O dólar registrou uma leve alta ontem, fechando o pregão longe da mínima de R$ 5,4365, com a força internacional do dólar, após dados de inflação dos EUA compensando expectativas de juros ainda mais altos no Brasil. A moeda norte-americana spot teve valorização de 0,21%, fechando a RS$ 5,5024 na venda.
Embora os comentários aqui insistam em me chamar de esquerdista, sou economista especialista em mercado de câmbio e, novamente, digo que contra fatos não há argumento. A questão aqui não é viés político, e sim como está o país e para onde ele vai, e contextualizar isso para quem acompanha o mercado de câmbio. Seja para investidor, seja para quem apenas se interessa pelo assunto, não falo de petróleo, de minério de ferro, ou outras pautas que podem estar muito em evidência, mas apenas do que está impactando a subida ou descida da taxa de câmbio em si.
Aqui no Brasil, a política interfere muito na valorização ou não do real. E como não poderia deixar de ser, a aprovação da PEC dos precatórios trouxe alívio ao mercado. Não por ter sido uma boa solução, mas sim pelo fato de dar um respiro até que a PEC chegue ao Senado, daí à novela recomeça. Mas pela reação do mercado parece que a crença é de que o desfecho seja positivo. A medida é prioritária para o governo, por abrir espaço fiscal para viabilizar o pagamento do novo programa social Auxílio Brasil, embora altere regras do teto de gastos do país, considerado importante âncora fiscal.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender as emendas de relator reforçou a posição do Senado em dificultar o caminho para a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios. Mas os sinais dados pelo mercado financeiro de que a PEC é melhor solução para bancar o novo programa social do governo do que o "plano B" de prorrogação do auxílio emergencial também está sendo ouvida pelos senadores. Esse otimismo ajudou a tirar o dólar da casa dos RS$ 5,60 e rondar RS$ 5,50 e até abaixo disso.
A Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprovou ontem um projeto que abre espaço no orçamento da seguridade social em favor do Ministério da Cidadania no valor de 9,3 bilhões de reais, com o objetivo de custear o Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que vai substituir o Bolsa Família.
O IPCA de outubro acelerou para 1,25%, após ter registrado taxa de 1,16% em setembro. Com o resultado, a inflação acumula alta de 8,24% no ano e de 10,67% nos últimos 12 meses. Trata- se do maior índice para um intervalo de 1 ano desde janeiro de 2016. A chance de o Copom fugir do plano de alta de 1,5 pp do juro e dar um choque ainda maior na política monetária atual é o que está no cenário de fundo para apreciar o real.
O fluxo cambial brasileiro do ano até 5 de novembro ficou positivo em US$ 17,746 bilhões.
Apesar desta dinâmica da Selic favorecer o carry trade, não dá mais para contar com fluxos tão expressivos para o Brasil. Sem âncora fiscal, o país anda mal na foto e, além disso, a era do dinheiro fácil do Fed está acabando.
O impacto sobre a liquidez para os emergentes da normalização da política monetária das grandes economias se soma por aqui às tensões fiscais e eleitorais.
Hoje é feriado nos EUA. A inflação da economia por lá, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), surpreendeu ao apresentar uma alta de 0,9% em outubro. Na base anual, o indicador acumulou alta de 6,2%, também acima das expectativas do mercado de 5,8% e da leitura de setembro de 5,4%. A divulgação dos pedidos iniciais por seguro-desemprego da semana passada nos EUA foi antecipada para ontem, devido ao feriado nos EUA hoje. Os dados vieram levemente acima da previsão dos economistas do mercado e um pouco abaixo do número revisado da semana anterior, segundo dados do Departamento de Trabalho.
O dado de inflação americana acima da projeção do mercado leva a uma reprecificação do prêmio de risco, pois pressiona o Fed. a acelerar o aperto da política monetária, o que leva a uma diminuição do apetite ao risco e, consequentemente, menor disposição dos investidores em se posicionar em ativos arriscados, como ações e ativos de economias emergentes como a brasileira. A previsão é que os estímulos saiam de cena em meados de 2022, enquanto as taxas de juros devem voltar a subir no fim do ano que vem. Número acima do esperado da inflação pode aumentar a velocidade do aperto monetário.
O governo dos EUA divulgou ontem um déficit orçamentário de 165 bilhões de dólares em outubro, número 42% menor do que o rombo de 284 bilhões de dólares de um ano antes, em queda que refletiu o aumento do recolhimento de tributos das pessoas físicas e jurídicas gerado pela recuperação da economia.
Na China, a inflação ao consumidor (CPI) subiu 1,5% em outubro, e o índice de preços ao produtor (PPI) teve alta anual de 13,5%.
Hoje teremos as projeções do Banco Central Europeu e, aqui no Brasil, vendas do varejo.