Caminhamos para um fim de ano pior do que esperávamos. Em que pese a queda das taxas de juros futuros, o dólar continua bem acima do que se esperava – não para nós – e a atividade econômica está em queda, e assim estará por alguns trimestres. O PIB deste ano não atingirá o carry over de 2020 e o de 2022 cairá entre 1% e 2%.
Os juros cederam a partir da interpretação “benigna” da PEC dos precatórios pelo mercado – isto é, uma referência para o fechamento do orçamento de 2022 com menos espaço (?) para a criatividade do centrão - e da sinalização do Copom de alta mais modesta, porém mais duradoura, da Selic.
O viés para a incerteza e a volatilidade é para cima. O Congresso não deve encaminhar qualquer mudança mais relevante para a economia em 2022, mantendo seu foco na campanha eleitoral. Razoável imaginar que o “novo” Congresso encaminhe reformas que o Executivo defina ainda no começo de 2023. Assim, decisões mais graves de investir ficam adiadas.
Com isso, a recuperação do mercado de trabalho continuará lenta e frágil. A desinflação pode reduzir as perdas de renda, mas, acompanhada de juros altos, inibirá a expansão do crédito.
No prazo mais curto, as estratégias dos principais candidatos podem se basear tanto em antecipação quanto em diferimentos de posicionamentos, até eventual segundo turno. Dado o peso que o tema fiscal ganhou nos anos recentes, o cenário mais favorável é que os candidatos consigam reduzir os choques com o mercado ao longo do segundo semestre, ficando o nível de incerteza mais estabilizado no fim do ano. Mas o nível da estabilização fica indefinido.
Mas, como a recessão e o desemprego vão estar na pauta dos debates e embates, o equilíbrio possível entre promessas de campanha para ter votos e ter apoio do mercado (leia-se juros mais comportados) vai ser delicado. Ganha quem tem mais competência política.
Assim como temos um pano de fundo nacional, delineado acima, temos o dominante global. A política monetária americana tem viés de piorar as condições financeiras globais e elevar o risco de instabilidade financeira. As eleições para renovação de parte do Congresso devem prejudicar Biden.
A postura da Rússia e da OCDE (e da União Europeia) pode manter a tensão sobre as commodities energéticas elevada. A China e o Oriente Médio vão continuar incomodando o Ocidente.
A Covid-19 pode afetar as perspectivas econômicas ao atrapalhar a superação dos gargalos na produção e na logística. As exportações chinesas estão exportando inflação, ao invés da deflação verificada em boa parte dos anos 2000. Uma recuperação eficaz demandaria planejamento, no sentido de acelerar o fim dos gargalos.
Em 2018, choques adversos (greve dos caminhoneiros, crise na Turquia e na Argentina, Lula na dianteira das pesquisas) aceleraram a alta do câmbio e dos juros. Um pouco de teimosia e muita de uma facada ajudaram o BCB a manter a Selic. A ver.