A publicação do relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), em que foram disponibilizadas ao mercado as projeções para a safra americana, trouxe boas notícias aos produtores brasileiros. Afinal, a projeção da safra americana foi reduzida de 119,9 para 118 milhões/t.
O principal ingrediente para a essa redução foi o clima. A seca vem castigando regiões produtoras do grão há algum tempo e o stress hídrico de parte da região pode chegar em níveis preocupantes caso São Pedro não colabore com as chuvas no mês de agosto.
Além dos problemas climáticos, outros fatores (não menos importantes) podem colaborar para uma nova alta dos preços do grão no mercado brasileiro, pois os níveis de estoques norte-americanos estão nas mínimas históricas. Isso significa que caso algo dê errado na safra americana eles terão que importar a soja brasileira para suprir a sua demanda. Outro fator que irá influenciar o preço será a própria demanda mundial que está cada vez maior (principalmente a chinesa).
O câmbio sempre tem papel fundamental no preço do grão. Em tempos “normais” o dólar deveria estar em tendência de queda, no entanto o planalto e o risco Brasil não vêm dando margem a isso. Hoje o existente risco fiscal de se alterar as “regras do jogo” e dar calote nos precatórios para aumentar o valor do bolsa família, agora denominado Auxílio Brasil, com fins políticos/eleitorais será desastroso para a já sensível taxa de câmbio.
É fato que a pandemia desestabilizou diversas cadeias de produção em todo o mundo, no entanto aos poucos o mercado vem se adaptando a essa nova realidade. Em tempos de volta da inflação, o agricultor brasileiro precisa se atentar à alta crescente dos seus custos de produção, pois se a soja dobrou de preço nos últimos 2 anos os seus custos de produção também acompanharam essa alta. Em estudo recente a Embrapa já projeta uma elevação do custo de produção dos agricultores de aproximadamente 30% para a safra 2021/2022.
Análises de mercado especulativas aliadas à heurística da disponibilidade (quando memórias recentes influenciam o nosso processo de tomada de decisão) podem levar muitos agricultores e investidores a crerem que em virtude desses fatores a soja terá uma nova escalada de preços, podendo passar dos R$ 200 a saca em 2021. Esse pensamento se baseia na análise dos dados da última década, período em que a soja brasileira sempre apresentou tendência de alta no segundo semestre do ano.
Embora a hipótese faça sentido para alguns é pouco provável que ela se concretize, pois o cenário atual é bem diferente do que ocorreu no passado. É preciso separar possibilidade de probabilidade e, embora isso seja possível, é bem pouco provável que aconteça (a não ser que aconteça uma tragédia na safra americana).
Não devemos ver a soja acima de R$ 200 em 2021 como alguns analistas colocam pois já vivenciamos uma enorme alta do preço do grão este ano, além disso a inflação já vem pesando no bolso dos brasileiros e segundo os próprios dados do USDA os chineses (principais compradores) hoje preferem optar pelo grão americano ao grão brasileiro por uma questão de preço. Se o preço local apresentar uma novo “boom” será um desestímulo à demanda mundial e principalmente à chinesa.
Diante desse cenário é fato que a soja deve apresentar uma nova alta, mas não consigo visualizar a saca ultrapassando os R$ 200 nesse ano. O produtor que optar por “ancorar” sua venda a esse valor pode perder uma oportunidade preciosa de embolsar seus lucros. Aos que querem comercializar o grão e não querem perder uma oportunidade de participar de uma nova alta o hedge é uma boa maneira de garantir uma boa margem e reduzir o risco de preço existente.