Abril foi marcado pela recuperação dos mercados acionários após as fortíssimas quedas de março. Apesar da alta de 10,25% no mês no Ibovespa, tal movimento não foi uniforme e se concentrou de um modo geral em ativos de melhor qualidade, aparentemente menos afetados pela crise causada pelo Coronavírus.
Na realidade, não houve uma razão específica para que a bolsa de valores subisse. Com o cenário ainda bastante desafiador, não existe outra explicação para a alta que não seja um mercado bastante desvalorizado.
A crise da saúde infelizmente segue seu curso e a cada dia surgem novos infectados e mortos. Na economia, aos poucos conseguimos quantificar os gastos necessários para enfrentar a pandemia e o quadro não é nada bom: déficit primário da ordem de 6% do PIB e queda de 5% do PIB em 2020. Além disso, a dívida pública deve atingir o patamar de 90% do PIB ao final do ano. É um quadro muito precário.
O que acontecerá no futuro permanece uma incógnita neste momento, mas vale destacar que o Brasil vive uma situação peculiar em relação ao restante do mundo. Não bastasse as atribulações na saúde e economia, temos acompanhado uma situação delicada na política com o presidente da República partindo para um confronto aberto com o chefe da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, com o STF e com a imprensa. Isto sem falar nas demissões dos ministros Mandetta e Sérgio Moro. Esta instabilidade pode levar a um fracasso na elaboração e implementação de um plano econômico de saída da crise.
Uma vez que seguimos com discussões improdutivas, as dificuldades aumentam e ações de enfrentamento ao Coronavírus são impedidas ou adiadas. A opção pelo conflito entre poderes pode nos levar a uma situação ainda mais complicada do que deveria quando tudo isso terminar. Precisamos de um amplo processo de negociação para que o Brasil consiga tirar vantagem da nova configuração que a economia mundial deve ter no pós-crise.
Mesmo com esse volume grande de incertezas, o investimento em ações de boas companhias deve ser considerado diante das alternativas pouco atrativas existentes, como por exemplo os investimentos em renda fixa. Mas é preciso ser criterioso, observando três qualidades que julgamos fundamentais na hora de escolher as empresas: situação patrimonial estável e sólida, gestão capacitada e um modelo de negócios resiliente e flexível capaz de se adequar rapidamente aos cenários desafiadores que já se apresentaram e devem permanecer no pós-crise.
O mercado de ações deve continuar oscilando em função do fluxo de notícias, mas de forma mais contida do que a observada nos últimos dois meses. Não enxergamos movimentos bruscos tanto para cima quanto para baixo. Em crises passadas, as companhias eficientes sempre ofereceram um porto seguro e, mais que isso, perspectivas de ganhos relevantes no futuro.
Bons negócios!