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Panorama monetário no Reino Unido: Desafios da estagflação e respostas do BoE

Publicado 07.12.2023, 15:00

O panorama econômico do Reino Unido não é muito diferente do da Europa Continental. O fenômeno econômico conhecido como "estagflação" irrompeu o continente europeu, fazendo sentir seus impactos nos mercados globais. No contexto britânico, esse ano apresentou diversas mudanças de paradigmas que foram experimentados no ano passado, com um crescimento pujante por conta da reabertura econômica, com uma inflação monstruosa e a anomia dos bancos centrais europeus, que há muito tempo conduziam a sua política monetária centrada a partir da divisa do Effective Lower Bounds (ELB), não permitiram uma condução linear da política monetária, alinhada com princípios ortodoxos e já experimentados anteriormente pela teoria econômica.

Agora, nesse ano, com a culminação da estagflação - situação econômica caracterizada pela combinação de estagnação econômica (baixo crescimento) e inflação elevada - exige um desafio ainda maior das autoridades monetárias. É evidente que existe um preceito econômico no que tange às relações entre a contração experimentada pela política monetária restritiva e as pressões inflacionárias advindas de choques de oferta.

Enquanto a política monetária restritiva controla a demanda agregada através da retirada de liquidez da economia (ou seja, arrefece a atividade através da condução de implantação de condições restritivas em toda a economia e por diversos canais de transmissão), consequentemente, a mesma controla os preços. Logo, podemos dizer que a política monetária restritiva conduz tanto a atividade, quanto os preços para condições análogas. Agora, quando há uma interrupção na cadeia global de suprimentos, como vimos no ano passado, o movimento dos preços é inversamente proporcional ao movimento da atividade. Ou seja, situações onde bancos centrais, como o BoE ou o ECB precisam controlar pressões inflacionárias advindas de choques de oferta se tornam um desafio muito mais difícil do que o controle da demanda agregada com condições exógenas ideias.

Dito isto, podemos considerar que um aperto marginal nas condições de liquidez da economia, significa criar condições ainda piores para um determinado ambiente econômico que já vêm sofrendo por conta dos choques exógenos.

A precificação atual, tanto do mercado, quanto das taxas de juros mais longas do Reino Unido sugerem que as taxas de juros das economias mundiais estão próximas do auge. O que parece condizer com a realidade material do arrefecimento mais amplo da inflação global, com destaque para a sinalização de consecução no que tango o aperto perpetrado pelo Federal Reserve na economia americana. A desaceleração da inflação também é fruto de um crescimento menos acentuado da China, criando uma abundância maior de bens e serviços que fluíram para o mercado global.

Na conjuntura interna do Reino Unido, podemos enxergar um aumento marginal da renda familiar, que, provavelmente, advém de acúmulo anterior ao período de aperto monetário, que, com o arrefecimento da inflação, a deterioração do capital acumulado se tornou mais lenta, proporcionando um "respiro" em meio a um cenário de pressão das finanças. As taxas de juros historicamente altas, tornam o custo de vida mais alto, e esse fenômeno reflete de forma mais pujante no mercado hipotecário, que, como nos Estados Unidos, apesar do recente arrefecimento das taxas longas, ainda continua apertado.

Apesar disso, o risco de crédito continua baixo, uma vez que a autoridade monetária confirma que o sistema bancário britânico está bem capitalizado, possuindo uma liquidez que o proporcionaria tranquilidade, tendo em vista um cenário provável de concretização. Contudo, ainda restam algumas preocupações com modalidades de crédito específicas, como: financiamento para investimentos imobiliários comerciais, buy-to-let (compra de propriedade visando o aluguel para terceiros) e empréstimos comerciais de empresas alavancadas.

O Countercyclical Capital Buffer (CCyB), que é uma ferramenta de política monetária do BoE, foi mantido em sua taxa neutra de 2%. A CCyB é uma ferramenta de política monetária e regulatória que ajusta os requisitos de capital dos bancos com base na fase do ciclo econômico. Durante períodos de expansão, o BoE aumenta essa taxa, obrigando os bancos a manterem mais capital para emergências. Em períodos de desaceleração econômica, o BoE reduz a CCyB, de forma a facilitar empréstimos em momentos de necessidade. Como a CCyB impacta na liquidez dos bancos, podemos considerar que ela impacta diametralmente a SONIA (Sterling Overnight Index Average), que é a taxa interbancária overnight mais utilizada no Reino Unido, diminuindo ou aumentando o custo dos empréstimos para todos os agentes de mercado.

Nesse cenário, o BoE espera que as instituições financeiras utilizem métricas como o LTI (Loan to Income), para o estudo do risco de crédito e avaliação da capacidade de pagamento dos mutuários. O LTI é uma ferramenta essencial que relaciona o valor do empréstimo ao rendimento do tomador, fornecendo insights cruciais sobre a sustentabilidade da dívida. Essa abordagem visa promover uma concessão responsável de empréstimos e mitigar riscos associados ao endividamento excessivo, contribuindo para a estabilidade financeira e para o bom funcionamento do mercado de crédito.

Nesse caso, com o aperto marginal das condições creditícias, o BoE consideraria uma diminuição no CCyB, mas, até o presente momento, com os dados que possuímos hoje, não é possível estabelecer uma previsão mais precisa sobre o comportamento do mercado creditício. Espera-se que o arrefecimento das taxas de juros de mercado por conta das expectativas inflacionárias e das condições de liquidez conduzam o mercado hipotecário e creditício para patamares mais salutares.

Já estamos observando uma mudança de paradigma por conta desses efeitos acomodatícios de ancoragem das expectativas inflacionárias em patamares mais brandos. Com o arrefecimento das taxas, já conseguimos vislumbrar um aumento, na base anual, de 8% do crédito ao consumidor em setembro, além de um crescimento de 12,5% nas compras com cartão de crédito. Se foi constatado que o crescimento da renda familiar foi maior do que o esperado, e, além disso, a inflação, que teve seu auge no ano passado, se declinou, podemos dizer que o cenário econômico apresenta indícios positivos de recuperação e estabilidade.

Na prática, o BoE irá continuar com suas políticas já estabelecidas anteriormente de Loans and Deposits (L&D). No que tange a redução do seu balanço patrimonial e as práticas de Quantitative Tightening (QT), o BoE continuará, paulatinamente, a reduzir os seus ativos, revertendo as medidas de Quantitative Easening (QE) que foram estabelecidas durante a pandemia. Além disso, o seu programa de financiamento direto de bancos (Term Funding Scheme) está para ser descontinuado, assim como o APP (Asset Purchase Programme) e o PEPP (Pandemic Emergency Purchase Programme), perpetrados pelo ECB.

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