados na bolsa de NY (média de R$ 1,541 por tonelada nos meses que correspondem à safra 2021/22) e ainda participar em uma eventual disparada nos preços do açúcar. É hora de a gestão de risco entrar em campo.